sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Características da falsa piedade

Há um texto interessante no Evangelho de João, em que Judas, o traidor, ao ver Maria, irmã de Marta e Lázaro, ungir os pés de Jesus com Nardo e enxuga-los com seus cabelos, perguntou porque não se vendeu o óleo – muito precioso à época – e o dinheiro se repartiu com os pobres (Jo. 1:1-8). A resposta de Jesus é interessante. Apesar de João, no Evangelho, afirmar que Judas não se preocupava com os pobres, mas queria na verdade roubar a bolsa (pois era o tesoureiro do grupo dos discípulos), o que nos faz imaginar que Jesus deveria saber as reais intenções de Judas, ainda assim ele não responde segundo a intenção maligna do falso discípulo, ou seja, repreendendo-o, mas afirma que o que Maria lhe fizera era fruto de honra e os pobres, se quisessem mesmo ajuda-los, sempre os discípulos os teriam. Não sei de melhor exemplo bíblico acerca da falsa piedade.
Particularmente, penso que só se descobriu que Judas era ladrão após sua morte, do contrário, teria sido destituído da função de tesoureiro ainda em vida. Ninguém teria “provas” contra Judas enquanto ele fora o tesoureiro, portanto. Mas, o que importa mesmo aqui é o ensino sobre a percepção espiritual. A falsa piedade é um mal antigo que sempre esteve presente no meio da Igreja, como um parasita, uma chaga que teima em se manter aberta. O pior é que as pessoas sabem de sua existência e até dos males que provoca, mas poucas pessoas percebem pontualmente sua ação. Contudo, a partir do exemplo de Judas, podemos elencar alguns aspectos do que podem ser sinais indicadores da falsa piedade tentando angariar aliados para seus propósitos funestos.
Uma das características que se nos salta os olhos no texto de “João”, e que parece entrar em consonância com os demais exemplos corriqueiros do mesmo mal, é o fato do falso piedoso falar em nome ou por aparente defesa de determinado grupo. Judas, no caso, falou em nome dos “pobres”. Este foi o grupo escolhido diante do qual pudesse posar de defensor. Mas poderiam ter sido as viúvas, os paralíticos, os leprosos, etc. O grupo em si não importa; o que importa é como é usado. Normalmente, o falso piedoso assenhora-se de determinado grupo, falando em nome do mesmo. Geralmente é um grupo mais necessitado, e por isso mesmo mais suscetível a aceitar as assertivas do falso piedoso: se pobres tivessem ouvido a argumentação de Judas, tenderiam a apoiá-lo de imediato, não sabendo que estavam apoiando, na verdade, um ladrão traidor.
Outra característica importante do falso piedoso é a capacidade de falar as coisas aparentemente certas nas horas certas às pessoas suscetíveis. A Bíblia, no texto, diz-nos simplesmente que “Judas perguntou…”. Bem, com certeza foi a alguém. E é mais certo ainda que sua argumentação foi direcionada a pessoas suscetíveis, ou seja, àquelas que ele sabia, por instinto, que tenderiam a receber, sem nenhum tipo de crivo, a sua crítica. Judas não comenta uma semana depois do acontecido, mas, ao que tudo indica, na hora em que Maria está enxugando os pés de Jesus com seus cabelos.
Ele, provavelmente, perguntou inclusive à própria Maria, pois a principal motivação do falso piedoso é desvirtuar a genuína piedade dos piedosos. Judas ainda tinha um agravante, que era o fato de ser ladrão e, talvez, quisesse que Maria ofertasse algo ao grupo dos discípulos para que ele, depois, roubasse da coleta. Mas, o fato que fica claro é a tentativa de desvirtuar o ato nobre, espiritual e de reconhecimento de Maria da pessoa de Jesus. Os que tentam desvirtuar as boas e nobres ações, sob pretextos diversos e por mais racionais e justificáveis que pareçam, o fazem por sentimentos escusos, sombrios, e não pouparam nada nem ninguém no seu objetivo de concretizá-los.
Por fim, outro sinal do falso piedoso, a exemplo do texto, é justamente parecer piedoso aos olhos de suas vítimas. Sim, como um sociopata, o falso espiritual é alguém que age camaleonicamente. Este tipo de ação, de adequação ao meio, moldando-se àquilo que as pessoas querem ouvir é, se não a maior, uma das maiores e mais fortes facetas de sua personalidade. Sabedor do fato de que nós, seres humanos, temos problemas inerentes à nossa natureza quanto à liderança – principalmente a espiritual -, não é de admirar que os falsos piedosos valham-se desta fraqueza humana para usá-la em benefício próprio.
Na frente das demais pessoas, o falso piedoso é um genuíno defensor dos preceitos cristãos. Aparentemente, suas colocações, suas assertivas e ênfases são vistas como as de uma pessoa que realmente se preocupa com as demais, que estão bem intencionadas e que pensam sempre de forma coletiva. Ledo engano. Suas palavras e ações, se observadas mais acuradamente, dividem, enfraquecem, afastam de alvo divino, fomentam a discórdia, enchem os corações de dúvidas, desconfiança, rancor e, por fim, fazem com que o homem se levante contra o próximo.
A Bíblia nos alerta quanto a este tipo de pessoas, as quais não estão cheias de Deus, mas de si. Engodadas e ludibriadas por elas próprias, mentem para si mesmas, achando que  sempre escaparão da justa condenação de Deus. Enganam-se miseravelmente. O próprio Deus, em sua Palavra, inspirou homens a escreverem sobre o que Ele mesmo sente diante de quem vive assim. Não importa o mal que faça e a quantos engane, o falso piedoso jamais enganará a Deus e, para todo o que age e insiste em continuar vivendo uma espiritualidade enganosa, desprovida do Espírito que aparentemente professa, cabe lembrar das seguintes palavras do livro de Salmos:
“Socorro, SENHOR! Porque já não há homens piedosos; desaparecem os fiéis entre os filhos dos homens. Falam com falsidade uns aos outros, falam com lábios bajuladores e coração fingido. Corte o SENHOR todos os lábios bajuladores, a língua que fala soberbamente, pois dizem: Com a língua prevaleceremos, os lábios são nossos; quem é senhor sobre nós? Por causa da opressão dos pobres e do gemido dos necessitados, eu me levantarei agora, diz o SENHOR; e porei a salvo a quem por isso suspira”, Salmo 12:1-5.
Gospel Prime

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Você está abatido na sua fé?

por Leandro Bueno
O exílio ou cativeiro babilônico é o termo utilizado para chamar o exílio dos judeus do antigo Reino de Judá para a Babilônio, no período de Nabucodonosor II, sendo descrito pelos profetas do Antigo Testamento, Jeremias, Ezequiel e Daniel.
A primeira deportação iniciou-se em 598 a.C., quando Jerusalém foi sitiada e o jovem Joaquim, Rei de Judá, rendeu-se voluntariamente. O Templo de Jerusalém foi parcialmente saqueado e boa parte da nobreza, dos oficiais militares e dos artífices, inclusive o rei, foram levados para o Exílio em Babilônia. Zedequias, tio do Rei Joaquim, foi então nomeado como rei vassalo por Nabucodonosor II.
Ocorre que, 11 anos depois, em resultado de nova revolta no Reino de Judá, temos a segunda deportação em 587 a.C. e a consequente destruição de Jerusalém e seu Templo.
É neste momento de total desespero que Jeremias, mergulhado nas profundezas de sua alma, escreve em Lamentações 3:21, um dos versículos bíblicos para mim mais instigantes, quando disse: Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.
Trazendo isso para os nossos dias, temos vivido tempos maus, onde uma sucessão aparentemente infindável de tragédias e acontecimentos têm deixado muitos atordoados, quando não fraquejados em sua fé, com uma tendência a cair no ceticismo ou viver um cristianismo pautado no cinismo.
Situações como o da tragédia dos refugiados, morrendo ao longo do Mar Mediterrâneo quase todos os dias, com a indiferença de boa parte do mundo. Ou o furacão Matthew que na última semana devastou boa parte do Haiti, passando despercebido pela grande mídia, sem nenhuma comoção como quando mataram os editores do Charlie Hebdo ou da boate GLBT em Orlando. Isso quando várias tragédias pessoas e familiares não se avolumam.
Aí, você começa a se perguntar, se você é daquelas pessoas que realmente se importam na forma como o mundo anda, com coisas do tipo: Qual o propósito disso tudo? Onde estava Deus nestes eventos? O que a minha fé pode dar de resposta a essas tragédias humanas?
E aí, que é essencial, como li recentemente em artigo de Priscila Viégas Duque, que o que não nos deixa sucumbir de vez é lembrar das misericórdias de Deus em nossas vidas, de sabermos quem Ele é em nossa existência.
“As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (v. 22). A palavra misericórdia, que em hebraico é “hesed”, pode ser traduzida por “aliança de amor” ou “amor imutável”. Diante de tanta adversidade, parece muitas vezes que não há mais esperança, mas Jeremias lembrou que a “hesed” de Deus ainda permanecia sobre seu povo.
Ademais, a confiança em Deus nos permite aceitar o que estamos vivendo em nossas vidas e o que virá, sendo que essa atitude não é o fatalismo, como vemos em algumas crenças, mas, sim fé. Ficamos em silêncio não porque não há o que dizer, mas porque sabem que Deus nos atenderá a seu tempo e a seu modo.
Creio que somente quando abrimos esse nosso olhar para Deus é que conseguimos ver além das circunstâncias deste mundo. Se não temos essa visão, nossa tendência natural é cair no ceticismo ou não ver sentido nenhum na sucessão de fatos que vão se amontoando dia após dia. Que Deus possa estar renovando nossa fé. Amém.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Depois entenderás

por João Paulo Souza
Antes da festa da Páscoa, estava Jesus e seus discípulos tomando a Ceia num lugar reservado, quando, de repente, o Mestre levantou-se, tirou sua vestimenta de cima, pegou uma toalha e cingiu-se com ela. Depois colocou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha. Que cena era está? Uma cena típica de um escravo lavando os pés de seus donos. Parece impactante para você essa atitude do Senhor? Creio que sim.
Durante o exemplo humilde de Jesus, Pedro se escandaliza: “Senhor, tu me lavas os pés a mim?” (Jo 13.6). Imagino Pedro pensando: “O Mestre está fora de si! Como pode Ele agir como um escravo? Será que ele não compreendeu que um rabi não pode fazer isso?!” Ao que Jesus lhe disse: “O que eu faço não o sabes tu agora; compreendê-lo-ás” (Jo 13.7).
Teimoso, ao ouvir o que não queria da parte do Deus que tudo sonda e sabe, o discípulo valentão dispara: “Nunca me lavarás os pés” (Jo 13.8). Ao ouvir este desaforo de Pedro, o Mestre retruca: “Se eu não te lavar, não tens parte comigo” (Jo 13.8). Após esta dura palavra, o homem que haveria de negar o Filho de Deus por três vezes, arria as “armas”, pedindo para que Jesus lavasse os seus pés, mãos e cabeça: “Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça” (Jo 13.9).
Amados, assim como Pedro, devemos arriar nossas “armas”, e deixar que Cristo governe a nossa vida por inteiro. Ele, o Senhor, sabe o nosso futuro.
À propósito, você já deixou Jesus lavar os seus pés? Ou será que os seus pés ainda estão por lavar? Se você está titubeando na fé, lembre-se das palavras de Jesus: “O que eu faço não o sabes tu agora; compreendê-lo-ás depois” (Jo 13.7).