Olá, Graça e Paz!
Me
perdoe se te chamo amigo com tanta intimidade, mas é que, mesmo sem
você me conhecer, nem me ter por amiga, eu o tenho como amigo, como
companheiro de longa data e caminhada.
Digamos que uns vinte e cinco anos atrás.... tu passaste a ser meu amigo platônico.
Pois
é, só agora tive a coragem de me revelar. Talvez pela angústia que nos
une em cada livro lido, em cada mensagem. Até aos vinte e sete anos
nascido e vivido no Rio de Janeiro, após dores profundas de morte e
separação, mudei para o interior de São Paulo.
E
foi lá que te conheci... VINDE SAT....aulas de teologia com um telão; e
você, ali, com um sotaque que abafava o meu, discorria sobre a Bíblia; e
eu boquiaberta, engolia cada Palavra.
Meu coração tinha muita sede de conhecimento de Deus, de Jesus, e descobri que havia muita coisa a aprender...
Convivi
contigo através de seus livretos, cada um mais
apaixonante...profundos....e eu te amei... Não como homem e mulher; mas,
como um mestre e sua discípula.
Eu
sorvia tudo que tu falavas e senti confirmado a cada dia a vocação de
também pregar o evangelho. Mas, mulher, viúva, sozinha e mãe de três
filhos...imaginas como me olhavam???? Mas não me importei e corri atrás
do sonho... pregar o evangelho de Jesus. Apesar de assistir as aulas na
Igreja Presbiteriana, eu era membro de outra Igreja também Histórica.
Tive que mudar pra outra cidade (fiquei por lá 5 anos trabalhando e
estudando) pra que a Igreja de lá me enviasse para a Faculdade de
Teologia e me sustentasse até ser nomeada.
Não te via mais no telão, mas, eu te lia.
Até
que tudo desmoronou na sua vida e na minha vida....senti a sua dor na
separação, nos falatórios, nos preconceitos... mas não te abandonei.
Algo
dizia em meu coração que Deus, o inventor do perdão, te levantaria e eu
que buscava te ouvir, te ler, vi o silêncio cair sobre nós...
A
caverna de Adulão foi o lugar que tu habitaste e levaste contigo não só
eu, mas um grupo de pessoas que te amava e sentia o seu deserto...
Perdas...dores
e perdas..... Mas nada é para sempre e tu foste saindo; tentando não
ficar cego com os holofotes dos opressores que te procuravam ainda
querendo te tragar; como diz o nosso amigo salmista Davi, aquele que
também pecou, mas ficou conhecido como o homem segundo o coração do Pai.
Isso pra deixar fariseus doidos hehehehee...
Na caminhada da vida, no caminho da graça te reencontrei.....
Não pessoalmente, pois, não tive essa graça; mas tenho te acompanhado hoje através da net.
Tuas palavras libertadoras me instiga a largar tudo de novo....
Sou uma pastora, pastoreio ovelhas e bodes... Estou ainda na Igreja Histórica, mas meu coração está preso.
Quero me libertar, mas não sei como...
Me acovardei; e tenho perdido os sonhos que faziam com que eu saltasse, me jogasse ao ar...
Estou com os pés pesados, fincados no chão e sofro com isso.
Me ajude amigo!
Com um beijo no coração, aguardo.
________________________________________
Resposta:
Querida amiga: Graça e Paz!
Sei
do que você está falando... Do amor por Jesus que foi ficando
domesticado pela segurança do ministério em uma igreja forte e
histórica; ao mesmo tempo em que o coração vai ficando velho de falta de
sonhos; cansado de tantas Atas sem atos..., que a alegria de ser vai
dando lugar apenas ao “dever cumprido” — o que é uma desgraça para o
coração de quem um dia sonhou com alegria e sem medo.
Sei também do que significa ter filhos e responsabilidades a cumprir.
Sei ainda que há um tempo para todas as coisas debaixo do céu; inclusive para esta carta.
Entretanto, me pergunto:
O que posso dizer a você?
Digo apenas que pregue e pregue; e pregue apenas e tão somente o Evangelho, como ele é.
Ora,
você verá que quando você apenas voltar a ser simples como antes e
pregar o Evangelho da Graça, com todas as suas implicações e sonhos
possíveis, seu coração se alegrará outra vez; e isso lhe trará a certeza
de uma renovação de alma e espírito que lhe farão outra vez saltar como
o boi selvagem e indomesticável pelos homens.
Então,
se tolerarem o Evangelho, você ficará, e ficará alegre; posto que o
importante não é o lugar ou a instituição, mas sim se as pessoas estão
amando o Evangelho e dando liberdade para que ele flua.
Se,
porém, não aceitarem a alegria libertadora do Evangelho, e, por assim
fazerem e sentirem, desejarem coibir sua alegria na simples pregação da
Palavra, com todo respeito, amor e dignidade, saia... —; e, então,
comece a pregar apenas a Palavra; e, desse modo, logo você verá um
grande numero de pessoas que não iam ouvir você lá..., começarem a se
aproximar; ao mesmo tempo em que todos os que amam o Evangelho de Jesus
em sua boca, sem que você os chame ou faça qualquer proselitismo,
aproximar-se-ão de você outra vez.
Entretanto,
como eu disse antes, a coisa não é estar aqui ou lá. Visto que o que de
fato importa é apenas em como o Evangelho esteja em você; se tem em
você liberdade consentida para crescer; e, através de você, para outros.
Isto é tudo o que importa!
Assim,
busque alegria. Quem já viveu o Evangelho como alegria e liberdade para
tudo o que edifica e convém, esse não consegue viver para sempre sem
ser o que sabe ser o chamado de Deus para a vida; ou seja: para ser
Nele.
Portanto,
comece a pregar como quando você era apenas uma menina apaixonada pela
Palavra. Sim! Antes da teologia engessar seu ser e abafar com liturgias
sem vida a alegria simples de sua alma; que por sinal, não gosta de se
repetir...
Era isto que de todo o coração eu senti que deveria dizer a você!
Obrigado por tanto carinho, respeito e amizade; sem proximidade, mas com a intimidade dos que se importam e oram sempre.
Receba meu amor no Senhor!
Com todo carinho, Nele, que nos chama a alegria sempre,
Caio
8 de abril de 2009
Lago Norte
Brasília
DF
Nenhum comentário:
Postar um comentário