Há alguns anos tenho um problema chamado contratura muscular que nada
mais é que seus músculos contraírem excessivamente depois de alguma
situação muito estressante, horas a fio sentada no escritório, falta de
alongamento etc. As vezes tenho crises que me geram dores terríveis nas
costas, ombros e pescoço, formigamento no braço e falta de ar que me
forçam a ter que tirar uma pausa para repousar para que assim os
músculos relaxem e voltem ao normal. Pois é, cá estou eu de molho em
casa depois de 2 idas no hospital e ordens médicas de descanso e uso de
medicação para alivio da dor além de banhos e compressas quentes.
Durante esse processo assim como nas outras crises meu esposo sempre
esteve ao meu lado tentando me confortar de todas as formas possíveis
afinal conforme a dor perdura a paciência se esvai e ficar em casa
parada para alguém que sempre está fazendo algo parece um martírio –
prefiro entender esses episódios como Deus tentando arrancar o espírito
de Marta de mim, rs.
Eu sou uma observadora nata de pessoas e situações. Todos os lugares
que vou presto atenção em quase tudo ao meu redor e as reações das
pessoas é algo que me encanta. E logicamente em minhas idas ao hospital
fico de bizóio tanto nos pacientes e familiares como nos médicos e
equipe, primeiramente louvando a Deus pela vida deles afinal não á nada
fácil lidar com a dor alheia ainda mais diariamente e nós pacientes
quando vamos lá esporadicamente sempre achamos que eles devem estar bem
humorados e nos tratar com amor, pois para nós aquele atendimento é
único, mas para eles é mais um perante centenas de pessoas que passam
ali diariamente.
Em uma dessas idas ao hospital, enquanto estávamos na sala de espera
havia uma moça se contorcendo com cólica renal e sua pele já estava
fantasmagórica. Era um domingo a tarde e enquanto ela gemia e mal
respirava de dor seu esposo estava emburrado como uma criança de 3 anos
porque estava perdendo a final do campeonato de futebol e o churras com
os amigos. Ele teve a pachorra de discutir com ela na frente das pessoas
na sala da espera dizendo que ela não deveria estar com tanta dor assim
e que deveria ter tido a crise renal um dia antes para não perderem o
churrasco com a galera. Minha vontade era levantar bater palmas para ele
e dizer: aposto que você não aguenta nenhuma gripe sem fazer o
maior alarde e fazer com que sua esposa te trate que nem sua mãe deve te
tratar, porque você é um mimado insensível que está mais preocupado com
um churrasco com os amigos do que com sua esposa. Para mim você está
mais casado com a galera do que com sua mulher, para que você casou
então? Masss logicamente considerei o fato de estar em um hospital e
ser solidária a dor natural de quem está ali e guardei meu discurso
espumando dentro de mim.
Tenho visto situações como essas inúmeras vezes assim como uma vez
também no hospital com uma adolescente vomitando as tripas do meu lado e
sua mãe irada com a médica que queria interna-la para descobrir o que a
garota tinha, porém isso a faria perder uma super importante festa de
15 anos de uma amiga. A mãe estava mais preocupada com a festa do que
com a própria filha.
Eu não sei você que está lendo esse texto, mas eu sinto uma
dificuldade em mim mesma em lidar com a dor do próximo, se com a minha
tenho dificuldade imagina com a do outro? Num mundo onde priorizamos
eventos, compromissos, trabalho e vida virtual fazer uma pausa por estar
doente parece uma ofensa ou sinal de fraqueza, ser acompanhante de
alguém que está em sofrimento é encarado como desocupação num mundo tão
agitado onde estar em constante fazer/produção é mais importante que
ser/sentir a si mesmo e ao próximo.
Nos casamos muitas vezes idealizando somente a parte boa de nossos
votos matrimoniais e achamos que se orarmos bastante tudo sempre irá de
vento em polpa ou como a vida dos casais super ungidos gospel que vemos
nas redes sociais sempre felizes, maquiados e fazendo declarações de
amor uns aos outros. Quando dizemos na saúde e na doença queremos dizer
que superaremos nossos próprios limites e histórico de dor e nos
dedicaremos a entender e aliviar a dor do nosso cônjuge/ próximo não só
oferecendo um analgésico ou um chá, mas sacrificando nossos afazeres,
rotinas e mostrando a pessoa que o bem estar dela é a nossa prioridade.
Uma vez ouvi a seguinte frase : HAPPY WIFE, HAPPY LIFE – ESPOSA FELIZ, VIDA FELIZ
e uma vez que uma esposa está bem todo o resto vai bem também, afinal
ela é a estrutura da casa e executa todas as funções descritas em
Provérbios 31. Pense na esposa como a igreja, afinal Jesus é o noivo e
nós a noiva certo? Quando a igreja está saudável ela brilha e reflete
seu sacerdote Jesus Cristo assim atraindo multidões à ela e nunca sendo
remetidas à escândalos ou difamação do evangelho.
Será que temos cumprido esse voto de fidelidade também nos momentos
de dor do próximo? Será que temos sido pessoas sensíveis a dor alheia ou
temos tentado fugir dela a qualquer custo nos justificando com nossas
super importantes atividades?
Gospel Prime
Nenhum comentário:
Postar um comentário