sexta-feira, 28 de agosto de 2015

OS MACHUCADOS FILHOS DA GRAÇA-GELOL

A tendência natural da alma é viajar entre pólos, especialmente quando sua conexão com um deles começou como obrigação, convenção, comportamento moral ou mesmo como uma obrigatória rebeldia amoral.

Medo, obrigação, culpa e ódio são em geral as forças que mais pressionam a alma contra um de seus pólos, nesse caso, o pior deles.

Assim, presa como uma lagartixa por alguma força que a pressiona contra a parede do sentir, a alma ali fica, até se despregar por alguma razão (geralmente um tragédia ou trauma), e, deixar-se pendular para o pólo oposto, e lá ficar por um tempo (com sorte), ou para sempre, como muitas vezes é o caso.

Outros vão sendo sacudidos de um pólo para o outro, e como são frágeis e reativos, vão indo e voltando sempre, cada vez mais cínicos, cada vez mais impermeáveis a qualquer coisa.

Alternâncias sistemáticas de pólos dolorosos ou desconfortáveis (como é sempre o caso) acabam por gerar cinismo, pois, ninguém agüenta mudar-se o tempo todo para o pólo oposto. Quando isto acontece, o equilíbrio nunca chega, pois, em tal caso, não se encontra equilíbrio, mas sim o cinismo como estabilidade.

Hoje o que se vê é a viagem Evangélico Coletiva para o pólo do cinismo.

Já se foi e voltou tantas vezes, que a maioria cansou...

É gente que não larga, mas que também não segura.

É gente que diz “amém” para tudo, mas que não faz nada.

É gente que confessa que crê, mas que por tal fé não vai a lugar nenhum...

Isto sem falar nos que foram tão traumatizados com tudo o que lhes sobreveio como engano e opressão religiosos, que, agora, mesmo quando encontram o Evangelho como Palavra e fé, tratam tudo como se tivessem, em razão do engano passado, ganhado um crédito que lhes faculta viver em descomprometida devoção e desinteressado engajamento.

Desse modo, dizem que agora sim; que a Graça agora os alcançou; que enfim ficaram libertos da opressão e do engano. Aleluia.   

Entretanto...

Se antes doaram e dizimaram por medo, hoje nada dão por acharem que se antes dia foram ‘logrados’, agora é a vez deles ‘sonegarem’...

Se antes se engajaram por pavor, hoje natural e justo trocarem qualquer “ministério” por pipoca com coisa nenhuma.

Se antes pregavam, ainda que de modo chato e sem sabedoria, hoje não confessam nada, nem sob tortura.

E mais: querem que tudo seja feito sem esforço e atitude; sem dinheiro e sem engajamento; sem ordem e sem objetivo.

Mas se algo não dá certo, se o que lhes fazia bem já não pode mais ser mantido disponível por falta de recursos financeiros; e se os que realizam essas coisas são discretos e maduros (e esperam que todos saibam o significado de cada coisa e da necessidade de amparo a tudo o que faz bem e realiza o propósito do Evangelho) e nada dizem sobre as dificuldades — com a supressão daquela coisa, ministério ou serviço, ou com sua retirada de sua disponibilidade e acessibilidade a todos, então, todos os “da Graça traumatizada”, logo vêm correndo e querendo saber o que está acontecendo... — e, na maioria das vezes, com ares de cobrança.

Até mesmo muitos dos que aqui me escrevem, e são centenas e centenas de cartas todas as semanas (este site recebe muito mais e-mails do que a Revista Veja), demandam de mim que responda todas as cartas, como se minha existência fosse ficar sentado aqui, de dia e de noite, insone, atormentado como um Gadareno missionário, vendo carta a carta, me revolvendo sobre todas, e lendo-as sem parar, decorando o nome de cada pessoa, e memorizando todos os assuntos, de cada pessoa, e na seqüência...

E se demoro a responder... Ou se nunca respondo por nunca ter visto... Ah! Não queira nem saber... Levo cada bronca. Fico pasmo. É como se eu fosse um sonegador de bênçãos. Nada que eu não conheça de sobra, por assim ter sido, em medida devastadoramente maior, o tempo todo antes...

Mas hoje? Depois de tudo? E ante minha clareza e franqueza em tudo! E ainda assim existem cobranças brabas?!

Sim!  Sempre me choca ver a total falta de percepção acerca de minha situação e de minhas limitações.

Interessante! Quase ninguém quer saber o significado de tudo o que fazemos; quais são as necessidades com as quais lidamos; o que mais poderia estar sendo feito, e o quão mais úteis poderíamos ser...

O salto de qualidade e alcance que poderíamos dar seria inimaginável, tão somente cada um ajudasse, se envolvesse, cresse que se está fazendo algo tão sério que faz Bem (e você é testemunha disto), e que tem o potencial de atingir muito mais gente, se cada um dos freqüentadores e beneficiados deste site, ajudasse como pudesse, inclusive financeiramente.

Aqui no site está dito como contribuir. Está aí. Qualquer um pode achar. Tudo explicado. Mas quantas vezes você que vem aqui todo dia já foi lá? E se foi, em quanto tempo esqueceu? O honesto mesmo é admitir que a maioria quase absoluta ama este site e dele se serve todos os dias; e que ficariam tristes e desolados se ele saísse do ar (eu sei), mas que jamais pensam que para que cada coisinha que aqui acontece seja possível, recursos têm que ser investidos. E mais: que poderíamos estar fazendo muito mais se cada um ajudasse com um pouquinho só, mas que fosse o pouquinho do fiel e perseverante.

Estou dizendo isto sem nem bem saber a razão. É claro que desejaria que muitos acordassem para o que aqui disse. Entretanto, mais do que tudo, apenas senti que pelo menos deveria expressar como me sinto em relação à qualidade de compromisso dos atuais traumatizados filhos da graça-gelol.

E como vejo tal compromisso?

Ora, para mim esse suposto compromisso se manifesta pela sua ausência de compromisso e interesse objetivo e prático nas coisas.

O compromisso dos traumatizados filhos da Graça-Gelol é dizer: “Legal mano! Não precisando de nada, disponha, ta? Graça e Paz!”.

A esses eu digo: “Deus prefere os filhos ‘não’ mais do que os filhos ‘sim’”. Pois os filhos ‘não’ dizem que não vão, mas sempre chegam antes. Mas os filhos ‘sim’, apenas dizem ‘sim’, mas seu ‘sim’ não diz efetivamente ‘sim’ para nada.

Assim, atenção todos os filhos da Graça-Gelol:

Eis que muitos filhos ‘Não’ e muitos fariseus precedem vocês no reino de Deus; pois, mesmo dizendo ‘Não’, levaram Deus muito mais a sério do que vocês, que concordaram com tudo o que Jesus disse, mas não fizeram nada.



Caio


15/05/07
Lago Norte
Brasília

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A intolerância religiosa sob a ótica do direito eclesiástico

Passadas as manifestações calorosas sobre homoafetividade/homofobia, casamento entre homossexuais e as demais nuances que envolvem essas questões, o tema “intolerância religiosa” parece ser a bola da vez.
Note-se que todas essas questões colocam em xeque a liberdade religiosa e, portanto, não é a toa que as discussões a respeito são tão polêmicas.
Falar sobre liberdade religiosa é sempre muito complexo, vez que entramos na esfera de intimidade de cada indivíduo; a fé interior de cada um, a crença que cada um tem é um sentimento particular e inatingível. Não há como impor a alguém crer ou não crer em algo. No máximo, pode-se obrigar alguém a praticar uma determinada religião, mas isso não necessariamente indica que a pessoa crê nisso.
Vivemos num país laico onde a liberdade religiosa impera. Isso significa que não temos que nos sujeitar a uma religião imposta pelo Estado, bem como temos o direito de praticar o culto, de acordo com nossa fé, e, ainda, termos esse nosso direito, protegido. É o que reza nossa Constituição Federal, em seu artigo 5o. inciso VI:  “VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.
Mas, se ao Estado cabe proteger os direitos individuais e coletivos, ao indivíduo cabe a obrigação de respeitar tais direitos, por óbvio. Ora, o desrespeito ao direito à liberdade religiosa, sem dúvida, implica em uma infringência à ordem legal.
Vale ressaltar que a liberdade religiosa não é apenas um direito, mas um complexo de direitos que englobam além da liberdade de crença, o direito ao culto, à organização religiosa e o respeito à religião.
Portanto, quando falamos em intolerância religiosa, estamos diante de várias possibilidades: a ofensa pessoal, a ofensa coletiva, a ofensa subjetiva (relativa a própria fé) e a ofensa objetiva (relativa às práticas de culto e aos objetos sagrados, por exemplo).
São diversas as possibilidades de manifestações de intolerância religiosa e podemos até dizer que no Brasil os fatos envolvendo essa situação sempre foram raros, consequência da própria liberdade religiosa que vivemos.
No entanto, estamos experimentando um novo posicionamento geral da sociedade – que muitas vezes mais nos parece uma perseguição aos cristãos –  em que qualquer opinião contrária ou a própria manifestação de fé pode ser taxada de intolerância religiosa. Por exemplo, se um pastor em um culto manifesta seu descrédito em relação à outra religião, pode ser acusado de fomentar a intolerância religiosa!
Nesse compasso, não seria a alegação da intolerância religiosa um verdadeiro contrassenso  ao direito da liberdade religiosa??
Parece estarmos diante de um impasse. Podemos professar nossa fé, mas ser contrário a outro tipo de fé, não??
Ora, a liberdade religiosa parece encontrar resistência na sua ‘prima’, a intolerância religiosa. O que deveria ser liberdade religiosa, agora surge como intolerância religiosa?!? Como lidar com tal questão? Como mensurar até onde se dá a liberdade religiosa, sem que ela mesma seja tratada como intolerância religiosa, quando a questão em xeque for exatamente a religião??
Há um limiar (muitas vezes subjetivo) que deve ser observado e esse está ligado ao respeito à religião, direito esse protegido pela nossa Constituição Federal, como já dito acima.
No âmbito da liberdade religiosa, há espaço para o respeito mútuo e isso é o que tem sido ignorado. É possível a convivência pacífica entre os diferentes credos; basta cada qual praticar a sua fé e não entrar na esfera de outrem. Mas a realidade está longe de ser essa e as ofensas tem se tornado cada vez mais frequentes. E, muitas vezes, as ofensas vividas acabam sendo suportadas exatamente por receio de que qualquer manifestação contrária seja considerada uma prática de intolerância religiosa.
Mas, de forma prática, diante da ofensa, como pode ser protegido o direito à religião e a manifestação de fé de cada um? Existe base legal para garantir esse direito?
A resposta é SIM.
Nosso Código Penal, em seu artigo 208, tipifica como crime o desrespeito não só a prática de culto, mas à própria pessoa, por motivo religioso. Vejamos:
Art. 208 – Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:
Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único – Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência.
Com base no ordenamento legal em questão, podemos concluir que com a mesma pena que uma pessoa que ofender alguém por motivo religioso, será julgado aquele que perturbar culto religioso. Há, portanto, proteção à fé professada pelo pastor, em um culto, e essa sua manifestação de fé não poderia, portanto, ser taxada de intolerância religiosa, se ela não se der, por óbvio, de forma desrespeitosa à nenhuma outra religião.
Da mesma forma, e com base no mesmo ordenamento legal, podemos tipificar como crime a conduta do cidadão que num evento público achou por bem profanar a figura de Jesus Cristo, crucificado na cruz,  travestido. Ora, ele desrespeitou não só a religião em si, mas, no mínimo, um sem número de cristãos, sejam eles evangélicos ou católicos.
Temos, portanto, que a manifestação de fé de cada indivíduo, ainda que exercida de forma coletiva, merece respeito e possui proteção legal que pode e deve ser aplicada quando houver desrespeito à religião, seja no âmbito pessoal ou coletivo, de modo que a intolerância religiosa deverá sempre ser analisada sob a ótica do Direito Eclesiástico, permeando todas as nuances do direito à religião, abraçadas pela nossa Constituição Federal.

Gospel Prime

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Teologia Arminiana: respostas às objeções calvinistas

Por Flávyo Santos
São muitas as dúvidas levantadas por falsas doutrinas contra a teologia arminiana, especialmente as acusações feitas por teólogos de vertentes do determinismo (Calvinismo). Entretanto, por maior que seja o nosso desejo responder a todas as objeções, não podemos ir além daquilo que está escrito, do que nos foi revelado em Cristo. Existem temas que realmente encontra-se no campo do mistério, insondável (exemplo: a encarnação – Deus homem e a trindade).
Entre os opositores das doutrinas da igreja primitiva temos (em especial) os calvinistas, doutrina que tem raízes em Agostinho mas que se solidificou no século XVI. Estes propõem diversas objeções às doutrinas da graça livre, popularmente conhecida como arminianismo, veremos algumas delas.

OBJEÇÃO 1: Ao defender o livre-arbítrio a teologia arminiana atribui os méritos da salvação ao homem.

RESPOSTA
Esta é uma objeção muito comum e que por vezes é apresentada de outros modos como “a morte de Cristo não salvou a ninguém efetivamente” ou “o centro da teologia arminiana é o livre-arbítrio”. Tentaremos separar as questões quando necessário e responder ponto a ponto, desfazendo os sofismas e as heresias decorrentes.
O cerne da questão é: o fato de homem receber livremente uma dádiva que lhe é oferecida faz dele merecedor desta dádiva? Ou ainda, o fato de tê-la recebido transfere ao homem o mérito pelo bem oferecido? O receber a cura nos faz merecedores dela? Ou por termos sido curados nos cabe repartimos o mérito que pertence ao agente eficaz da cura?
Veremos o que disse Jacabus Arminius:
“Para explicar o assunto empregarei um símile, o qual eu confesso, ainda, é bastante dissimilar; mas sua dissimilitude corrobora grandemente meu parecer. Um homem rico concede, a um pobre e faminto mendigo, esmolas com as quais ele será capaz de manter a sua família e a si mesmo. O fato de o mendigo estender suas mãos para receber as esmolas faz com que elas deixem de ser um presente genuíno? Pode-se dizer com propriedade que “as esmolas dependem parcialmente da liberdade do Doador e parcialmente da liberdade do favorecido,” embora este último não fosse receber as esmolas a menos que ele as tivesse recebido estendendo sua mão? Pode ser corretamente afirmado que, pelo fato o pedinte estar sempre preparado para receber, “ele pode receber as esmolas, ou pode não recebê-las, conforme lhe aprouver?” Se tais asserções não podem ser verdadeiras acerca de um pedinte que recebe esmolas, menos ainda podem ser verdadeiras tais afirmações sobre o dom da fé, pois o recebimento do mesmo exige atos da Graça Divina muito mais sobrepujantes”.[1]
Quem morreu na cruz? Quem pagou o preço? Como pode ser o homem ser digno de honra ou mérito pelo fato de ter recebido um presente de Deus? As acusações advindas desta primeira objeção são nada mais que falsos dilemas.
“Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida. Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça.” Rm 4.4-5

OBJEÇÃO 2: Se Cristo morreu por todos por que todos não são salvos?

RESPOSTA
Esta é uma questão bastante antiga, elaborada pelo calvinista Jonh Owen no século XVII. Ele acreditava ter uma lógica indestrutível e assim demonstrar a veracidade das doutrinas da TULIP (Total depravação, incondicional eleição, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos). Pretendia apresentar uma fundamentação bíblica para a doutrina central do calvinismo, isto é, a expiação limitada, que Cristo morreu somente(exclusivamente) por alguns pré-selecionados incondicionalmente e assim refutar a doutrina de uma expiação oferecida pelo mundo inteiro.
Vamos à síntese dos argumentos apresentados por J. Owen:
“Colocando o assunto desta maneira: ‘Cristo sofreu por todos os pecados de todos os homens, ou por todos os pecados de alguns homens, ou por alguns pecados de todos os homens’. Se a última afirmativa é verdadeira, então todos os homens ainda têm alguns pecados, e, portanto, ninguém pode ser redimido.
Se a primeira afirmativa é verdadeira, então por que não estão todos os homens livres do pecado? Você poderá dizer: “Por causa da incredulidade deles.” Mas eu pergunto: “Acaso a incredulidade é um pecado?” Se não é, por que todos os homens são punidos por causa dela? Se é um pecado, então deve estar incluída entre os pecados pelos quais Cristo morreu. Portanto, a primeira afirmativa não pode ser verdadeira. Assim, é claro que a única possibilidade restante é que Cristo levou sobre Si todos os pecados de alguns homens, os eleitos, somente. Creio que este é o ensino da Bíblia.” [2]
Iremos, para um melhor entendimento, separar os argumentos de Owen.
O que muitos adeptos da teologia calvinista fazem, com relativa frequência, é misturar vários temas, dificultando uma correta compreensão, ou induzindo o raciocínio do leitor. Mas vamos separar as premissas e depois demonstrar o porquê do equívoco desta objeção.
  1. Cristo sofreu por todos os pecados de todos os homens?” Pelo menos é isto que a Bíblia declara:Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” Jo 3.16; “E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.” 2 Co 5.18-19; “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.” Hb 2.9; “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.” 1Jo 2.2;
Entre a interpretação calvinista e o que a Bíblia declara com muita clareza, preferimos ficar do lado das Escrituras;
  1. “Cristo morreu por todos os pecados de alguns homens?” Sim e não, No aspecto efetivo da expiação SIM, e mais adiante explicaremos. Sim, visto que Cristo lavou (definitivamente) somente os pecados daqueles que creram e crerão ainda. Jo 3.15-16 e 36; 6.47; Rm 3.22; E não nos sentidos provisional e representativo, porque Deus proveu um sacrifício em favor da humanidade e lhes deu um representante 100% puro e digno. Em outras palavra, Deus proveu um representante para toda a raça humana e não apenas para alguns homens (pré-selecionados).
  2. “ou (Cristo morreu) por alguns pecados de todos os homens?” Esta hipótese é absurda e deste modo dispensa pormenorizações;
  3. Por fim a confusão lógica da conclusão daquele autor “Se a primeira afirmativa é verdadeira, então por que não estão todos os homens livres do pecado? Você poderá dizer: “Por causa da incredulidade deles.” Mas eu pergunto: “Acaso a incredulidade é um pecado?” Se não é, por que todos os homens são punidos por causa dela? Se é um pecado, então deve estar incluída entre os pecados pelos quais Cristo morreu. Portanto, a primeira afirmativa não pode ser verdadeira. Assim, é claro que a única possibilidade restante é que Cristo levou sobre Si todos os pecados de alguns homens, os eleitos, somente. Creio que este é o ensino da Bíblia.”
O J. Owen contemplou a precisa resposta para a sua própria indagação “por que todos não são salvos?”, a resposta é óbvia “Por causa da incredulidade deles”, então segue a pergunta “Acaso a incredulidade é um pecado?” E aqui temos um dos vários problemas do enunciado. O escritor do movimento puritano apresenta um conceito defectivo sobre o que vem ser o pecado e mais especificamente o “pecado original”. Vejamos o que diz Myer Pearlman:
“O pecado é tanto um ato quanto um estado. Com a rebelião contra a lei de Deus é um ato da vontade do homem, também a separação de Deus vem a ser um estado pecaminoso.” [3]
Como bem asseverou Pearlman existem duas consequências do pecado, realidades: O estado pecaminoso de todos os homens (Gn 2.17; Gn 6.5; Gn 8.21; 1Rs 8.46; Jó 14.4; Sl 51.5; Sl 58.3; Ec 7.20; Is 64.6; Rm 3.10-11; Rm 5.12; Rm 7.18, 23; Rm 8.7;1Co 2.14; Ef 2.3); e a inevitável propensão para o ato do pecado, isto é o pecado em sentido estrito, o cometer pecado. Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá. […]A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele.” Ez 18.4 e 20 “Naqueles dias nunca mais dirão: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram. Mas cada um morrerá pela sua iniqüidade; de todo o homem que comer as uvas verdes os dentes se embotarão.” Jr 31.29-30
Todos nascemos separados de Deus em um estado de rebelião e com a nossa natureza corrompida, isto é uma coisa, um aspecto resultante do pecado de Adão, outra coisa é cometer o pecado, um ato voluntário e individual.
Voltando a questão do Owen, “Acaso a incredulidade é um pecado? Sim, mas no sentido de um estado do pecado e que só pode ser removido pela fé no sangue de Jesus (Rm 3.25; Cl 1.20; I Jo 2.2 e 4.10), mas não no sentido de um ato cometido. A expiação promovida na Cruz expia os nossos pecados cometidos (atos pecaminosos) nos livrando da penalidade consequente e, pela fé, nos reconcilia com Deus, nos fazendo novas criaturas, matando na cruz a antiga natureza pecaminosa, isto é, (e ainda) removendo o estado do pecado, a separação de Deus, nos reconciliando consigo mesmo por meio de Jesus Cristo. I Co 5.17-20.
Assim expusemos um dos erros da questão proposta, o autor puritano mistura o conceito de pecado (ato pecaminoso) com o estado de pecado.
Cristo morreu para que os nossos atos pecaminosos fossem perdoados na Cruz e para remover a separação de Deus, são duas consequências da expiação, mas são realidades distintas. A incredulidade é um estado e não um ato e este estado só pode ser mudado pela ação do Espírito Santo, no gerar de uma nova natureza naquele que crê em Jesus Cristo.
A remoção do estado pecaminoso, isto é da separação de Deus, e a nossa reconciliação individual (2Co 5.18-20) acontece no tempo em que cremos em Jesus, deste modo ainda que a expiação de Cristo seja oferecida por todos os pecados cometidos (atos pecaminosos) de todos os homens, justiça que nos é imputada pela fé, o estado pecaminoso só é removido pelo Espírito, mediante a fé. Ef. 2.8. Não temos o poder de nos fazer filhos ou nos reconciliar com Ele, mas pela fé Deus nos dá esta oportunidade, de sermos feitos filhos de Deus. Jo 1.12.
Outro erro da objeção é a não diferenciação entre proposta/escopo do sacrifício e a sua obra efetiva. Quando o sacrifício de Cristo é proposto é feito pelo mundo todo, como deixam claro os textos que acima citamos e vai até mesmo (em alcance) além do homem, atingindo a redenção da criação (Rm 8.22-24), os céus, a Terra e tudo que existe. (Cl 1.15-20). O exclusivismo expiatório, direito a salvação, era um pensamento comum nos dias de Jesus presente na seita dos fariseus. Mas não era assim no início, por exemplo, a amplitude dos sacrifícios oferecidos por Israel, no que tange aos estrangeiros residentes em Israel. Nm 15.14; Dize-lhes, pois: Qualquer homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros que peregrinam entre vós, que oferecer holocausto ou sacrifício,
E não o trouxer à porta da tenda da congregação, para oferecê-lo ao Senhor, esse homem será extirpado do seu povo.”
 Lv 17.8-9.
Um sacrifício poderia ser oferecido em favor de qualquer homem, natural de Israel ou estrangeiro, mas só gozavam das bênçãos da expiação aqueles que do rito participavam (de algum modo) e/ou somente aqueles que criam. Havia ainda expiação realizada por todo o povo, mas é claro que só desfrutavam da comunhão com Deus, ainda que se oferecesse sacrifício por todos, aqueles que criam nas promessas e que eram obedientes a Deus.
“E disse Moisés a Arão: Chega-te ao altar, e faze a tua expiação de pecado e o teu holocausto; e faze expiação por ti e pelo povo; depois faze a oferta do povo, e faze expiação por eles, como ordenou o Senhor.” Lv 9.7; “Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo.” Hb 7.27 Não há diferenças para o recebimento dos benefícios da expiação, não importa, de fato, se natural de Israel ou estrangeiro, mas depende da fé, o Ap. Paulo explica:“Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus.” Rm 2.28-29
Deste modo, semelhantemente, o sacrifício de Cristo é oferecido provisionalmente pelo mundo todo e de maneira efetiva (bênçãos efetivas) por aqueles que creem no sacrifício substitutivo e pela fé lhe são imputados os benefícios. Esta é a verdade das Escrituras.

OBJEÇÃO 3: Se Cristo morreu por todos então ele não morreu por ninguém efetivamente?

RESPOSTA: Este argumento é um dos mais utilizados por teólogos calvinistas de todas as vertentes, vejamos como é apresentada esta questão:
Packer: “A morte de Cristo não garantiu a salvação para ninguém, pois não garantiu o dom da fé para ninguém (e nem mesmo existe tal dom); o que ela fez foi criar a possibilidade de salvação para todo aquele que crê.” [4]
Anglada: “Outro item da representação arminiana dizia respeito à doutrina da expiação. As Escrituras afirmam que Cristo nos resgatou do pecado morrendo na cruz em nosso lugar, o justo pelo injusto. Pois bem, por quem Cristo morreu? O arminiano crê na expiação geral, na redenção universal, ou seja, que Cristo morreu na cruz por todos os seres humanos indistintamente. Ele crê que a expiação de Cristo não foi individual, mas sim potencial. Cristo não morreu na cruz em substituição a cada um dos eleitos individualmente, e sim de modo geral, por toda a raça humana, permitindo, assim, que Deus perdoasse os pecados daqueles que viessem a crer nele. Desse modo, a doutrina arminiana da expiação apenas tornou possível a salvação de todos, mas não assegurou a salvação de ninguém.” [5]
Acredito que a explicações dos pontos anteriores nos auxiliam a responder os demais, porque todas as objeções orbitam o conceito da expiação limitada, que é o cerne da doutrina calvinista, quando buscam provar que Cristo teria morrido apenas por alguns.
Mais uma vez aqui, por Packer e Anglada, comete-se um erro semelhante ao do item anterior, questões levantadas por J. Owen. Tenho dito aos meus amigos e conhecidos, adeptos da teologia calvinista, especialmente os que adotam as doutrinas da TULIP, que além de logicamente apresentar erros claros em seus pontos centrais U-L-I, o calvinismo é uma teologia rasa que busca uma linearidade nas coisas espirituais. Mostraremos um dos porquês. Vejamos o que Cristo fez na cruz por nós, nas palavras de Stott, aspectos do sacrifício de Cristo.
“É nesse aspecto que a morte de Jesus deve ser corretamente chamada de “representativa” como também “substitutiva”. O “substituto” é aquele que age no lugar de outro de tal modo que torne desnecessária a ação desse outro. O “representante” é aquele que age em favor de outro, de tal modo que envolva esse outro em sua ação. […] Da mesma forma, como nosso substituto, Cristo fez por nós o que não poderíamos fazer por nós mesmos: levou o nosso pecado e o nosso juízo. Mas, como nosso representante ele fez o que nós, estando unidos a ele, também fizemos: nós morremos e ressurgimos com ele.” [6]
Como dissemos, a teologia calvinista é rasa e se prende apenas ao aspecto efetivo da expiação, isto é, a substituição no aspecto penal (somente). Entretanto, ver a expiação exclusivamente deste modo só pode levar ao erro, temos pelo menos 4 (quatro) aspectos que devem ser analisados, dois deles citados acima, o substitutivo e o representativo, e ainda o provisional e o efetivo.
Cristo, em um sacrifício atemporal, considerando o seu exaustivo conhecimento de todas as coisas(presciência), externo e superior ao espaço-tempo, substitui efetivamente todos aqueles que nele creem, creram e crerão (presente, passado e futuro), E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue nos compraste para Deus de toda a tribo, e língua, e povo, e nação; E para o nosso Deus nos fizeste reis e sacerdotes; e reinaremos sobre a terra.” Ap 5.9-10, isto é, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Entretanto, em seu aspecto provisional o sacrifício é oferecido em favor de toda humanidade, por todos e para todos, como dizem as Escrituras. Jo 3.16 e 1 Jo 2.2
Como nosso substituto, Cristo substitui (ao final de todas as coisas) todos aqueles que ao longo da existência humana vieram a crer, mas como nosso representante Ele é aquele que representa a humanidade, que restaura a aliança entre Deus e os homens, o que reconcilia consigo todas as coisas, o que traz ordem à existência e é a razão da paciência de Deus com todos os homens.
“Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.” At 17.30-31 “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.” 2 Pe 3.9
Os deterministas veem e se prendem apenas ao aspecto efetivo (naqueles que creem), considerando a expiação como uma força mecânica em favor de indivíduos pré-selecionados, enquanto as Escrituras demonstram, tanto no AT quanto no NT, que a vontade de Deus é que ninguém se perca (1 Tm 2.4-6) e que Ele não tem prazer na morte do ímpio (Ez 18.23-24), desejando (sinceramente) a salvação de todos. A cruz é liberdade para os que creem e juízo sobre a incredulidade, mas isto é tema para outro estudo.

OBJEÇÃO 4: Acusação de duplo pagamento pelo pecado, isto é, um pagamento efetuado por Cristo e outro pelo ímpio que recebe condenação.

RESPOSTA
Os calvinistas consideram que esta objeção não pode ser respondida ou que ela é de uma lógica inescapável, mas consideramos que a falta de visão e de perspectivas, isto é, a corrente mental provocada pela ênfase nas doutrinas da TULIP, é que faz o calvinista chegar a este pensamento, a uma exegese mal feita dos textos claros em que a Bíblia diz (não sugere, mas diz) que Cristo morreu pelo mundo.
Vamos aos textos.
Anglada: “Aqueles por quem a expiação foi cumprida, por causa da sua natureza penal e substitutiva, não podem sofrer a punição eterna. Deus não exige um duplo pagamento do pecado. Ele não pune os mesmos pecados duas vezes. Ele não pode punir alguém pelos pecados, se as exigências da lei quanto a esses pecados já forem cumpridas. Portanto, a doutrina da expiação particular é uma conseqüência necessária da doutrina da substituição penal. A teoria do governo moral foi desenvolvida exatamente para evitar esta conclusão. Ao negar a doutrina da expiação penal e substitutiva, a natureza da expiação é enfraquecida pelos arminianos, que querem evitar a conclusão Calvinista.” [7]
Sproul: “O arminianismo tem uma oferta que é limitada em valor. Não cobre o pecado dos incrédulos. Se Jesus morreu por todos os pecados de todos os homens, se Ele expiou todos os nossos pecados e propiciou todos os nossos pecados, então todos seriam salvos. Uma oferta potencial não é uma oferta verdadeira. Jesus realmente fez oferta pelos pecados de suas ovelhas. O maior problema com a expiação definida ou limitada é encontrado nas passagens que as Escrituras usam referentes à morte de Cristo “por todos” ou pelo “mundo todo”. O mundo por quem Cristo morreu não pode significar a família humana inteira. Deve referir-se a universalidade dos eleitos (povo de todas as tribos e nações), ou a inclusão dos gentios em acréscimo ao mundo dos judeus. Foi um judeu que escreveu que Jesus não morreu meramente por nossos pecados, mas pelos pecados do mundo todo. Será que a palavra nossos refere-se aos crentes ou aos judeus crentes? Precisamos nos lembrar de que um dos pontos cardeais do Novo Testamento refere-se à inclusão dos gentios no plano da salvação de Deus. A salvação era dos judeus, mas não restrita aos judeus. Onde quer que seja dito que Cristo morreu por todos, algum limite precisa ser acrescentado, ou a conclusão teria de ser o universalismo ou a mera expiacão potencial.
[…]Nunca houve a menor possibilidade de que Cristo pudesse ter morrido em vão. Se o homem está verdadeiramente morto no pecado e preso ao pecado, uma mera expiação potencial ou condicional não somente pode ter acabado em fracasso, como muito certamente teria acabado em fracasso. Os arminianos não têm razão verdadeira para crer que Jesus não morreu em vão. São deixados com um Cristo que tentou salvar a todos, mas na realidade não salvou ninguém. [8]
Os calvinistas misturam tantas questões provocando uma confusão mental nos leitores, mas vamos separar os principais argumentos desta objeção.
  1. Ele não pune os mesmos pecados duas vezes. Ele não pode punir alguém pelos pecados, se as exigências da lei quanto a esses pecados já forem cumpridas.
A superficialidade desta doutrina, no aspecto cristocêntrico, acarreta estes equívocos. Teólogos calvinistas, pelos excertos acima, tratam a condenação do ímpio como um pagamento (transação comercial/pecúnia) pelo pecado ou como uma condenação que “paga” pecados, comparando o estado de condenação com o pagamento (expiação) pelo pecado promovido por Cristo.
Algo claro nas Escrituras é que Deus decidiu soberanamente perdoar os pecados daqueles que creem imputando-lhes a justiça de Deus pela fé (Rm 1.17). Só existe um sacrifício pelos pecados. “Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecadosMas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários.” Hb 10.26-27
Deste modo, quando alguém (algum homem) é condenado ao inferno ele não vai pagar (porque não tem como ser pago) os seus pecados, não existe um purgatório, o inferno não é isto, o que ocorre é que o estado de pecado (separação de Deus) se torna perene e assim o homem é privado do supremo bem por toda a eternidade.
Só há um pagamento pelos pecados, tudo o que o homem recebe é a retribuição por seus próprios erros, sofre as consequências do erro e do estado pecaminoso. Mas nenhum homem, nem nesta vida e nem na posterior, pode pagar (expiar) ou paga pecados, ou nos rendemos e aceitamos o perdão de Deus e a remissão em Cristo ou arcaremos com as consequências da desobediência.
  1. “se Ele expiou todos os nossos pecados e propiciou todos os nossos pecados, então todos seriam salvos”.
As promessas são para aqueles que creem, recebemos os benefícios, os méritos de Cristo pela fé. “Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.” Gl 3.6 “Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.” Rm 4.3”E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.”Tg 2.23
Recebemos a reconciliação quando cremos e só a partir de então ela se torna efetiva individualmente. Jesus Cristo foi sacrificado como uma oferta atemporal e é isto que confunde os deterministas, a atemporalidade da expiação. O fato de Cristo saber todas as coisas, referente àqueles que crerão, não é a causa necessária delas.
Analisando a posição contrária, isto é, por que Deus salva incondicionalmente apenas alguns pré-escolhidos e não a todos? Em “Eleitos de Deus” o calvinista Sproul admite não ter resposta para a pergunta “porque Deus, se a graça é irresistível, não salva a todos?”, vejamos o que ele diz:
“Por que Deus somente salva alguns? Se nós admitimos que Deus pode salvar os homens violentando suas vontades, por que então Ele não violenta a vontade de todos e traz todos a salvação? (Estou usando aqui a palavra violentar não porque eu realmente pense que exista uma violentação errada, mas porque os não calvinistas insistem no termo.) A única resposta que eu posso dar a esta pergunta é que eu não sei. Não tenho idéia por que Deus salva alguns e não todos.
Não duvido por um momento que Deus tenha o poder de salvar todos, mas eu sei que Ele não escolhe salvar todos. Realmente não sei por quê. [9]
É muito claro o fato de que a própria indagação constitui um argumento contrário aos calvinistas, porque a doutrina da expiação limita desfigura o caráter santo, justo e amoroso de Deus, deste modo é melhor abraçar o mistério ou ainda ser sincero como foi R. C. Sproul neste ponto. Por outro lado a teologia arminiana oferece respostas a quase todas as questões cruciais da fé Cristã, até pela sua longa trajetória de grandes nomes defendendo as doutrinas da graça (livre). Os objetores calvinistas esperam que os seus adeptos aceitem irracionalidades sem questionamentos ou mesmo que aceitem impossibilidades lógicas.
  1. “Nunca houve a menor possibilidade de que Cristo pudesse ter morrido em vão.”
Pense conosco: Se qualquer homem, ser racional e finito, pudesse ter por um momento um conhecimento exaustivo (presciente) sobre dado assunto ou questão, como por exemplo, antevisse todos os resultados de todos os jogos do campeonato brasileiro de clubes de futebol deste ano. Seria possível tal homem errar um resultado sobre o campeonato ou apostar errado na loteria esportiva, a menos que quisesse?
Então como Deus, conhecendo tudo e todas as coisas exaustivamente pode perder de algum modo? (Entretanto Deus não faz apostas, é somente para fins de comparação). Como pode ter sua vontade ou desejo frustrado? Como, de algum modo, pode ser contrariado em seu prévio conhecimento? Não há como.
Jesus sabia exatamente por quem e por quantos (aspecto efetivo da expiação) estava morrendo por conhecer de antemão todas as coisas, mas o conhecimento prévio não é a causa motora ou necessária dos acontecimentos, o que demonstraremos no próximo item,
  1. “.., Cristo que tentou salvar a todos, mas na realidade não salvou ninguém”.
Este argumento sugere que “efetivamente”, dado o aspecto provisional da expiação, Cristo não salvou a ninguém em particular, nem garantiu salvação a ninguém.
Mais uma vez podemos perceber que o aspecto atemporal da expiação não é compreendido pelo calvinista. Consideremos assim, se a história da humanidade tivesse sido concluída pouco após a ascensão de Cristo aos céus, isto é, por exemplo, como os tessalonicenses acreditavam que a volta seria muito breve, e logo tivéssemos a ressurreição e o juízo, deste modo todos os Apóstolos e crentes da época seriam os efetivamente salvos. Voltando um pouco mais ainda, se o mundo acabasse no dia da ressurreição, todos os que creram nas promessas (os profetas, os patriarcas e todos os que foram fies a Deus antes de Cristo) foram efetivamente salvos em sua morte e ressurreição. Assim o argumento do teólogo calvinista cai por terra, porque o sacrifício de Cristo foi efetivo para aqueles que creram nas promessas, para os que creram em Cristo naquela época e para todos os que crerão.
O que devemos fazer é dar uma aplicação atemporal do sacrifício, assim como aplicamos àqueles que foram antes de Cristo, morreram crendo nas promessas, foram efetivamente salvos na cruz, os que crerão depois (e Deus já os conhece) também o foram (de certo modo), naquele dia.
OBJEÇÃO 5: Impossibilidade de harmonizar presciência de liberdade de escolha.
Lutero, no início de suas descobertas teológicas, objetou a Erasmo de Roterdão quanto o livre-arbítrio e questionou o conceito de presciência, conforme abaixo segue:
“Porém, quando Deus prevê alguma coisa, ela acontece porque Ele assim previra. Se você não aceita isso, mina todas as ameaças e promessas de Deus. Você nega o próprio Deus. […]se tentarmos provar tanto a presciência de Deus como o livre-arbítrio humano, ao mesmo tempo, teremos problemas – é como tentar demonstrar que certo algarismo é, ao mesmo tempo, um nove e um dez.” [10]
O que Erasmo havia dito? Vejamos:
“(os patrísticos) Eles explicam satisfatoriamente a dificuldade referente à presciência dizendo que ela não impõe uma necessidade à nossa vontade – mas, ao meu ver, ninguém faz isso melhor do que Laurêncio Valla. Com efeito, a presciência não é a causa das coisas que acontecem, pois sucede que temos presciência de muitas coisas que não acontecem porque as conhecemos previamente, mas, muito antes, nós as conhecemos previamente por estarem para acontecer. Assim sendo, o eclipse solar não acontece porque os astrólogos predizem a sua ocorrência, mas eles predizem a sua ocorrência porque ele certamente aconteceria. Em contra partida, a questão da vontade e da determinação de Deus é mais difícil.” [11]
Fazendo como Erasmo, digo que a melhor (mais clara) explicação que encontrei foi a do Dr. R. Picirilli, que abaixo segue:
“Primeiramente, devemos distinguir entre certeza, contingência e necessidade. A “necessidade” precisa ser como é por razões de causa e efeito. A “contingência” realmente pode ser tanto de uma maneira como de outra (ou múltiplas). Não é obrigatório ser como é, mesmo que seja assim. Qualquer decisão livre encontra-se nesta categoria. A “certeza”, no entanto, é o que foi ou é ou será: isto é, um simples fato.
Nota: todos os acontecimentos são certezas (fatos). Alguns acontecimentos são tanto certezas quanto necessidades: as leis da física, por exemplo. Por outro lado, alguns acontecimentos são tanto certezas quanto contingências: se os Flames[time universitário de futebol americano] perderem seu próximo jogo, é certo que perderão (mas somente se perderem), mas o fato de ganharem ou perderem é contingente, dependendo de como eles e a outra equipe jogarem, como o jogo for apitado, etc. No entanto, nenhum acontecimento é contingente e necessário ao mesmo tempo. Todos nós cremos que realmente existem decisões que são contingentes. Podemos realmente escolher fazer de uma maneira ou de outra em muitos tipos diferentes de situações, sejam bobas ou importantes, morais ou não morais. Apesar de Deus saber qual será nossa decisão, seu conhecimento não causa a escolha. Ele conhece as escolhas que faremos somente se realmente fizermos estas escolhas. Ele pode conhecer algo de antemão sem fechar a porta a outras possibilidades.
A comparação do conhecimento de Deus à nossa pode ajudar. Apesar de não podermos conhecer o futuro, podemos conhecer o passado. Por exemplo, eu sei qual foi o terno que vesti hoje pela manhã. Era obrigatório que eu usasse aquele terno? Poderia ter escolhido outro? Claro. É certeza que escolhi este terno? Sim. Ninguém diria que como eu sei que é certo que estou vestindo este terno eu não poderia ter usado outro senão eu estaria enganado! Se eu tivesse vestido outro terno, saberia agora que certamente vesti o outro.
Da mesma forma, o conhecimento de Deus de um acontecimento futuro não é a causa do fato e nem significa que o fato necessariamente tem que ser como será. Ele sabe que os Estados Unidos irão à guerra contra o Iraque somente se, de fato, isto for acontecer. Quando contingências estão envolvidas, decisões livres serão tomadas pelas pessoas quando vier o momento. O conhecimento de antemão de Deus não as causa nem elimina outras possibilidades da mesma forma que o meu conhecimento do passado não causou o acontecimento e nem limitou suas possibilidades. Ele conhece qual a escolha que farei somente se eu fizer a escolha.” [12]
Conforme a exposição acima, a questão que nos resta, e que como já explicamos, é a questão da atemporalidade de Deus e de seu sacrifício, isto é, enquanto ação e propósito. Embora Deus saiba quem são os que serão redimidos e ainda todos os nossos atos, o prévio conhecimento não é a causa dos eventos, mas os eventos ocorrem como previamente conhecidos.

OBJEÇÃO 6: Como pode ser o homem livre se Deus conhece exaustivamente o seu futuro?

O homem é livre em seu cotidiano para agir e escolher conforme a sua necessidade, como bem explicou o Dr. Picirilli, a presciência não é a causa do fato, senão, inevitavelmente todos os atos de pecado seriam atribuídos a Deus, o que deve ser sempre rejeitado.
De regra as falsas teologias confundem certeza com necessidade. Do ponto de vista de Deus todos os fatos são certos, isto é, ocorrem com certeza, mas não necessários, por exemplo as nossas escolhas diárias, tratam-se de atos contingenciais, podem ser efetuados de um modo ou doutro. Deus sabe, desde antes da fundação do mundo, desde a propositura do sacrifício de Jesus nos tempos eternos, quem e quantos seriam remidos por este sacrifício (Jo 17. 24; Ef 1.4; 1 Pe 1.20), mas as escolhas temporais dos homens foram efetuadas por eles mesmos. Cada um dará conta de si mesmo. Rm 14.12.
Espero ter ajudado a esclarecer os pontos e os erros da heresia determinista, demonstrando que uma pergunta mal formulada ou ainda palavras utilizados sem o correto significado não podem resultar em respostas satisfatórias, entretanto, pondo cada assunto em seu devido lugar, de acordo com a sua importância e ordem temática, é possível explicar e responder à todas as objeções contra a sã doutrina ou contra as doutrinas da Graça. [13]
[1] OLSON, Roger. Teologia Arminiana – Mitos e Realidade. Tradução: Welligton Carvalho Mariano. São Paulo: Editora Reflexão, 2013. p. 214.
[2] OWEN, Jonh. Por quem Cristo morreu?. Tradução: Sylvia E. de Oliveira. 3ª Ed. São Paulo: Editora PES, 2011. p. 23-24.
[3] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas Bíblicas. Tradução: Lawrence Olson. São Paulo: Editora Vida, 2009. p. 140.
[4] PACKER, J. I. O Antigo Evangelho. Tradução: João Bentes. São José dos Campos-SP: Editora Fiel, 2013. p. 12.
[5] ANGLADA, Paulo. As Antigas Doutrinas da Graça. Ananindeua-PA: Knox Publicações, 2009. p. 18.
[6] STOTT, Jonh. A Cruz de Cristo. Tradução: João Batista. São Paulo: Editora Vida, 2006. p. 280.
[7] MYATT, Alan.; FERREIRA, Franklin. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Vida Nova, 2002. p. 193.
[8] SPROUL, R. C. Eleitos de Deus. Tradução: Gilberto Carvalho Cury. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. pp. 193-194.
[9] Ibid. p. 26.
[10] LUTERO, Martinho. Nascido Escravo. Tradução: Tiago J. Santos Filho. São José dos Campos – SP: Editora Fiel, 2014. pp. 77-78.
[11] ERASMO, de Roterdã. Livre-arbítrio e Salvação.Tradução: Nélio Schneider. São Paulo: Editora Reflexão. 2014. p. 108.
[12] PICIRILLI, Robert. Palestras Leroy Forlines no Free Will Baptist Bible College, 19-22 de novembro de 2002. Disponível em : <www.globaltrainingresources.net/zip.php?id=44 /> Acesso 02/05/2013.
[13] Todas as citações bíblicas utilizadas são da versão J. F.A Corrigida e Revisada Fiel.