sexta-feira, 29 de setembro de 2017

SOBRE DIVÓRCIO

Nós lemos Mateus 5: 31 e 32 e pensamos nele com nossas categorias ocidentais, posteriores à predominância política do Cristianismo sobre este lado do planeta, impondo não uma nova consciência, mas apenas uma nova Moral.
Todavia, quase nunca levamos em consideração o contexto no qual Jesus disse esta palavra. Naqueles dias, embora a poligamia e a bigamia—tão constantes no Antigo Testamento— ainda existissem, desde o exílio em Babilônia que ela vinha diminuindo—por questões econômicas, como é obvio! Todavia, ainda que ambas não fossem a norma para a maioria, na prática, no entanto, era ainda uma consciência prevalecente.
Prova disso é que em João 8, no episódio da mulher adultera e Jesus, não se apresenta o “homem” com quem essa “adultera”, adulterara. “Ele”, o homem, estava isento das pedradas. Mas a mulher estava lá, seminua ou nua, exposta a todos.
Portanto, quando Jesus diz que a Lei dizia que um homem poderia des-cartar a sua mulher dando-lhe uma carta de divórcio, Ele falava isto a uma assembléia machista, que praticava isto com muita alegria e facilidade. Tudo era motivo para se divorciar. Literalmente, por qualquer motivo, como vemos em Joaquim Jeremias e outros especialistas ( Mt 19:3)
Isto para não falarmos na briga doutrinária que havia, nos dias de Jesus, entre as escolas de Shamai e Hillel em relação ao tema em questão. Era o reino da banalidade relacional.
Nesse caso, o que Jesus diz, levando-se em consideração o “contexto historio”, é basicamente o seguinte:
1) Se, para vocês, a mulher é adúltera quando trai o seu marido, dando-se fisicamente a um homem, todavia, vocês, os homens, cometem muito mais adultério pelo modo “natural” como olham e desejam mulheres (MT 5: 28);
2) Neste mundo onde o homem “descarta” a mulher—ela sem direitos a mesadas e a patrimônio, estigmatizada pela Moral vigente e, praticamente, entregue a sobreviver como pudesse—a única clausula, de permissão ao divorcio era se a esposa traí-se o marido; ou seja: “... em caso de adultério” (5: 32b). Nessa caso, o homem poderia dar a ela carta de repudio e divorcio. Naqueles dias, mulheres não se divorciavam dos homens. Era a Lei.

3) A razão, portanto, tinha a ver com o estigma que a “repudiada”, a divorciada, carregaria, naquela sociedade, daí para frente. Ao homem era permitido—por qualquer motivo—desamparar a esposa, repudiando-a, e, então, depois disto, era-lhe “lícito” escolher outra mulher e seguir adiante com sua vida. Não era sempre bigamia, mas era sempre uma monogamia sucessiva. Ela era extremamente praticada até que Shamai, um rabino, se levantou contra aquela injustiça, discutindo os “motivos justos para dar uma carta de divorcio”, que, à semelhança de Jesus, para ele, também era o adultério.
Todavia, a preocupação era com o estado de desamparo no qual ficava a mulher repudiada-divorciada, pois, para todos, ela passava a ser fadada a nunca mais amar ninguém e nem ter ninguém, apenas porque alguém não a quis mais, por qualquer motivo.
Esta é a razão pela qual Jesus—após denunciar o adultério subjetivo de todos os homens—diz que a preocupação era com expor a mulher a tornar-se adultera (Mt 5: 32c), e, também com “aquele” que, porventura, à ela se ajuntasse, pois, ele também, passaria a ser visto como o marido da repudiada.
Numa sociedade onde o homem tinha todos os privilégios, incluindo o de ter uma segunda esposa caso a pudesse sustentar, descartar a esposa e entrega-la ao mundo com uma letra R, de Repudiada, escrita na testa, e, ainda, esperar que ela vivesse de vento, expunha-a a tornar-se adultera—fosse pela necessidade de ser sustentada por alguém, fosse pela realidade de ter encontrado alguém. Assim, em Mt 5: 27-28, Ele iguala a todos no nível do adultério subjetivo.
Já em Mt 5: 31-32, Ele nos mostra como uma vítima da dureza de coração de um homem—que descarta e não cuida da vida humana que ao seu lado esteve—pode, numa sociedade regida pela Teologia dos Fariseus, ser ainda mais des-graçada.
O “repudio” do homem tornava a mulher, no mínimo, uma “repudiada” e, no caso dela prosseguir com a vida—sem ter que se entregar à mendicância—,a exporia a ser vista, para sempre, como adultera. Dessa forma, Jesus afirma duas coisas: primeira, a seriedade do vinculo entre dois seres humanos numa relação de casamento; e, a segunda, a possibilidade de que a alma humana pudesse se endurecer tanto, que usasse a do outro, e depois, simplesmente a descarta-se, sem cuidado e sem proteção. Em outras palavras: Jesus não entrou na questão da Lei—até Moisés teve mais de uma esposa—, mas na questão da misericórdia, e, sobretudo, no tema da descriminarão Moral do infeliz; e, também no tema da Teologia dos Fariseus e a sua dureza predatória— suas Leis de causa e efeito da infelicidade—, que, naquele caso, era uma Lei animal, que tratava a companheira como lixo.
E por que digo isto?
Por duas razões:
1) Porque é o que vejo no trato de Jesus com as mulheres de todos os tipos de vida durante os Evangelhos. Quase todas elas vinham de vidas infelizes, mas todas foram absolutamente acolhidas, a Samaritana, inclusive, com seu “companheiro”, acerca de quem Jesus disse: “...chama teu marido e vem cá...”
2) Minha leitura da Bíblia, toda ela, está irremediavelmente ligada à única chave hermenêutica que eu creio que é absoluta: “O Verbo se fez carne”—essa é a chave hermenêutica! Logo é no Verbo Encarnado, Jesus, onde vemos o Verbo virar Vida, em todos os sentidos.
Ora, isto nos leva não a ler o que Jesus disse e , para melhor entender o texto, fazermos uma exegese da passagem. Ao contrário: isto nos leva a ler e ouvir o que Jesus disse, e, ver, nos evangelhos, como Ele encarnou aquele Verbo.
Ora, quando fazemos isto, não temos mais o Evangelho que Jesus falou e nós “interpretamos” como bem desejamos; e o Evangelho que Jesus viveu, que nós usamos para nos inspirar na fé na fé. E esquecemos que são naqueles encontros com a vida que cada um de Seus ensinos—literalmente, cada um deles—, teve sua verdadeira interpretação.
Jesus nunca ensinou aquilo que Ele não encarnou, como manifestação da Graça!
A tentativa de fazer exegese das falas de Jesus, e não levar em consideração como Ele tratou as pessoas pelo caminho, é audaciosa, pois, coloca-nos como “os interpretes da Lei”: com a Chave da ciência debaixo do braço, pondo-nos numa posição na qual Jesus pode ser esquizofrenizado pelas nossas doutrinas e Teologias; ou seja: ensinando uma coisa—geralmente legalista em seus conteúdos—, conforme nós “interpretamos” as falas de Jesus; enquanto, também evangelizamos, falando do modo misericordioso como Jesus tratou com amor os pecadores.
O problema é que, na maioria das vezes, o Jesus que encontra pessoas pelo caminho—gente de todo tipo—, não combina com as “interpretações” que fazemos de Suas Palavras.
Quem é que está com problemas? Seria Jesus um “esquizofrênico”?
Seria Ele como os fariseus, que diziam e não faziam?
Ou como os “interpretes da Lei”, que punham fardos pesados sobre os homens que eles nem com o dedo queriam tocar?
Ou nós é que continuamos sofrendo da doença deles?
Responda-me:
Crendo que Jesus é o Verbo encarnado, como você interpreta o que Ele disse?
À luz dos ensinos de nossos interpretes da Lei? Ou, quem sabe, para o seu próprio bem, conforme o Verbo Encarnado em Jesus!
Jesus é a Palavra sendo interpretada aos nossos olhos!
Afinal, o Verbo se fez carne e habitou entre nós... e vimos a Sua Gloria...!

Caio

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Toda violência é ruim?

O problema do Brasil não é a violência, mas a criminalidade. Nem toda violência é ruim. Mas a violência perpetrada pelo criminoso o é, pois ela não tem finalidade virtuosa já que ele está matando para roubar ou simplesmente porque foi contratado para tal.
Não que os meios violentos devam justificar os fins do salvamento, mas se for preciso se prover de tal, que de tal nos provenhamos. Não estou indo contra a Bíblia no que ela diz que devemos “dar a outra face” (para não se permitir dar-se como causa de escândalo aos que perseguissem aos cristãos por causa da fé cristã), pois não estou defendendo uma conduta violenta, mas uma conduta de defesa de si, da família e do que é seu diante de um criminoso “convicto”.

A mesma bíblia diz que as autoridades “portam a espada não por vã razão” (possibilidade de fazer uso da violência para coibir o criminoso), mas utilizá-la, se preciso for. Uma espada, naquela época, era usada para que os mal-intencionados percebessem que, para atacar alguém armado, lhe seria mais trabalhoso, pois a potencial vítima tinha como se defender.
A espada também era usada, quando numa porfia bélica, para ferir é até mesmo matar quem tentava lhe fazer o mesmo. Na época em isso (o que está sob aspas) foi escrito na Bíblia, qualquer um podia portar uma espada (Pedro até usou a sua no momento em que os soldados foram prender Jesus). Jesus não mandou Pedro jogar a espada fora, mas mandou que ele a guardasse, como quem diz: “use-a em circunstância propicia, Pedro”.
O fato de um cidadão ou o Estado reagir a uma ação criminosa e ferir ou mesmo tirar a vida do criminoso não o torna um criminoso também, pois ele não foi o agente provocador da violência que culminou numa tragédia (toda morte em decorrência de uma violência é uma tragédia, mas, se necessária, é uma “virtuosa” tragédia, pois se salvou o que se mostrou ser e agir pelo bem naquele momento).
Bandido bom não é bandido morto. Bandido bom é bandido que acata as chances que tem e muda de vida. Não é por que ele, como diria Rosseau (a quem estou me contrapondo), é uma “vítima” das circunstâncias de sua condição social que vai se prover disso, usando seu poder de decisão, para fazer vítimas de sua “vitimicidade”.

Gospel Prime

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Que tipo de fariseu você é?

Segundo a história os Fariseus surgiram aproximadamente por volta do ano 170 a.C., com a perseguição de Antíoco Epifânio. O helenismo ameaçava invadir a religião que cultuava ao Deus verdadeiro para destruí-la e absorvê-la.
Em consequência disso, formaram-se no seio do povo judeu, iniciando pela classe elevada, duas tendências opostas: uma que rejeitava o helenismo com indomável energia, e outra que aceitava com certa moderação as ideias e influências do paganismo. De certa forma o surgimento dos Fariseus foi de grande valia para a época.
O grande erro deste grupo foi o desvio do propósito inicial. Os partidários da primeira tendência foram, então, chamados de “Perushins” (os separados). Sobre suas práticas exageradas escreveu Marcos:
“E ajuntaram-se a ele os fariseus, e alguns dos escribas que tinham vindo de Jerusalém. E, vendo que alguns dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar, os repreendiam. Porque os fariseus, e todos os judeus, conservando a tradição dos antigos, não comem sem lavar as mãos muitas vezes; E, quando voltam do mercado, se não se lavarem, não comem. E muitas outras coisas há que receberam para observar, como lavar os copos, e os jarros, e os vasos de metal e as camas.” (Mc 7.1-4)
O próprio Talmude (um dos livros básicos da religião judaica, contém a lei oral, a doutrina, a moral e as tradições dos judeus [Surgido da necessidade de complementar a Torá, foi editado em aramaico como um extenso comentário sobre seções da Mixná, reunindo textos do sIII até o sV.] ) quis privar-se do maligno prazer de registrar a atitude ridícula de muitos deles: “ Existem sete tipos de Fariseus”:
  • O que aceita a Lei como uma carga
  • O que age por interesse
  • O que bate a cabeça contra a parede para não ver uma mulher
  • O que age por ostentação
  • O que pergunta qual é a boa obra que deve fazer
  • O que age por temor
  • O que age por amor
É praticamente impossível fazer a leitura acima sem aplicar uma conexão com a espiritualidade dos Fariseus do século XXI.
Nossas igrejas são frequentadas por um grupo que  vai às reuniões não porque entendam ser o mínimo que possam fazer em gratidão por tudo o que receberam de Deus, mas para lá se dirigem contrariadas, amarguradas e oprimidas. Tal qual os Fariseus da época de Jesus são crentes escravos, religiosos e desprovidos da alegria no servir.

Gospel Prime

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

"SEU" MATEUS DA CANA QUEBRADA

Mt. 12: 15-21 (De preferência leia todo o capítulo e também o texto de Isaías mencionado por Mateus)

Mateus está olhando para Jesus. No caminho acontece tudo. Milagres e folhas se misturam na passagem Daquele que é, mas que não pode ser reconhecido: aquilo não era conhecido. Só se abriria por revelação. Mateus vê que as pessoas quando encontravam com Jesus sabiam que tinham encontrado com Deus no homem e o homem em Deus em total plenitude. Afinal, aí não há nenhuma polaridade: Deus não é um pólo e o homem outro. Deus é! e o homem é, Nele! Assim, as pessoas saíam familiarizadas com Deus no homem e o homem em Deus – fosse para o bem, fosse para o mal. Os quebrados, estilhaçados, moídos, triturados, comidos, tragados, enganados, aflitos, inseguros, culpados, incorrigíveis, os aparentemente pedrados, os quase mortos e até os mortos, levantavam-se diante Dele; fosse para o bem, fosse para o mal. Para o bem deles e para o mal daqueles que não gostam de cura.

Mateus percebeu que os piores doentes são os que não gostam de cura. Ele fora vítima deles. Sua profissão de tantos anos – coletor de impostos – não o recomendava a não ser entre os picaretas e os políticos. Havia, sobretudo, os sãos. Os absolutamente certos e os literalmente rígidos. Esses eram sadios e por isto não gostavam de cura. Faziam de tudo para que a bondade de Deus não se espalhasse. Era perigoso. Tiraria o poder de suas mãos. Os tiraria de qualquer centro de gravidade que julgassem possuir. Ninguém se sentia mais ameaçado por Jesus que esse pessoal. Eles mesmos, que haviam sido os mantenedores das doenças dos outros apenas para poderem exercer o poder de sua suposta sanidade. Eles é que odiavam cura, é claro. Cura para eles era sinônimo de clonagem, de cooptação ao ser de um outro como seu modelo divino.

Mateus sabia que Jesus fazia o contrário. “Tal não é assim entre vós...” – ensinava Ele. E demonstrava que tal não era assim no Reino de Deus que Ele mesmo encarnava. Mateus via o Verbo tratando as pessoas e aplicando a Palavra do jeito que aplicava. Para o coletor de impostos Mateus, era apenas uma questão de ler a vida. Jesus era o cumprimento do sonho de todos os profetas e era a realização de todo o bem prometido. Não é por nada... pois é por tudo, que ele recorre a Isaías a fim de descrever o que cabia da Escritura a fim de ilustrar o seu próprio cumprimento: Eis aí o meu Servo... ele não gritará nas praças e não contenderá; não esmaga a cana quebrada e nem apaga a torcida que fumega. No seu nome esperarão os brasileiros, os latino-americanos, os americanos, os russos, os portugueses e os japoneses – e, também, todas as nações da terra, unidas ou não às Nações Unidas – pois Ele será salvação até os confins da terra. No seu nome esperarão até os brasileiros” – teria ele dito assim, se fosse assim que estivesse escrito, apesar de ser isto que está dito para nós hoje naquele texto da Escritura, do mesmo modo que esteve para Mateus.

Mateus não foi literal ao citar Isaías 42:1-4. Apenas disse aos que o leriam aquilo que significou para ele ver o que via, e como aquilo era o cumprimento da própria profecia. Mas não deixou de dizer o que estava dito com o modo como precisava ser dito em seus dias. Isto é ser literal com a Palavra sem ser, necessariamente, literal com o texto. O texto só é sagrado porque é verdade! Portanto, não é a letra que vivifica e não é o espírito que mata. É o contrário. O que interessava é que Mateus via como saíam de diante de Jesus aqueles que em desespero O buscavam. Já tinha visto que Jesus olhava para todos com o mesmo amor e que para todos dirigia a Palavra conforme o coração carecia – nem sempre um agrado, mas sempre o bem. E os milagres se misturavam às folhas de todas as estações e se deixavam plantar, literalmente, em qualquer quintal.

Jesus não veio para contender. A Verdade fala de si e por si mesma. Em verdade se promulgará o direito – diz o mesmo texto em Isaías. Ele veio para todos, mas se deixa especialmente achar pelos membros dos grupos chamados por Mateus e Isaías de Os Cana-Quebrada, Associação das Torcidas-Que-Fumegam e Movimento-da-Verdade-Promulgada-Como-Direito.

Mateus sabia mais do que dava para explicar. Creu e nos ajudou a crer. Tudo o que ele disse acerca de Jesus era verdade.

Este é só o meu jeito de dizer a mesma coisa.

Caio

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

O debate é importante?

O meio evangelical nacional tem visto, nos últimos meses, um crescimento significativo de debates. São muitos, em várias frentes. Com “frentes”, refiro-me a grupos, nos quais há sempre os mais dispostos a exercerem seu direito de conversar, opinar, explicar, convencer.
Há quem veja os crescentes debates com maus olhos; pensam que o debate, em si, é algo ruim, pois necessariamente leva à desunião. Particularmente, discordo deste ponto de vista, mas reconheço que há alguns pontos que precisam ser vistos por aqueles que se propõem a um bom e salutar debate.

1 – Debate não é mera tentativa de convencimento.

É claro que aqui me refiro ao debate nos moldes mais nobres, ideais. Em todo o debate, normalmente, tenta-se convencer o(s) interlocutor(es) ou a audiência. Mas, se estamos sinceramente buscando parâmetros verdadeiros, nosso alvo deve ser dialético, e não meramente retórico ou o que é pior, sofístico.
O debate dialético era, digamos, mais “bem visto” entre os gregos, como tarefa filosófica nobre, pois seu objetivo é a busca da verdade através da investigação racional e, obviamente, por meio do diálogo. A retórica por sua vez busca o convencimento, porém, como defenderia o filósofo grego Aristóteles, não pelo convencimento em si, mas como meio e melhor se instrumentalizar a defesa da verdade. Já a sofística, não: aqui, a palavra denota esperteza, jogo de palavras com o intuito de se vencer um debate sem necessariamente ter razão.

2 – Debate não é simples disputa de conhecimentos.

Eis um ponto central para os que gostam de debater: quem pensa em “medir” conhecimento através da prática do debate mostra, de antemão, que não estão prontos para debater. A questão num debate não é e nuca foi “quem sabe mais”, mas se o que é exposto alinha-se melhor ou não à realidade.

Um bom debatedor não sabe tudo, pois isto é impossível. Mas tem convicção (e boas razões) para crer que o que defende é, no mínimo, plausível. Um bom debatedor não está preocupado se não sabe de determinado ponto sobre um assunto que vem à tona num debate; mas mostra maestria em elencar pontos fortes e fracos suscetíveis à discussão, reconhecendo-os tanto na tese que defende quanto na que acusa.

3 – Debate não é uma porta para a carnalidade.

A Bíblia diz que podemos até nos irar, mas não pecar (Ef. 4:26). Isto é muito sério. A divergência de ideias deve ser tratada, sempre, com maturidade, humildade, espírito conciliador. Muitos, por causa de seu mau testemunho (notório ou não), tornam-se uma vergonha para o Evangelho, pois querem posar de polemistas ou apologistas, mas, no mais das vezes, denotam apenas a carnalidade que lhes era latente.
É fácil identificar um debatedor carnal: normalmente, o sarcasmo é sua maior arma; cita outros sem parar (o chamado “argumento da autoridade”, ou ad verecundiam é profuso em sua boca); não é original e o sarcasmo sobre o qual falei, geralmente esconde ignorância e soberba. Fuja desse tipo.

4 – Debate não se resume ao confronto de “opiniões”.

Em grego, “opinião” é doxa, que por sua vez é o contrário de conhecimento. Opinião está no mais baixo âmbito filosófico. É a área das preferências e gostos pessoais, sobre os quais apenas os seus donos têm ingerência. É como debater por causa de times de futebol. Responda sinceramente: você já viu alguém, torcedor, deixar de torcer por determinado time por causa de um debate sobre o tema? Pois é.
As opiniões pessoais são importantes, mas não devem ser confundidas com conhecimento. Muito, mas muito mesmo do que se “debate” no meio evangelical nacional, apesar de às vezes ter uma certa roupagem prolixa, com termos técnicos e certo apelo histórico, é, contudo, muito mais fruto de paixão ideológica do que da atividade exaustiva de se exaurir determinado conteúdo. O que é lamentável.

Gospel Prime