sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

ESTRADA & CAMINHO

Um dia, meu amigo Roberto, do Caminho, me ofereceu um CD com uma mensagem do pastor Caio pregada em Julho de 2004, que ele gravou da Rádio do Site, se não me engano...
A mensagem me impactou.
Primeiro, por ser a mesma de sempre: absolutamente comprometida com o Evangelho e com mais nada. Ninguém pode dizer que não há Evangelho no texto abaixo. Ninguém pode dizer que há qualquer outra coisa para além do Evangelho, segundo a Palavra.
Em segundo lugar, porque é a mesma de sempre, mas de forma deliciosamente nova e irrepetida, e com contornos reflexivos riquíssimos, criativos, poéticos e docemente didáticos.
Então, o Roberto resolveu se dedicar a árdua tarefa de transcrever todo o áudio, para que outros pudessem receber o benefício da Palavra de Deus aqui declarada.
Portanto, tenho certeza que se você imprimir esse material e se debruçar des-apressadamente sobre ele - em oração e reflexão acerca de si próprio na vida - certamente será abençoado, e terá “seus caminhos aplainados”, ainda nessa vida.
Enjoy it!
Marcelo
ESTRADA & CAMINHO 
SALMO 84

INTRODUÇÃO

Esse é o salmo do peregrino. É o salmo que inspirou muitas gerações de pessoas na terra de Israel que reuniam-se uma vez no ano para irem ao templo adorar a Deus. Esse era o salmo do caminhante, era o salmo da jornada, o salmo da estrada. A medida em que eles iam se aproximando do templo, as alegrias do coração se manifestavam e o salmo era falado como uma jornada do caminho, como uma confissão da estrada de quem queria chegar num lugar da adoração. Nós não somos hoje pessoas do templo, o templo somos nós, não temos nenhuma devoção por pedras, colunas... Somos santuário de Deus, somos habitação de Deus no Espírito. Portanto, a leitura desse salmo já não nos serve como uma inspiração para quem está indo a um lugar de culto; seria de uma pobreza primitiva enorme a gente pensar assim. Mas, é sobretudo uma viagem existencial para esse lugar aonde Deus tem o seu pouso em nós e aonde nós temos o nosso pouso em Deus, aonde a gente se aninha em Deus no caminho.

"Quão amáveis são teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos!
A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo!
O pardal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si, onde acolha os seus filhotes;
eu, os teus altares, Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu!
Bem-aventurados os que habitam em tua casa; louvam-te perpetuamente.
Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração se encontram os caminhos aplanados, o qual, passando pelo vale árido, faz dele um manancial; de bênçãos o cobre a primeira chuva.
Vão indo de força em força; cada um deles aparece diante de Deus em Sião. Senhor, Deus dos Exércitos, escuta-me a oração; presta ouvidos, ó Deus de Jacó! Olha, ó Deus, escudo nosso, e contempla o rosto do teu ungido.
Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade. Porque o Senhor Deus é sol e escudo; o Senhor dá graça e glória; nenhum bem sonega aos que andam retamente.
Ó Senhor dos Exércitos, feliz o homem que em ti confia."

A GRANDE QUESTÃO DO CAMINHO, É COMO VOCÊ ANDA NO CAMINHO.

A gente costuma associar a vida a uma estrada... Há aqueles jargões cansativos que toda hora nos acomete do tipo: na estrada da vida. E é, sem dúvida alguma, algo útil para nós, pensar que a vida é alguma coisa que se assemelha a uma estrada. A imagem da estrada é útil para entendermos a idéia do caminho. É útil porque aponta numa direção, numa via, e é útil porque há um caminho na estrada, mas não há uma estrada no caminho. Ou seja, a imagem da estrada me remete para o fato de que estou andando na direção de algum lugar, isso me é útil porque na vida não existe essa opção de não se estar andando. Não existe essa chance de não ser e de não ir. De outro lado, essa imagem da estrada é útil para nós porque nos mostra isso.
No caminho de Deus que a gente anda, não existe uma estrada fixa, de modo algum. Na mente da gente, na maioria das vezes, quando se pensa em andar com Deus, o que se apresenta é uma idéia de uma estrada fixa. Aí alguém chega e diz assim: "Jesus é o caminho". Aí o sujeito imagina Jesus como sendo a BR-1 de Deus, um caminho fixo. Aí você diz: "Como é esse caminho?". Então a pessoa te apresenta o manual de doutrinas, e você aprende aquelas doutrinas. Chega até o ponto de pensar que Deus não te ouviu, se você não mencionar a Trindade na oração: "Pai eu te peço em nome do teu Filho, no poder do Espírito Santo". Se não usar as três nomenclaturas, Deus ficou chateado. Já vi gente ser interrompida ou, após uma oração, receber admoestação de alguém que disse: "Escuta, você não falou em nome de Jesus". Porque se você não completar o pacote da estrada com todas as sinalizações dela, parece que você não está indo a lugar nenhum.
Nesse sentido, a imagem da estrada não nos ajuda, porque nós não estamos caminhando num caminho fixo. Ele disse: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida". Não há fixidez, o que há é movimento na Verdade que conduz a gente na direção da Vida sempre. A estrada física conforme eu lhes disse é fixa. O caminho espiritual, por seu turno, é vivo e não é fixo. No caminho espiritual não existe fixidez da estrada, ou seja, o modo de caminhar e ver a estrada espiritualmente muda o caminhante e muda a estrada. Numa estrada física, fixa, não interessa como o caminhante caminha, a estrada é a mesma. Ele pode caminhar de maneira apressada, ou lenta, agitada, angustiada, calma, contemplativa, olhando em volta ou de maneira completamente alienada, a estrada é a mesma... Ele pode botar no automático e deixar ir. No mundo espiritual, no entanto, não é assim, não existe absolutamente nenhum chão fixo, por isso é que o justo vive pela fé, pisa no chão da fé e sabe sobretudo isto: o modo de caminhar e ver a estrada espiritualmente, muda o caminhante e muda a estrada. A estrada, acerca da qual a gente está falando hoje, é a existência de cada um de nós. Cada um de nós está numa estrada. 

COMO É QUE A GENTE ESTÁ CAMINHANDO NESSA ESTRADA?

A estrada é chamada à existência, conforme o caminho do caminhante.

Isso que é extraordinário, porque a minha estrada não existe por si só, ela é chamada à existência conforme o meu caminhar. A estrada é conforme ela é andada, essa que é a verdade! Nesse sentido, a estrada física-fixa fica pobre para ilustrar o caminho espiritual. A estrada física não muda com os caminhantes, ela permanece a mesma. Mas a estrada espiritual é feita pelo andar do caminhante, é produzida pelos teus pés. Por isso não se pode apenas dizer para alguém: "Olha só, vê ali, Jesus é o caminho, anda nele". Porque isso não vai significar absolutamente nada para pessoa, a menos que a pessoa ande e experimente. Nós, cristãos, temos uma mentalidade religiosa que nos faz pensar em Jesus como Caminho relacionado a alguma coisa que se assemelha a uma estrada física e fixa. Mas não é. E aí é que está o engano, e é aí que as coisas vão ficando pedradas dentro de nós. Por que a gente fica pensando que pela entrada na igreja, pela via do batismo, pelo aprendizado dos nossos jargões, dos nossos chavões, pela capacidade que a gente tem de papagaiar e repetir coisas que a gente ouve, ou simplesmente, porque nós fomos batizados e temos o nome arrolado num rol de membros de uma igreja ou participamos de determinadas formas de culto com certa regularidade e nos dizemos cristãos, nós somos de Jesus. E não é. Não existe fixidez no caminho de Cristo a menos que você ande nele. Não é possível você simplesmente dizer: eu sou de Jesus; se você não anda no Caminho.

Essa mentalidade religiosa é que pensa no caminho de Jesus como se fosse uma estrada e que a gente pode botar o pé nela e andar do jeito que quiser. No caso da estrada, se a gente for andando, dado o tempo e o espaço, a gente chega lá. Todavia, o caminho espiritual não é assim. Você pode ter tido todas as informações que lhe façam pensar que Jesus é o Caminho, mas se você não andar conforme o Caminho, você não está no Caminho. E é aí que o bicho pega dentro de nós. O interessante é que a estrada física, como eu disse, não muda com os caminhantes, mas a estrada espiritual é feita pelo caminhante.

E aí eu queria que você pensasse comigo no seguinte: Lembra da parábola do bom samaritano? Ela ilustra perfeitamente o que estou querendo dizer, antes de chegar no salmo. O que a gente tem ali é um caminho, uma estrada, que ia de Jerusalém para Jericó... mesma estrada... está fixa lá até hoje. Você pode fazer o caminho romano antigo dos dias de Jesus até os dias de hoje, ela esta lá, com pedras daquele tempo, com cenários que não mudaram, uma estrada. Aí Jesus disse que, naquela estrada aconteceu uma coisa que envolveu cinco pessoas. Uma mesma estrada, cinco caminhos diferentes, uma mesma estrada que foi alterada pelo caminhar dos caminhantes. Um mesmo chão que virou chão diferente de acordo com a diferença da caminhada de cada um. O primeiro indivíduo que a gente encontra naquela estrada é um homem honesto, que saiu de casa e foi trabalhar. E no caminho para levantar o sustento para a vida, uma tragédia o acometeu. E ele foi deixado - largado, caído, assaltado, ferido, roubado, depravado e privado dos seus bens e do que tinha - ali abandonado. Caminho de um homem honesto roubado e largado na estrada. Tem um segundo homem nessa história, nessa estrada, é aquele que encontra o honesto que vem andando, querendo levantar o sustento para levar para casa e o assalta. Mesma estrada, um segundo caminho, caminho de violência, de expropriação, de covardia, de aproveitamento, de roubo, de engano. Mesma estrada, um homem honesto caído, um assaltante que se aproveitou da vida dele, e fez o seu próprio caminho. Aí passa uma terceira figura, um sacerdote, mesma estrada um terceiro caminho. O sacerdote vem e olha o homem, passa de largo, segue o seu caminho, caminho da indiferença, o caminho da incapacidade de se solidarizar, o caminho daquele que tem a sua agenda tão definida, que não tem espaço para qualquer parada. Esse é, sobretudo, o indivíduo que achava que a finalidade de cultuar a Deus num lugar sagrado, cumprindo uma liturgia, lhe era mais importante do que a parada para exercer a misericórdia com aquele que estava ali deitado. Uma mesma estrada, um outro caminho. Aí tem um quarto indivíduo que passa na mesma estrada, um levita. Ele viu o sacerdote passar e não fazer nada, e não fez nada também. Assumiu o caminho da omissão homicida, largou o indivíduo, fez que não viu, alienou-se, ligou o botão do auto-engano e se foi, insensível e impermeável. Aí vem um quinto indivíduo. Mesma estrada, um quinto caminho. Era um samaritano considerado herege pelos judeus, abominado pelo sacerdote e pelo levita. Mas ele passa e ele olha, e ele vê e ele se abaixa, ele socorre, ele cuida, ele pensa as feridas, trata delas, derrama sobre elas óleo e vinho. Cuida do indivíduo e o leva e o coloca numa estalagem e diz para o estalajadeiro: "Eu estou deixando aqui dinheiro, e se não for o suficiente, bota tudo na minha conta, porque quando eu passar de volta eu vou quitar tudo". A estrada para o primeiro homem era um meio de vida e ele caiu nela. Para o segundo homem era um meio de se aproveitar dos recursos do outro, era o caminho do aproveitamento e do engano. Para o terceiro homem, o sacerdote, era apenas uma estrada banal, aonde o que quer que acontecesse não lhe dizia respeito, porque ele era um desses indivíduos que se deslocava de um ponto para o outro e o que acontece no meio para ele não existe, ele é indiferente à vida. O outro é omisso, ele sempre olha para quem ele acha que lhe é superior na hierarquia, e diz: "Se ele não fez, porque que eu tenho que fazer". E há um aqui, para quem o caminho é o lugar de misericórdia, é o lugar onde a graça pode se manifestar e aonde o amor de Deus pode ser encarnado. Uma única estrada com caminhos diferentes. Isso nos ajuda entender e a discernir uma coisa fundamental para nós hoje: O caminho é chamado à existência pelo modo como eu ando.

Nós estamos todos aqui reunidos em Brasília, no Hotel Fenícia, cada um veio de casa, e eu não sei o que vocês deixaram em casa. Mas eu sei uma coisa, que ainda que a vida seja completamente idêntica para nós, nós todos temos diferentes caminhos de vida. Você olha em volta e você vê pessoas tendo as mesmas oportunidades, respondendo a elas de modo completamente distinto, e vê pessoas não tendo oportunidades e respondendo a essas não-oportunidades de modo também completamente distinto. Anteontem, eu recebi uma carta quando eu ia chegando aqui. Um rapaz extremamente discreto me deu essa cartinha e falou: "Por favor leia, mas leia, leia mesmo". Eu já estava atrasado, entrando, e só dei um sorriso para ele e botei a carta no bolso. E a carta dele está aqui. Olha só como uma estrada que podia ser miserável se transforma num caminho de vida, por causa do pé de quem pisa, de como pisa, de como vê, de como enxerga, de como interpreta e de como chama coisa a existência para sua própria vida. "Estou lhe escrevendo essa breve carta a fim de externar o quanto sou grato a Deus pela sua vida, gostaria muito de um dia poder compartilhar com você de maneira mais detalhada minha caminhada. Pude saber quem era o meu pai biológico e conhecê-lo, foi uma experiência libertadora quanto a rejeição que tenho por parte do meu verdadeiro pai humano. Meu pai tem, o primeiro deles, a saúde regular apesar da doença e minha mãe nunca pegou uma gripe sequer por causa do HIV, isso é motivo de alegria. Deus tem feito muito em mim e o sonho que tenho como oração diante Dele é que eu me veja pacificado, fazendo de minha própria vida uma mensagem, mesmo que doa, assim como doeu aos profetas do Antigo Testamento. E assim como sei que tem doído em você. Mais uma vez muito obrigado Caio".

Agora, pense em você. Eu faço atendimento de pessoas, e às vezes, a vontade que me dá é dar uma surra no cara. Tem pai em casa, mãe em casa, tudo bem, tudo certo, tudo legal, trabalho, emprego, saúde... Aí, há complexo para tudo que é lado, quanto mais a vida vai melhorando, mais complexificadas as pessoas vão ficando, mais cheias de manias. Lá na minha terra no Amazonas, nas barrancas dos rios, não existe depressão, o cara tem que cuidar de comer o pão, ralar mandioca, pescar de sol a sol, não tem tempo para se deprimir. Ou ele sai para trabalhar ou ele não come. Mas entre nós é diferente. A vida vai ficando mais complexa, a luxúria começa a habitar a alma, se instala no espírito como insatisfação crônica, e aí não interessa o que o indivíduo tem na estrada, a estrada pode ser a favor dele, pode ser ladeira abaixo, pode ser pastos verdejantes, pode ser como for. Aonde, ele puser o pé a estrada vai mudar, porque ele chama a existência o seu próprio caminho. Agora, você tem aqui, um cara com tudo para não estar se sentindo grato, para estar pedindo aconselhamento. Mas, ele chamou a existência um outro caminho, apesar da estrada ter sido perversa. A estrada foi horrível, mas o caminho está sendo lindo. A mesma estrada, a mesma vida, o mesmo chão, a mesma existência sob o mesmo sol, cercados pelas mesmas circunstâncias, caminhos diferentes. Porque o caminho está dentro de mim, o caminho está dentro de você. Isso foi só uma introdução para a gente chegar no salmo (risos). Só que eu prometo que eu serei mais rápido do que nunca.

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Quando a gente olha para o Salmo 84, vê que ele nos dá esse referencial, de como é que a gente - andando na estrada, qualquer estrada, na estrada comum, na estrada de todos - pode ir tecendo nosso próprio caminho.

COMO FAZER NOSSO CAMINHO NA ESTRADA?

1- Em primeiro lugar, ele diz que isso acontece quando eu carrego meu ser enternecido Ter um ser enternecido é a primeira coisa. Gente amargurada, vai pisar em chão de amargura, qualquer que seja o caminho. O salmo fala de um coração enternecido. "Quão amáveis são teus tabernáculos, a minha alma suspira e desfalece", ele está apaixonado, "o meu coração e minha carne exultam pelo Deus vivo". O que você tem aqui, existencialmente falando, é um ser enternecido por Deus.

2- E, em segundo lugar, o salmo ensina que qualquer que seja a estrada pode virar caminho bom e caminho de Deus, se eu ando com a segurança de quem, se sabe, sendo capaz de encontrar pouso, refúgio, agasalho, apenas em Deus. Essa carta, que eu li hoje aqui, é de um indivíduo, que com doze anos disse que foi visitado por uma plenitude que ele não sabia nem qual era. Depois falou em línguas, ele disse: "O menor dos dons, e eu não achava que nem era crente o suficiente para receber aquilo, por causa da mentalidade de causa e efeito, de legalismo". Mas Deus violou o legalismo da criança, e derramou a graça dele sobre ela, razão pela qual hoje aos 24 anos de idade, a estrada é perversa, mas o caminho dele é bom. Olha só o que diz o verso

3: "O pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si, eu encontrei os teus altares Senhor dos Exércitos". Essa segurança de quem pousa no ninho de Deus, Deus é meu pouso. Boa parte da razão pelo qual a estrada se torna insuportável, é porque a gente vive fantasiando, e criando e projetando, e imaginando e elocubrando coisas e cenários e situações que não são reais. E a gente faz sempre isso para o lado de fora, a vida só nos é boa se ela for pintada com um cenário exterior que nos agrade. E quando isso acontece na maioria das vezes, a gente vem a descobrir que o mundo pode estar pintado de paraísos, se você não carregar no peito o caminho da vida, tudo vai perecer e desvanecer diante de você. O coração encontra significado no caminho quando ele diz para si mesmo:"Eu não tenho bem nenhum senão a Ti Senhor. Tu és meu pouso". Quando Deus é meu pouso, quando Nele eu tenho meu tesouro, o meu refugio, o meu ninho, o meu agasalho, aí nada me faltará. Quando eu acho que as coisas que me faltam, me precisam ser dadas para que eu me sinta satisfeito, eu posso ter todas as coisas e jamais estarei satisfeito. No entanto, no dia em que meu coração estiver enternecido por Deus e que todo meu sentido de segurança, de agasalho, de carinho, de conforto, de aconchego estiver Nele, não importa qual seja a estrada, vai virar um caminho de vida. 

4 - Mais do que isso, o salmo diz que a estrada se transforma num caminho de vida quando eu carrego dentro de mim um louvor existencial na casa do meu ser. Olha só que diz o verso 4: "Bem-aventurado Senhor os que habitam em tua casa, louvam-te perpetuamente". Lá no Velho Testamento, eu disse que era um caminho na direção do templo, hoje o templo está aqui. E é um chamado para um caminhar existencial de contentamento, aonde a gente olha a vida com outros olhos e aí qualquer estrada vai virar caminho de vida. 

5 - E além disso, qualquer estrada vira caminho de vida, quando eu levo em mim a atitude de quem transforma vales áridos em mananciais. Olha os versos 5 e 6: "Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração se encontram os caminhos aplanados, o qual passando pelo vale árido faz dele um manancial, de bençãos o cobre a primeira chuva". Esse vale árido, lá no texto hebraico é chamado de vale de Baca, uma das alusões a ele está lá no livro de Juízes, quando se diz que o povo chorou em Boquim, depois que tinham pecado contra Deus e o anjo do Senhor veio e falou com eles face a face e eles choraram muito e chamaram aquele lugar de Boquim. É daí que vem a derivação para o Baca. Ele diz que bem-aventurado é aquele que passando pelo vale de Baca faz dele um manancial. ‘Vale de Baca’ era o vale de lágrimas, é o lugar aonde os chorões cresciam e crescem. Até hoje das imediações de Jerusalém, quando você chega no vale de Efraim, você ainda vê uma quantidade enorme de salgueiros e de chorões e também de árvores que derramam uma resina, daí o nome ter sido vale das lágrimas também, tanto por causa da ocorrência no livro de Juízes, como também por causa desse significado vegetal de um lugar aonde as plantas choram. O caminho para o templo passa por ali, que é também vale dos gigantes, vale de Efraim. E se diz: Bem-aventurado é homem que passando pelo vale de Baca, o vale árido, faz dele um manancial, de bençãos o cobre as primeiras chuvas. Mesma estrada, mas o caminho pode ser diferente. Estou dizendo isto porque eu fico chocado com o fato de que todos os dias eu ouço gente dizendo que é de Jesus e que está no caminho, mas você olha para vida do indivíduo... E isso não tem nada haver com ter, com possuir, com adquirir, com crescer do ponto de vista material. Tudo isso é ‘bobajada’ que vem sendo ensinada por nós e para nós nas ultimas décadas. Todo essas coisas tem o seu lugar mínimo e Jesus disse que se nós nos atrelarmos muito a elas, corremos o risco de perder a alma e o coração. Elas estão ao nosso serviço e não nós serviço delas, e muito menos tendo-as como bens do nosso ser. Fazer isso é caminho de destruição, mas eu fico vendo as pessoas dizendo: eu tenho Jesus, eu sou alguém que crê nele. Mas como alguém disse hoje de manhã na hora do almoço: mas a gente não vê os resultados, não aparece nenhum resultado. Andar no caminho tem que produzir resultado. Se eu não puder ser de Jesus e na hora de passar no vale árido, no vale de Baca, no vale de lágrimas, transforma-lo num manancial, que fé é essa que me anima? Que caminho é este? Se eu não puder enfrentar a dor, a perda, a lágrima, com um bálsamo da Graça de Deus. Se eu não puder ter dentro do coração: a visão, a imagem, a fé, a certeza, a esperança de que eu posso cavar poços no deserto, porque Deus na sua Graça vai enchê-los, vai chover sobre eles, a minha estrada vai ser sempre uma estrada de morte, de amargura, de frustração, de decepção, de perda, nunca será caminho de vida, jamais. 

6 - A estrada vira caminho de vida também, quando eu levo em mim a consciência da mutualidade como mandamento da jornada. Ou seja, eu não estou andando só, eu preciso de você, e você de mim, é nessa troca que a gente vai. Subitamente o texto passa a ser plural no verso 7, e diz: "Vão indo de força em força, cada um deles aparece diante de Deus em Sião". É um ajudando o outro. Nesse caminho, infelizmente, o que a gente mais encontra é um passando a perna no outro, julgando o outro, medindo o outro, avaliando o outro, por isso que não é caminho, é só estrada. O que a gente precisa admitir é que a maioria de nós não está no caminho, a gente está na estrada da religião, e na estrada da religião é assim olho aberto. Conforme Jesus disse: símplices como as pombas e prudentes como as serpentes, porque tem fariseu na reta. Religião não te oferece um caminho, te oferece uma estrada e é bom você ser esperto. Agora nós estamos falando de caminho, e no caminho “um ao outro ajudou e ao seu próximo disse: Sê forte!” No caminho um levanta o outro. No caminho a gente não quer saber quem é o indivíduo caído, a gente só quer saber que ele está caído. No caminho o samaritano é o herói da história do amor fraternal. E ele não faz perguntas. No caminho não existe discussão religiosa, no caminho ninguém diz: "Você aceita Jesus antes de eu lhe fazer este bem?". No caminho ninguém diz: "Os assaltantes o assaltaram porque você não estava com o anjo do Senhor acampado ao seu redor". No caminho ninguém diz: "Olha se você fizesse a confissão positiva e dissesse: Eu declaro bandido, tu estás amarrado. Ele não teria te assaltado". No caminho a gente levanta, a gente se dobra, a gente cuida, a gente não faz perguntas, a gente carrega, a gente leva. No caminho não tem proselitismo, não tem prosa, não tem conversa fiada, tem ação, tem amor, tem misericórdia, tem graça, tem vida, tem gesto. A maioria de nós está na estrada da religião cristã, poucos de nós estamos andando no caminho de Jesus, e é só quando nos dermos conta disso que temos alguma chance de ser salvo da estrada, para poder, no chão da vida, ver o caminho mudar debaixo de nossos pés. Porque é o caminho da fé que chama o próprio caminho da vida à existência para nós. 

7 - E ainda, a estrada vira caminho, quando a gente leva consigo a certeza, de que há o Deus de poder na nossa vida e de graça nesse caminho. Os versos 8 e 9 fazem essa evocação dessas duas realidades de Deus: Senhor Deus dos Exércitos, dos Exércitos, do poder, escuta minha oração, presta ouvidos, ó Deus de Jacó - do cara ambíguo, o Deus do ‘vermezinho’, o Deus do homem que tem luz e que tem sombras, o indivíduo que carrega todas as dualidades da vida. No caminho, eu sei que eu conto com essa assistência: há poder e há graça. Isso não é retórica, isso é fato. E bem-aventurado é aquele que crê nisso e toma posse disso. 

8 - E a estrada seja ela qual for, vira caminho de vida, se eu ando com a consciência de que o que vale na vida não é quantidade, mas é qualidade. Eu achei tão bonitinho quando ele disse: "Passei aqui no concurso público e agora eu posso manter a mim mesmo". “Manter a mim mesmo!” Nós estamos tão empedernidos que a gente não consegue mais nem ter a sensibilidade de discernir a benção que significa manter a si mesmo. Comer o pão com dignidade, beber com dignidade. A gente acha que se for de Deus uma mansão nos aguarda no lago. Se você tiver aleluia! Convide os irmãos, me chame para ir lá eu vou com muita alegria. Mas pelo amor de Deus, não faça disso seu sonho de consumo. Paulo disse: "Tendo com que comer e beber, e vestir, e viver com dignidade, sejamos gratos". Bela essa singeleza: Deus me deu os meios de poder manter a mim mesmo. Essa gratidão muda todo o cenário no caminho. Quem não consegue olhar para vida com contentamento, jamais vai se contentar com coisa alguma na vida. "Eu aprendi a viver contente em toda e qualquer situação, tanto sei estar humilhado como ser honrado, tenho experiência de tudo, tanto de abundância quanto de escassez. Tudo posso Naquele que me fortalece". O que este cara está dizendo, é que tanto faz a cara da estrada, ele faz o caminho com contentamento no coração. O verso 10 nos diz isso: "Pois um dia nos teus átrios, vale mais do que mil". Qualidade vale mais do que quantidade. Prefiro estar a porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade. 

9 - E por último, a estrada se transforma no bom caminho quando eu ando com a certeza de que Deus é a luz do meu caminho, é o escudo, é a proteção da minha jornada. E que Nele eu posso confiar sem duvidar, porque Ele não sonega sua graça a mim, nem a ninguém. E a provisão de Deus para mim é sempre: bem. Olha só os versos 11 e 12: "Porque o Senhor Deus é sol". Sol, o Senhor Deus é sol. Você vai andar nesse caminho seja qual for a estrada, pode ter certeza alguns vão dizer: não estou vendo nada. Mas se você estiver andando no caminho conforme aquele que faz o seu caminho pisando no chão da graça e da misericórdia, esse vai dizer: "O Senhor Deus é sol e escudo, o Senhor dá graça e glória, nenhum bem sonega aos que andam retamente. Ó Senhor dos Exércitos, feliz o homem que em Ti confia".

CONCLUSÃO

Eu falei tudo isso apenas para falar o que vou dizer agora, e se você não ouvir o que eu vou dizer agora, não interessa o quanto você ouviu do que eu disse antes. O que eu quero te dizer com o meu coração mais amigo, mais irmão, é que a maioria de nós, apenas existe na estrada da religião. Para maioria de nós, Jesus é o líder da religião cristã. Por isso a gente não devia nem ficar chateado quando ele é colocado naquela lista dos 100 mais. Eu vejo os crentes chateados: botaram Jesus na lista dos 100 mais, das 100 maiores personalidades da civilização humana. Eu digo: bem feito, vocês é que fizeram dele o líder do cristianismo. Então ele é colega de Maomé, de Buda, de Confúcio, de Zoroastro, de Kardec, ou de qualquer outro líder que apareça por aí. Esse é o Jesus da estrada, esse é o Jesus que a gente oferece num catecismo, que a gente dá num livrinho de discipulado. (Acho engraçado essa história de discipulado. O que que você está fazendo? "Discipulado". O que é isso? "Eu me reúno de segunda, quarta e sexta, com uma irmãzinha que abre aquele manual que o pastor escreveu, mal escrito. Na maioria das vezes, ele não sabe nem o que está acontecendo, ele copiou de algum americano, que é mestre em fazer receita. Porque os Estados Unidos foram os que desenvolveram essa fé de liquidificador, de manual eletrônico: quatros passos para salvação, doze para prosperidade, sete para pacificação, é tudo assim. É a fé da estrada. "Curva perigosa". "Chão derrapante". "Posto de gasolina a 30 km": é o congresso para qual o indivíduo vai. "Fast-food" é o culto. "Shopping a direita": são algumas igrejas que só vendem fetiche. Aí o cara fica pensando que isso é andar com Jesus. Discipulado... Onde é que se já viu discipulado ser 12 lições, 24, 320. Jesus disse “segue-me pela vida”, gente. Discipulado é aprendendo, quebrando a cara, arrebentando dente, levantando, socorrendo o caído que não tem nome, sendo socorrido na hora que você não esperou que ia cair. É aprendendo...) O Caminho gera Verdade, e a Verdade acontece na Vida. Não é nenhum outro manual. O caminho de Jesus é na vida. Discípulos de Jesus são formados não em cursos, mas no curso da existência.

A maioria de nós ainda está na estrada da religião. O convite de Jesus é para você vir para o caminho da vida. E aí você vai descobrir que a estrada é mesma, que a vida é perversa, que a existência é absurda, que há todas as razões para ser nauseante e insuportável; que não há justiça mesmo, que as injustiças grassam, que o trabalhador pode sair para trabalhar e ser assaltado, o assaltante pode estar o tempo todo de olho simplesmente para ver a melhor hora de te tomar tudo. É o caminho dele, na estrada que é tua. O sacerdote pode passar e dizer: ‘Esse aí já não tem mais o que dar, se ele estivesse pelo menos rico, eu iria ajudar para ver se ele dava uma oferta lá na sinagoga.’ Aí vem o levita, "Eu sou discípulo do sacerdote", ele diz. "O sacerdote não fez nada, eu não vou fazer nada também, esse aqui não é o meu caminho". Ele pode até espiritualizar: "Não é a minha vocação". Está tudo tão esquizofrenizado, que o cara diz: "Não, o Senhor me chamou para interceder, eu vou andando pelo caminho, intercedendo por ele, que o Senhor mande alguém que cuide dele". Ai a gente fica achando, que nós somos os bons desta vida. E Deus ironicamente, Jesus de maneira irônica e caustica, elegeu para ser o herói do caminho, o anti-herói da nossa estrada. O samaritano, o herege, é o anti-herói da estrada da religião, e é o herói do caminho da vida. Hoje o que eu queria é que você fizesse uma decisão: se você quer continuar a ser um cara da estrada ou se você quer ser do caminho. Não há nenhuma promessa de que o mundo vai mudar, Jesus disse: "No mundo tereis aflições". A profecia está feita. "Mas tende bom ânimo, eu venci mundo".

O milagre é que a estrada pode ser a mesma, mas o caminho será diferente. Porque você vai chamar o caminho à existência, conforme você pisa no chão da vida. Acaba aqui também a lamúria, o queixume. "Ai meu Deus porque que a vida foi tão madrasta para mim, quanta injustiça que eu sofro, logo eu que sou essa mulher devota, e santificada, que me preservo para o Senhor e só encontro canalha".

Minha querida na estrada está cheio de canalha. Por que você não chama a existência o seu caminho, pisando de outra forma, olhando de outro modo, discernindo por outra perspectiva, entendo a si mesmo e aquilo que significa valor para você de outra forma? Hoje eu queria em nome do Senhor Jesus, convidar você a dizer: "Senhor, a estrada é comum para todos nós, ajuda-me a fazer o caminha da vida. E eu não quero ser um indivíduo da estrada religião que é física e é fixa. Eu quero caminhar no caminho da vida e da verdade em Jesus". Porque o caminho muda, conforme eu mudo no caminho, e o meu caminho vai mudar, conforme eu olho o caminho mudado. Bem-aventurado é o homem que passa vale árido e faz dele um manancial. Ele carrega no coração os caminhos aplanados. O caminho só muda do lado de fora, quando ele muda do lado de dentro. Não existe nenhum caminho do lado de fora que vai lhe ser bom, a menos que você carregue um bom caminho no coração.

Esqueça a Jesus como estrada doutrinária e fixa. Ande no caminho vivo, onde o que vale é o seu modo de caminhar. Como é que você tem caminhado? O que vale é o seu modo de caminhar. É só o que vale, meu querido, é o seu modo de caminhar.

A gente fica pensando que o que faz diferença é o QI. Nós somos muito bobos. Os seres mais maravilhosos que eu conheço chegam a ser quase estúpidos do ponto de vista do QI. São os Forrest Gump que estão por aí, que podem simplesmente dizer: olha, eu não sei muita coisa, mas eu sei o que é amar. O que importa é o seu modo de caminhar. A gente fica invejando o caminho dos perversos, dos malfeitores, fica com dor de cotovelo porque o cara é ladrão. "Ó Senhor porque Tu não me visita com a prosperidade do fulano". Você sabe quem é o fulano? Ele é o assaltante da estrada, meu amigo. Nessa estrada se você não tiver opção, se você não puder ser o bom Samaritano, peça a Deus para ser o roubado. Sério! Se você não puder ser o bom Samaritano, só não seja o bom Samaritano se você for o roubado. Porque ainda está em mil vezes melhor situação do que o sacerdote, o levita e o ladrão. Mas tem gente pedindo a Deus a benção de ser o ladrão. Quando eu fico vendo, de quem que as pessoas tem inveja, elas tem inveja do ladrão, do ladrão religioso, do ladrão político, do ladrão em vários lugares, em várias situações da vida. Ladrão existencial. Porque o modo do caminho que você ambiciona é o modo da morte. Tem gente que ambiciona o caminho do sacerdote, é aquele cara tão imponente. O sonho de consumo de alguns pastores é andarem cercados de 5 seguranças. "Olha que maravilha, tenho um carro blindado". Você pode imaginar um negócio desse, um homem de Deus que sonha em ter um carro blindado. O que eu já vi e ouvi de pastores dizendo assim: "O Senhor tem nos abençoado muito, a nossa igreja cresceu muito, cresceu tanto que inclusive eu tive que contratar 5 seguranças". O sonho dessa cara é ser o sacerdote. Que caminho é esse? Ou o do levita, o egoísta, só pensa na sobrevivência e na alto preservação, o negócio dele é: não me tocou tá bom, to nem aí, to nem aí, to nem aí.

Nessa estrada só tem dois caminhos de vida, ou do cara que quase foi morto porque estava andando no caminho da dignidade, ou do outro que não teve medo de ser morto porque estava andando no caminho da misericórdia. Isso muda tudo, altera tudo gente, você passar a olhar a vida assim. Teu pai não vai mudar, nem a tua mãe necessariamente, nem os vizinhos, nem a escola, nem o trabalho, mas você vai mudar, e o seu caminho vai mudar de maneira assustadora.

Eu passei por muita coisa difícil nos últimos 7 anos, eu podia ter ficado completamente amargo, ter adoecido, irrecuperavelmente triste. Mas eu encontrei os teus altares Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu.
Faz 3 meses que eu perdi um filho... amado! Estou morrendo de saudade dele... estou aqui com perfume dele... esse cheirinho aqui é dele... do perfume dele.
Mas a vida tá bonita!
Porque o caminho não é a estrada que faz, você é que faz. Na estrada pode acontecer tudo, mas tudo que aconteça não será nada, se não acontecer contigo, ou se você processar como vida, e não como morte.
O caminho de Deus é caminho de graça, de misericórdia, quem olha a vida com graça e com misericórdia, jamais ficará amargo. Sempre vai entender que por trás de qualquer tranco, tem bondade, tem um bem guardado, tem um tesouro oculto, tem no mínimo uma palavra que diz: "o que eu faço tu não sabes agora, compreendê-lo-ás depois".
Aí você começa a descobrir que seu coração vai melhorando, que a sua visão vai ficando mais clara, que o que tem valor salta, que o que não tem valor fenece. Aí você começa a descobrir que você não precisa de nada além de um ninho, e que esse ninho está em Deus. Suas inseguranças vão diminuindo, os lugares estranhos vão ficando diferentes. Até aquilo que você abomina, na hora que o caminho muda dentro de você, a estrada fica diferente fora de você. Até aquilo que antes lhe parecia completamente intolerável e insuportável, perde o significado de intolerabilidade. Quando o caminho mudou em ti e você pela fé pisou com atitude de gratidão e de contentamento no chão para ver que o caminho esta sendo feito pela gratidão e nem a estrada ruim resiste a chegada desse novo caminho. Agora isto acontece com Jesus enquanto a gente vive. Para que isso aconteça, você não pode ter medo de viver, você vai ter que viver! E viver pela fé, e viver desassombradamente e viver como quem contabiliza todas as coisas como lucro. Lucro. Tudo é lucro no caminho, meu querido.

Se você ouviu e entendeu, e se o Espírito Santo falou com você e você hoje diz para si mesmo: "Ó Deus, me perdoa! A vida está tão feia, porque meus olhos são feios. A estrada está tão maligna, porque meus olhos estão impregnados de treva. Mas, eu aprendi hoje que o importante não é a estrada, o importante é como eu caminho. Ajuda-me a caminhar no caminho da vida, da gratidão, do contentamento, da fé, da misericórdia, da graça, e não deixe que eu fique impressionado com nenhuma estrada. Por que o importante é o modo como a gente caminha".

Daqui a uns anos a gente vai olhar para trás, e o que vai ficar não é a inteligência, nem a burrice, não é a riqueza e nem a pobreza, não é afluência e nem a escassez; a única coisa que vai ficar é o modo como você caminhou. João Batista teve a sua cabeça cortada e oferecida num banquete num prato para satisfazer a volúpia provocada por uma dança. Aparentemente um trágico fim, mas o modo do caminho dele, fez Jesus dizer: “Em verdade vos digo que dos nascidos de mulher ninguém foi como João”.

O que importa, meu querido, não é o que te façam; o que importa é o que você faz de você mesmo na presença de Deus. É o modo como você caminha. E se você hoje, recebeu o chamado do Espírito de Deus no fundo do seu ser, para não ficar mais impressionado com a estrada, vai fazer um compromisso de um caminhar diferente, pela fé, sabendo que o que importa é o modo do caminhar. E que se a gente caminha, conforme o caminho, cada passo chama a existência uma coisa nova e boa. Não importa qual seja a estrada, o caminho será de vida.

Se você ficou convencido disso e quer hoje, fazer a oração daqueles que pedem a Deus para desintoxicá-los da estrada, das exterioridades, da religião, das comparações, das invejas, das ambições malignas, das frustrações que projetam o tempo todo para nós alvos inalcançáveis, enquanto o individuo deixa de aproveitar o pão nosso de cada dia, e a alegria de hoje, e a celebração de Deus hoje. Sabendo que grande não foi Nabucodonozor, maior do que ele foi João Batista, que comia gafanhoto, bebia mel silvestre e vestia roupa de camelo.

Você tem que decidir se você quer uma estrada pavimentada, uma highway para os homens ou se você quer andar no caminho de Deus, onde a alma anda sempre rica não importa o que aconteça. Se você tomou essa decisão, isso vai revolucionar sua vida, vai mexer com todo sua existência. Se você olhar assim, apreciar assim, contemplar assim e souber que a vida vai em cada passo, está no modo, está no "como" da caminhada, aí bem-aventurado você será!

Caio Fábio

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

O bem que os relacionamentos nos fazem


Gospel Prime

Quando, através de uma ligação telefônica ou mesmo numa conversa teclada via Whattsapp ou Facebook ou qualquer outro tipo de mediador de comunicação social, a gente sorri, falando com um amigo um colega, com o chefe, o pastor ou qualquer outra pessoa com quem temos relacionamento (de amizade ou de qualquer outra natureza), o fenômeno de alegria que se dá eu o denomino como “inspirado”, pois o que a pessoa disse ou a forma como ela assentiu a uma colocação minha, me inspirou alegria.
Já o sorriso que damos quando num dialogo presencial, eu o chamo de “provocado”, pois, para além da inspiração da alegria advinda do diálogo, outros fatores contribuíram para que essa alegria ganhasse uma consistência maior, seja um toque, o som emito pela voz amiga que ressoou de forma positiva em mim, seja pelo cheiro, pelo modo como a pessoa se expressou performaticamente permitindo meu subconsciente notar que sou bem vindo no lugar ou junto à ela.

Um estudo que já vem sendo feito pela faculdade de Harvard, E.U.A, há 70 anos, atualmente coordenado pelo psiquiatra Robert J. Waldnger, tem estudado 724 pessoas para descobrir quais fatores sociais mais influenciam na longevidade, felicidade e resiliência. Até aqui o estudo concluiu que esses três fatores são influenciados pelos relacionamentos, seja de forma positiva ou negativa.

Segundo o coordenador da pesquisa, três lições já puderam ser tiradas do estudo com relação aos relacionamentos: 1) conexões sociais fazem bem aos seres humanos, enquanto a solidão mata; 2) A qualidade das relações é mais importante do que a quantidade; 3) Relacionamentos felizes e duradouros protegem a saúde física e mental.
Uma pesquisa também feita pelos americanos deu conta de que pessoas que mantem relacionamentos na acepção positiva do termo, vivem entre sete e 14 anos a mais.
Saber que precisamos ter bons relacionamentos já está mais do que claro, mas a grande questão é como fazer isso sendo que tanto nós como os outros somos tão difíceis de lidar? Jesus, ao ensinar os discípulos a orar, em Mateus 6 versículos de 9 a 15, deixa bem claro que a vida acontece a partir dos relacionamentos entre ser humano e Deus e entre ser humano e ser humano. Ao mencionar que o perdão deve ser dado aos homens e pedido a Deus, Jesus estava ressaltando nossa falibilidade tanto diante de Deus quanto para com nossos semelhantes.

Perdoar é fundamental para a manutenção dos relacionamentos sejam eles estreitos ou não, pois a falta de perdão nos amargura, nos entristece, nos enfraquece. Perdoar significa não cobrar uma “dívida moral” que alguém passa a nos dever a partir do momento que nos ofende. Se a gente não perdoa, estamos nos predispondo a somar juros sobre aquela “dívida” que o nosso ofensor contraiu conosco. O saldo da falta de perdão não é positivo em nenhum dos aspectos, pois diminuiu nossa rede de relacionamento, temporária ou permanentemente.
Há, em nosso rol de relacionamentos, pessoas tão agradáveis, mas há quem seja desagradável também. Se lidamos com os desagradáveis sob a égide do perdão, estando dispostos a perdoá-los, não por sermos melhores, mas por termos a capacidade de cometermos os mesmos erros que eles, viveremos a vida com maior qualidade.
Ao dizer que éramos para perdoar os homens antes de pedir perdão à Deus, Jesus estava dizendo que não devemos reduzir nosso rol de amigos a cada vez que um deles nos ofende, pois, nossas possibilidades de viver a vida de forma mais intensa e com mais oportunidades, vão diminuindo. No ato de exercer o perdão sou tratado nas minhas falhas, pois vou perceber o mal-estar que causo nos outros ao falhar com eles, ao ofendê-los. Se eu não perdoo, não sou perdoado por Deus (Mt 6.15), pois estarei deixando de progredir como ser humano, tornando meu orgulho um prisioneiro da liberdade que a boa vivencia traz.


sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

O bem que os relacionamentos nos fazem

Quando, através de uma ligação telefônica ou mesmo numa conversa teclada via Whattsapp ou Facebook ou qualquer outro tipo de mediador de comunicação social, a gente sorri, falando com um amigo um colega, com o chefe, o pastor ou qualquer outra pessoa com quem temos relacionamento (de amizade ou de qualquer outra natureza), o fenômeno de alegria que se dá eu o denomino como “inspirado”, pois o que a pessoa disse ou a forma como ela assentiu a uma colocação minha, me inspirou alegria.
Já o sorriso que damos quando num dialogo presencial, eu o chamo de “provocado”, pois, para além da inspiração da alegria advinda do diálogo, outros fatores contribuíram para que essa alegria ganhasse uma consistência maior, seja um toque, o som emito pela voz amiga que ressoou de forma positiva em mim, seja pelo cheiro, pelo modo como a pessoa se expressou performaticamente permitindo meu subconsciente notar que sou bem vindo no lugar ou junto à ela.

Um estudo que já vem sendo feito pela faculdade de Harvard, E.U.A, há 70 anos, atualmente coordenado pelo psiquiatra Robert J. Waldnger, tem estudado 724 pessoas para descobrir quais fatores sociais mais influenciam na longevidade, felicidade e resiliência. Até aqui o estudo concluiu que esses três fatores são influenciados pelos relacionamentos, seja de forma positiva ou negativa.

Segundo o coordenador da pesquisa, três lições já puderam ser tiradas do estudo com relação aos relacionamentos: 1) conexões sociais fazem bem aos seres humanos, enquanto a solidão mata; 2) A qualidade das relações é mais importante do que a quantidade; 3) Relacionamentos felizes e duradouros protegem a saúde física e mental.
Uma pesquisa também feita pelos americanos deu conta de que pessoas que mantem relacionamentos na acepção positiva do termo, vivem entre sete e 14 anos a mais.

Saber que precisamos ter bons relacionamentos já está mais do que claro, mas a grande questão é como fazer isso sendo que tanto nós como os outros somos tão difíceis de lidar? Jesus, ao ensinar os discípulos a orar, em Mateus 6 versículos de 9 a 15, deixa bem claro que a vida acontece a partir dos relacionamentos entre ser humano e Deus e entre ser humano e ser humano. Ao mencionar que o perdão deve ser dado aos homens e pedido a Deus, Jesus estava ressaltando nossa falibilidade tanto diante de Deus quanto para com nossos semelhantes.
Perdoar é fundamental para a manutenção dos relacionamentos sejam eles estreitos ou não, pois a falta de perdão nos amargura, nos entristece, nos enfraquece. Perdoar significa não cobrar uma “dívida moral” que alguém passa a nos dever a partir do momento que nos ofende. Se a gente não perdoa, estamos nos predispondo a somar juros sobre aquela “dívida” que o nosso ofensor contraiu conosco. O saldo da falta de perdão não é positivo em nenhum dos aspectos, pois diminuiu nossa rede de relacionamento, temporária ou permanentemente.
Há, em nosso rol de relacionamentos, pessoas tão agradáveis, mas há quem seja desagradável também. Se lidamos com os desagradáveis sob a égide do perdão, estando dispostos a perdoá-los, não por sermos melhores, mas por termos a capacidade de cometermos os mesmos erros que eles, viveremos a vida com maior qualidade.
Ao dizer que éramos para perdoar os homens antes de pedir perdão à Deus, Jesus estava dizendo que não devemos reduzir nosso rol de amigos a cada vez que um deles nos ofende, pois, nossas possibilidades de viver a vida de forma mais intensa e com mais oportunidades, vão diminuindo. No ato de exercer o perdão sou tratado nas minhas falhas, pois vou perceber o mal-estar que causo nos outros ao falhar com eles, ao ofendê-los. Se eu não perdoo, não sou perdoado por Deus (Mt 6.15), pois estarei deixando de progredir como ser humano, tornando meu orgulho um prisioneiro da liberdade que a boa vivencia traz.
Qual a conexão disso tudo que eu disse com o que eu falei ao iniciar esse texto? É que Deus não nos fez para nos distanciarmos uns dos outros, seja por falta de perdão ou pelo mero comodismo que as redes sociais nos proporcionam. Viva mais perto dos familiares, dos pais, dos amigos ou dos irmãos de igreja. Sobretudo, viva mais perto de Deus.

Gospel Prime

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

A excelência de Cristo

Com a graça de Deus chegamos ao início de mais um ano letivo na Escola Bíblica Dominical. Aliás, feliz ano novo pra você! Começaremos o trimestre com o estudo da carta aos Hebreus, cuja Lição (CPAD) é comentada pelo gabaritado pastor José Gonçalves. Desde já convidamos todos a lerem na íntegra a Carta aos Hebreus, antes mesmo da primeira aula no próximo domingo, para que tenham uma visão geral dos assuntos tratados nesta Carta e percebam quais as instruções dadas pelo Espírito de Deus através deste livro. A carta foi escrita originalmente aos “hebreus” (forma antiga de se referir aos “judeus”), mas diz respeito também a nós, já que estamos na mesma jornada da salvação que eles, correndo os mesmos riscos, sofrendo as mesmas tentações e tendo as mesmas necessidades de sermos exortados à perseverança como aqueles primeiros irmãos. Bom estudo!

I. AUTORIA, DESTINATÁRIO E PROPÓSITO

AUTORIA: numa análise superficial do texto em português, é possível traçar muitas semelhanças entre o texto de Hebreus e as cartas de Paulo. Todavia, num aprofundamento exegético, sobretudo a partir do texto grego, as diferenças tornam-se consideráveis. Eruditos tanto de linha liberal quanto conservadora já concluíram que há polimento e erudição no texto da carta aos Hebreus que não se comparam a forma comum de Paulo escrever, embora este fosse um exímio conhecedor das letras humanas em seu tempo. De qualquer modo, é muito provável que o autor desta carta tenha sido alguém muito próximo ao apóstolo Paulo e que tenha aprendido dele muitos temas da fé cristã além da forma contundente de argumentar. É perfeitamente possível dizer que há traços paulinos nesta carta anônima. Mas há uma evidência interna muito forte para rejeitarmos a autoria paulina desta carta. Nas palavras de Lutero: “o fato de essa Epístola aos Hebreus não ser de S. Paulo ou de algum outro apóstolo, fica demonstrado por constar no segundo capítulo [2.3]: ‘Esta doutrina veio a nós e ficou por meio daqueles que a ouviram pessoalmente do Senhor’. Isso deixa claro que ele está falando dos apóstolos, talvez muito tempo depois. Pois em Gálatas 1, S. Paulo dá o vigoroso depoimento de que ele teria seu evangelho não de pessoa humana, nem por meio de pessoas humanas, mas do próprio Deus” (1). Apesar de desde o final do segundo século a carta aos Hebreus ter sido citada por Pantenus, como sendo de autoria do apóstolo Paulo, e de haver muitos teólogos cristãos ao longo dos séculos, inclusive mais recentemente que defendam uma autoria paulina (inclusive o comentarista pentecostal Severino Pedro da Silva), bem ressalta o exegeta José Gonçalves, comentarista da Lição: “Hoje, há praticamente uma unanimidade entre os biblistas de o apóstolo Paulo não foi o autor da carta aos Hebreus” (2). Como dizia Orígenes, um dos Pais da Igreja no oriente, terceiro século, “Quem escreveu a carta? Deus sabe de verdade”. Todavia, ainda que não reconheçamos o redator humano, sabemos com toda certeza quem é o Autor divino deste livro, e isto realmente é o que nos importa!
CONTEÚDO: Sobre o conteúdo do livro, Martinho Lutero, para quem Apolo teria sido o provável autor desta carta, considerava que existia nele algum “osso duro de roer”, e que também havia nela algumas fragilidades de “palha”, embora reconhecesse, dado o antigo uso dela na Igreja, uma autoridade digna de colocar esta Carta no cânon sagrado, embora, segundo ele, não pudesse gozar de igualdade com os demais livros. Dizia ele: “não se pode equipará-la às epístolas apostólicas em todos os aspectos”. O reformador alemão, todavia, também observa de modo mui pertinente que “a Epístola aos Hebreus (…) sozinha é suficiente para interpretar todas as figuras [nos livros de] Moisés” (3). De fato, há abundante citação do Pentateuco na Carta aos Hebreus. E não podia ser diferente, já que o autor pretende estabelecer uma comparação entre a antiga aliança e os elementos que a constituíam com a nova aliança, demonstrando que Cristo é não só o cumprimento das figuras veterotestamentárias, mas é o “o Mediador de uma nova aliança” (Hb 12.24), e que Cristo “alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança” (Hb 8.6), e que é superior à Moisés, aos sacerdotes e aos profetas, dentre os quais está Moisés também.
Não obstante, é preciso deixar claro que nós vamos muito além de Lutero na aceitação da inspiração plenária e verbal, da inerrância e infalibilidade da Carta aos Hebreus: para nós, pode haver “osso duro de roer” nela como em qualquer outro livro, já que nós leitores somos limitados na compreensão do texto bíblico; mas não aceitamos que exista nem nesse nem em qualquer outro livro nada que se possa chamar de “palha”, “graveto” ou “capim”, nem acreditamos que haja inferioridade nesta carta em relação as demais do Novo Testamento, ou ainda, como supôs Lutero, alguma contradição entre algum ensino da carta aos Hebreus e os ensinos de Paulo. Aceitamos Hebreus como Palavra de Deus, “igualmente as outras Escrituras” (2Pe 3.16). Como dizia John Wesley, referindo-se a Bíblia como um todo, “Se há algum erro na Bíblia, então pode haver mil erros. Se há alguma falsidade sequer naquele livro, ele não proveio da verdade”. Ou ainda melhor nas palavras de Paulo: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (2Tm 3.16). Hebreus é Palavra de Deus!
DESTINATÁRIO: uma comunidade judaica convertida ao Cristianismo, mas de uma localidade não especificada, quase que certamente entre os anos 64 e 70 d.C., antes da destruição do templo em Jerusalém (que o texto sugere ainda estar de pé, com sacrifícios ocorrendo ali – Hb 10.11). Por extensão, esta carta dirige-se a todos os cristãos dentre os judeus, que estavam sofrendo tentações diversas para voltar ao judaísmo, abrindo mão da fé em Cristo como Salvador e Senhor. Neste sentido, é uma carta que muito se assemelha à de Paulo aos gálatas, quando este apóstolo advertia os crentes da Galácia sobre os perigos de dissolver a fé cristã dentro de dogmas e tradições já superados na nova aliança. As influências são as mesmas: judeus não convertidos, inimigos da cruz de Cristo, querendo anular o cristianismo crescente do primeiro século. Com uma distinção: enquanto os gálatas pareciam não correr o risco da apostasia (pelo menos não conscientemente), mas do sincretismo, misturando práticas judaizantes caducadas na cruz de Cristo (como circuncisão, guarda do sábado e abstinência de alimentos) com a fé em Cristo e práticas do cristianismo, os destinatários da Carta aos Hebreus estavam correndo um perigo ainda maior: desertarem totalmente da fé em Cristo para um retorno à antiga religião. Ou seja, apostasia era o grande problema dessa comunidade cristã. Aos gálatas, Paulo diz: “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído” (Gl 5.4); aos Hebreus é dito: “Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus…” (Hb 12.15).
PROPÓSITO: ressaltar a superioridade de Cristo, da fé e da nova aliança, bem como trazer um chamado à perseverança em Cristo, com duras advertências aos que abandonarem esta fé ou maravilhosas promessas aos que permanecerem nela, resistindo “até o sangue” (Hb 12.4) contra os ataques dos adversários.
Lendo a Carta aos Hebreus, você perceberá que alguns temas são muito recorrentes em seus treze capítulos: CRISTO, SACERDÓCIO, FÉ, PERSEVERANÇA, APOSTASIA, CONFIANÇA, PROMESSA, RECOMPENSA. O tema geral deste trimestre, portanto, não poderia ser melhor do que o que foi escolhido: A supremacia de Cristo: fé, esperança e ânimo na Carta aos Hebreus.

II. CRISTO – A PALAVRA SUPERIOR À DOS PROFETAS

No primeiro versículo desta carta, o autor aponta para a revelação final de Deus através de seu próprio Filho. Está escrito: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho”. Duas considerações precisam ser feitas sobre este texto:
1. Este texto introduz todo o trabalho do autor ao longo da carta, cujo objetivo é apontar para Cristo e para a fé cristã como superiores ao judaísmo e à Lei mosaica. Este objetivo deve ser mantido em mente durante todo o trimestre em que estaremos estudando capítulo a capítulo a Carta aos Hebreus.
2. Este texto, tomado por muitos teólogos adversários da crença na contemporaneidade dos dons espirituais e das revelações especiais de Deus aos homens, não está sugerindo uma cessação nas revelações divinas após o primeiro advento de Cristo – esta ideia sequer tangencia a carta aos Hebreus. Como pontua Richard Taylor, encontramos neste primeiro versículo “a revelação completa e culminante. Jesus Cristo é a Palavra final e completa de Deus ao homem; tudo o que veio antes dele é parcial e preparatório, e tudo que veio depois é a ampliação e clarificação dessas palavras” (4). Deus continua se revelando aos homens hoje de modo especial, como se revelou aos cristãos no primeiro século, mesmo depois de Jesus já ter voltado para o Pai. Mas estas revelações não são para complementar, nem para ganhar status de revelação canônica e vir a se tornar regra de fé e prática para a igreja, mas para demonstrar a comunhão viva que desfrutamos com Deus, que não ficou mudo após a redação da última letra do Novo Testamento.
O teólogo continuísta presbiteriano Don Codling, em seu belo tratado Sola Scriptura e dons de revelação, que foi originalmente seu trabalho de Dissertação de mestrado defendido no Westminster Seminary, discorre com precisão sobre este assunto dominante na Carta aos Hebreus:
“claramente, a questão desses versículos [Hb 1.1-2] não se relaciona com o método particular em que a revelação foi recebida. Pedro teve uma visão (Atos 10:9ss); Paulo ouviu uma voz do céu (At 9.4), e recebeu uma revelação em sonho (At 16.9); ainda havia profetas que individualmente recebiam e falavam a Palavra. O contraste nesses primeiros versículos de Hebreus é entre a revelação antecedente a Cristo, e a excelência, a plenitude, e a revelação em Cristo. (…) O argumento de Hebreus é dirigido contra um retorno ao judaísmo dentro do cristianismo, como o próprio escritor enfatiza, apontando o judaísmo como o estado inferior, a condição incompleta. O contraste não é para ser tomado como o tempo de Cristo e seus apóstolos em oposição a todos os momentos antes e depois. O contraste é entre a era da realização inaugurada por Cristo e a era da promessa antes da vinda de Cristo” (5)
Em seguida, Codling corrige o posicionamento teológico cessacionista, demonstrando que este texto não serve ao propósito de negar revelações especiais de Deus pós-Cristo ou pós-Canon sagrado. Ele diz:
“a conclusão de que na era de plenitude [a era em que vivemos] não haverá mais revelação após o final do período apostólico, deturpa a passagem do seu contexto, e estabelece um novo dispensacionalismo com uma dispensação apostólica e outra pós-apostólica no lugar do novo período da aliança. Uma revelação contínua não implica necessariamente uma progressão para além de Cristo (…). O falar de Deus através de seu Filho foi a inauguração, e não o fim dos últimos dias. Dessa revelação plena se estabelecem os limites para qualquer revelação subsequente. Qualquer contínua revelação verdadeira será especificamente cristã, isto é, irá olhar para trás, para o advento de Cristo na carne. Outra consequência dessa passagem é uma afirmação, como a de Marcião, de que se possui revelação superior àquela que veio em Cristo seria falsa. A finalidade da revelação em Cristo coloca outras restrições sobre qualquer revelação posterior (…), mas isso não nega a possibilidade de uma contínua revelação (6)
Portanto, que fique claro: o advento de Cristo é o ponto mais elevado da revelação de Deus aos homens, mas isso não significa que Deus não se revela aos homens por outros modos especiais além do texto bíblico, e sim que toda revelação deve ser por Cristo, em Cristo e para Cristo, sendo as Escrituras Sagradas o instrumento aferidor de toda revelação atual. Jesus disse que o Espírito Santo, que distribui dons na Igreja, “me glorificará, porque receberá do que é meu e vos anunciará” (Jo 16.14). Vivemos nos últimos dias, os dias de que o próprio Pai falou com promessa: “derramarei meu Espírito sobre toda carne… os jovens terão visões, e os velhos sonharão…” (Joel 2.28,29). Paulo disse que o Espírito Santo concede à igreja dons revelacionais, como os dons de profecia, palavra de sabedoria e palavra de conhecimento (1Co 12.8-10). Inclusive há uma ordem bíblica para se buscar esses dons! (1Co 12.31; 14.1). E a Palavra de Deus não pode falhar! Logo, tal bendita promessa é para nós também (At 2.39), e não há qualquer disparidade entre a crença na revelação excelente de Deus que temos em Cristo e as revelações especiais para necessidades específicas que o Espírito Santo dá à Igreja de Cristo, que servem-nos para exortação, edificação e consolo (1Co 14.3). Estas sempre submetidas àquela!

III. CRISTO – SUPERIOR AOS ANJOS

Diferentemente de todas as demais cartas, cujo autor e destinatários são identificados logo nos primeiros versículos, em típica saudação, a Carta aos Hebreus “vai direto ao ponto”. Como alguém que não tem tempo a perder, ou como um médico que precisa atender urgentemente o seu paciente na sala de cirurgia, o autor da Carta aos Hebreus inicia sua carta já apontando para a supremacia de Cristo. Só no capítulo de abertura, vemos o autor colocando a superioridade de Cristo:
a) em relação aos profetas do A.T. (vv. 1-2). E aqui, entenda-se “profetas” não como uma referência aos que profetizavam (Samuel, Elias, Jeremias, etc.), mas a todos os autores/escritos do Antigo Testamento, que eram chamados de profetas (incluindo Esdras, Neemias, Davi, e seus respectivos livros históricos ou poéticos).
b) em relação aos anjos (vv. 2-9, 13-14)
c) e em relação ao cosmos (vv. 10-12).
Perceba: Cristo é superior aos homens, aos anjos e à natureza. Isto porque ele é mais que homem, e mais que um espírito iluminado, ele é o “Filho” eterno de Deus (vv.2,3,5), o Filho que reina majestoso (v.8,9), e o Filho co-autor da criação (v. 10). Nos demais capítulos de Hebreus, que estaremos estudando em sequência neste trimestre, veremos outros aspectos desta superioridade de Cristo. Sem dúvida, a carta aos Hebreus é um bom tratado cristológico, com foco no sacerdócio de Cristo.
É obscuro para nós a crença dos antigos judeus sobre os anjos, e há muito mais tradição extra-bíblica do que subsídio bíblico para amparar algumas crenças antigas. Mas há evidências bíblicas de que os anjos eram tidos em grande estima, sendo até mesmo cultuados (Cl 2.18). Os anjos são apresentados na Bíblia em algumas classes: anjos (Lc 1.28), serafins (Is 6.2,6), querubins (Gn 3.24) e arcanjos (1Ts 4.16; Jd 1.9). O autor da Carta aos Hebreus, porém, é enfático: Cristo é superior a todos eles! É uma boa forma de introduzir o assunto que será desenvolvido no decorrer da epístola, já provando não ser razoável os cristãos judeus abandonarem a fé em Cristo, superior aos homens e aos anjos, para voltar àquela antiga religião, de uma revelação inferior e parcial sobre Deus. Se os judeus queriam o espetáculo dos anjos, o autor da carta aos hebreus diz que Cristo é espetacularmente mais fascinante, em tudo o que ele é, em tudo o que ele fez e em tudo o que ele prometeu!
O texto de Hebreus redireciona corretamente nosso olhar para Aquele que deve ser o foco da nossa vida e do nosso culto: “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé” (Hb 12.2). E como Jesus, devemos suportar o desprezo e a afronta daqueles que resistem à fé, visto que há um gozo eterno proposto para nós no descanso celestial.
CONCLUSÃO
Já para iniciarmos digerindo bem a carta aos Hebreus, encerro este estudo de hoje chamando você a refletir sobre dois erros cometidos pelos crentes judeus que favoreceram um esfriamento da fé em Cristo e um retorno ao judaísmo:
  1. Não cresceram no conhecimento do Senhor Jesus (Hb 5.11-14). Estacionaram no jardim de infância, e se tornaram vulneráveis aos que pareciam ter mais conhecimento da Lei.
  2. Estavam deixando de congregar com seus irmãos na fé, ausentando-se dos cultos e da comunhão (Hb 10.24,25). Assim, deixaram de se fortalecer mutuamente e, distantes do redil, se fizeram presas fáceis dos lobos que buscavam tragá-los.
Meninos na fé e desigrejados, aqueles crentes passaram a pensar que Cristo já não era tão fascinante quanto haviam aprendido inicialmente. Pior: estavam sendo seduzidos por ensinos estranhos à negarem Cristo (Hb 13.9) e até escarnecerem de seu sacrifício (Hb 10.29). Estes são os mesmos riscos que correm hoje os crentes que não buscam progredir na doutrina e que se privam do convívio com seus irmãos na fé. Quantos há que não têm o menor interesse pela Escola Dominical, que é um verdadeiro centro de formação do caráter cristão? Quantos há que entram ano e sai ano e não adotam um plano de leitura anual da Bíblia, e até passam dias e dias sem meditar a sós com Deus no santo livro para se fortalecerem na fé? Eis aí a urgente necessidade do estudo renovado da Carta aos Hebreus! Afinal, não vivemos nós o tempo em que cristãos têm desprezado o conhecimento e a comunhão? Tempos de apatia espiritual e mornidão? Precisamos fazer o que o autor deste livro nos recomenda: “tornai a levantar as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados, e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja não se desvie inteiramente, antes seja sarado” (Hb 12.12,13). Divulguem a Escola Dominical, insista com seu pastor e com os membros de sua igreja! Movam campanhas, doem revistas da EBD, vão às casas de seus alunos, “força-os a entrar” (Lc 14.23), e que nossas classes dominicais se encham de meninos, jovens e adultos, para aprenderem a santa Palavra do Senhor!
Enquanto estudamos estas lições dominicais, oremos como Habacuque: Aviva, Senhor, a tua obra!
REFERÊNCIAS:
(1) Martinho Lutero. Bíblia de Estudo da Reforma, SBB, p. 2091 (introdução ao livro de Hebreus)
(2) José Gonçalves. A supremacia de Cristo: fé, esperança e ânimo na carta aos Hebreus, CPAD, p. 14
(3) Martinho Lutero. Op. cit., p. 2090.
(4) Richard Taylor. Comentário Bíblico Beacon, vol. 10, CPAD, p. 26
(5) Don Codling. Sola Scriptura e os dons de revelação: como lidar com a atual manifestação do dom de profecia?, Carisma, p. 133
(6) Don Codling. Op. cit, p. 134