quarta-feira, 25 de agosto de 2010

OS FALSOS PROFETAS


A proliferação de falsos profetas é característica dos dias de apostasia, como eram os dias de Jeremias e são os nossos.
INTRODUÇÃO
- Em continuidade ao estudo do ministério profético no Antigo Testamento, falaremos hoje dos falsos profetas, que sempre existiram no meio do povo de Israel, como elemento perturbador na vida espiritual daquela nação (II Pe.2:1).
- A existência de falsos profetas foi prevista na lei (Dt.13:1-5) e advertida pelos profetas verdadeiros, em especial Jeremias (Jr.23:9-40), constituindo-se em mais uma figura do que estava reservado para os dias da Igreja (Hb.10:1), cujos últimos dias sobre a face da Terra é também caracterizada pela presença de muitos falsos porta-vozes do Senhor (Mt.7:15; 24:4,5,11,24,25).
I – O OFÍCIO PROFÉTICO E SUA FALSIFICAÇÃO
- Já vimos que Deus escolheu Israel para ser a Sua propriedade peculiar entre as nações da Terra (Ex.19:5,6). Assim, para que o povo não se corrompesse (Pv.29:18), sempre levantou, no meio de Israel, profetas, que eram Seus porta-vozes, como havia sido prometido ainda no deserto através de Moisés(Dt.18:20,21), ele próprio um profeta de Deus (Dt.34:10).
- O profeta, por primeiro, tinha de ser alguém “santificado por Deus”, ou seja, separado por Deus para esta incumbência. A profecia era um dos ofícios do Antigo Testamento, uma das incumbências que era resultado de uma unção, uma separação vinda da parte de Deus. Com respeito ao ofício profético, então, este chamado era absolutamente essencial e indispensável, pois, ao contrário do ofício sacerdotal e do ofício real, não tinha qualquer vinculação hereditária ou tribal, sendo, pois, ofício que poderia ser exercido por qualquer do povo.
- Por segundo, o profeta somente podia agir por ordem divina. Dependia de uma determinação de Deus seja para ir, seja para falar. Seu ofício, ao contrário do sacerdotal e do real, não era contínuo, mas, sim, esporádico. Não era a todo instante que profetizava, mas quando o Senhor o ordenava.
- Por terceiro, o profeta não tinha um esquema predeterminado. Ao contrário do sacerdote, que sabia o que devia fazer a cada cerimônia, a cada hora do dia, ou do rei, que também tinha uma pauta preestabelecida, o profeta não sabia, de antemão, antes da ordem divina, o que deveria falar ao povo. No Antigo Testamento, então, quando a revelação de Deus ainda não havia se completado, o profeta era um elemento “inovador”, ou seja, alguém que trazia mensagens divinas que se adicionavam ao que já fora objeto de revelação ao povo de Israel por meio da lei. Daí, até, a expressão “a lei e os profetas”.
- Por quarto, o profeta, ante estas peculiaridades de seu ofício, era alguém que deveria ser observado e julgado pelo povo. Ao contrário do sacerdote e do rei, que tinham sua legitimidade decorrente ou diretamente da lei de Moisés (sacerdotes) ou de profecias confirmadas (reis), pela sua
linhagem, os profetas tinham antes de ser provados para serem aprovados. Daí as regras já mencionadas supra a respeito da avaliação das profecias.
- O profeta deveria passar por três testes a fim de ser aprovado pelo povo: o teste do cumprimento da profecia, o teste da concordância da profecia com a lei divina e o teste do testemunho. Para que o profeta fosse considerado um homem de Deus, era necessário que o que as suas profecias se cumprissem (Dt.18:20-22; I Sm.3:19,20), que suas profecias não estivessem contrariando a lei divina (Dt.13:1-11) e, por fim, que a sua vida demonstrasse ser ele um homem santo, separado do pecado(Dt.18:15-18; Nm.12:3; I Sm.12:3,4; II Rs.4:9).
- Todos estes cuidados foram fixados pelo Senhor na lei precisamente porque, diante das características do ofício profético, não seria difícil que se levantassem, no meio do povo, falsos profetas, que dissessem agir e falar em nome do Senhor, sem que isto fosse verdadeiro.
- O uso de falsos profetas sempre foi uma das formas ardilosas pelas quais o inimigo do povo de Deus agiu em Israel, precisamente para buscar frustrar os propósitos divinos não só para Israel mas para toda a humanidade, pois sabido era que a salvação viria dos judeus (Jo.4:22), visto que, na posteridade de Abraão, seriam benditas todas as famílias da Terra (Gn.12:3; Gl.3:16).
- Os falsos profetas agiram como verdadeiros “inimigos internos” do povo de Israel, como autênticos “espiões” do maligno, infiltrados no meio da sociedade israelita, compartilhando de todos os costumes e tradições do povo, exigindo, pois, por parte do povo, toda a cautela necessária para distingui-los dos verdadeiros. Não é à toa que o Senhor Jesus, ao Se referir a eles, trata-os como “lobos vestidos de ovelhas” (Mt.7:15), precisamente porque eles são dissimulados e cuja identificação depende, sobretudo, de uma análise de suas atitudes à luz das Escrituras, da Palavra de Deus, a exigir, desta maneira, um profundo discernimento espiritual, visto que as coisas de Deus se discernem espiritualmente (I Co.2:11-16).
- Já na lei, o Senhor alertou os israelitas sobre os falsos profetas, indicando três tipos de testes que deveriam ser aplicados a todo e qualquer profeta para que se tivesse a confirmação se se tratava, ou não, de um profeta verdadeiro, advertindo, pois, o povo de que seria através deste ofício que o inimigo de nossas almas mais atuaria com o fim de desviar o povo da salvação, da bênção do Senhor.
- Ao falar dos falsos profetas, o Senhor mostra que sua aparição, no meio do povo, decorre de Sua vontade permissiva. O falso profeta levantar-se-ia no meio do povo para que o povo fosse provado, para que se testasse a fidelidade de Israel à lei, para que se mostrasse se o povo amava, ou não, ao Senhor (Dt.13:3).
- Assim, vemos que a presença de falsos profetas, se de um lado mostra a atuação deletéria do adversário do povo de Deus, é mais uma demonstração da soberania divina, pois Deus permite esta atuação maligna única e exclusivamente para que Sua glória seja revelada, visto que, com os falsos profetas, é denunciado e mostrado a todos os céus e terra o amor dos autênticos e genuínos servos do Senhor ao seu Deus, é tornada patente a salvação de muitos pela obra redentora do Calvário. Por isso, o apóstolo Paulo diz ser necessário que surja, no meio da Igreja, a heresia, a fim de que os sinceros se manifestem diante do povo de Deus (I Co.11:19). Até mesmo quando o assunto é a presença de falsos profetas, vemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados pelo Seu decreto (Rm.8:28). Aleluia!
II – OS FALSOS PROFETAS NO ANTIGO TESTAMENTO – OS PROFETAS IDÓLATRAS
- Ao longo da história de Israel no Antigo Testamento, como previsto estava na lei, houve vários falsos profetas. Podemos dividi-los, de forma bem esquemática, em três grupos, a saber:
a) os profetas que serviam a outros deuses, que poderíamos chamar de “profetas idólatras”;
b) os profetas que se diziam profetas do Senhor sem nunca o terem sido, que poderíamos chamar de “profetas oferecidos” ou “sedizentes profetas”, ou, ainda, “autoprofetas”.
c) os profetas do Senhor que perderam a direção de Deus, que poderíamos chamar de “profetas desviados” ou “profetas apóstatas”.
- O primeiro grupo de profetas, que estamos a chamar de “profetas idólatras”, eram os profetas que serviam explicitamente a outros deuses, profetas que diziam trazer mensagens de deuses estranhos a quem os israelitas passaram a servir por terem desobedecido ao Senhor e deixado de destruir todos os povos que habitavam primitivamente a terra de Canaã (Jz.2:1-3, 11-13).
- Como já tivemos ocasião de dizer em lições anteriores, os cultos idolátricos dos gentios também tinham, em sua organização, a figura dos “profetas”, até porque, como bem sabemos, o inimigo de nossas almas busca imitar tudo quanto faz o Senhor, a fim de iludir o homem e mantê-lo ignorante e em trevas espirituais (II Co.4:4).
- Assim, nos cultos idolátricos, não era difícil existir a figura daqueles que traziam “mensagens” dos deuses, muitas vezes mediante manifestações sobrenaturais em que, “em transe”, eram proferidos os “oráculos divinos”, mensagens muitas vezes truncadas e enigmáticas, que podiam ser facilmente manipuladas pelos sacerdotes. Famoso, por exemplo, foi, na Antiguidade, o chamado “oráculo de Delfos”, no templo do deus grego Apolo, que ficava naquela cidade grega (Delfos), que consultado por milhares e milhares de pessoas que queriam saber o seu futuro e os prognósticos daquela falsa divindade, que era o “deus da sabedoria” na mitologia grega.
OBS: Conta-se, aliás, que o rei da Macedônia, Alexandre Magno, antes de iniciar sua vitoriosa guerra contra os persas, teria consultado o referido oráculo, que lhe teria dado a seguinte mensagem “Irás voltarás não morrerás ali”. Feliz, o rei iniciou a guerra. Entretanto, morreu, já vitorioso, em Babilônia. Questionados os sacerdotes de Apolo a respeito do “furo” da profecia, responderam eles que a mensagem é que não tinha sido bem compreendida, pois a mensagem teria sido “Irás. Voltarás? Não, morrerás ali”. Como se vê, já naquele tempo, havia mensagens “espertas”, facilmente manipuláveis para que se busque esconder a mentira que nelas há.
- Estes falsos profetas proliferavam em Israel nos momentos de intensificação da idolatria, tendo atingido seu auge, certamente, durante o nefasto governo de Acabe, quando chegou a haver 850 (oitocentos e cinquenta) profetas desta natureza, sendo que 450(quatrocentos e cinquenta) eram de Baal e 400(quatrocentos), de Asera (I Rs.18:19), precisamente as duas divindades mais adoradas quando Israel caía na idolatria (Jz.2:13).
- Estes falsos profetas são os menos perigosos, porque seu papel é tão somente o de reforçar a corrupção do povo, que já se encontra corrompido por causa da idolatria. Agiam como “dose adicional”, como “reforço” do veneno já inoculado e que já produzira a morte espiritual do povo. O povo só os consultava porque já estavam envolvidos pela idolatria, de sorte que seu papel era secundário no desvio espiritual do povo.
- Tanto assim é que, bastava o povo retornar ao convívio com o Senhor, tais profetas perdiam completamente seu poder e influência, como se deu imediatamente após Elias mostrar ao povo que
o único e verdadeiro Deus era o Senhor, ocasião em que todos os 850(oitocentos e cinquenta) profetas de Baal e de Asera foram mortos (I Rs.18:40).
- Como prova do caráter secundário destes falsos profetas, vemos que, mesmo no seu auge, eram eles totalmente dependentes da estrutura idolátrica existente. É dito que os profetas de Baal e de Asera “comiam da mesa de Jezabel” (I Rs.17:19), ou seja, eram pessoas que viviam às custas da rainha, eram profetas que dependiam de uma organização, de uma estrutura, de uma instituição para sobreviverem. Eram verdadeiros “parasitas”.
- Hoje em dia não é diferente e este tipo de falsos profetas dependem, para sobreviver, da manutenção de estruturas, organizações e instituições que se construíram tendo por base um culto idolátrico, uma manifestação religiosa falsa e que é abominável aos olhos do Senhor. Quantas são as instituições e organizações, muitas que se dizem cristãs, que têm seu batalhão de “profetas”, cuja sobrevivência depende, precisamente, da manutenção deste engano e deste engodo criados pelos homens, muitas vezes “iluminados” por doutrinas de demônios. Tomemos cuidado com esta gente!
- Esta dependência deste tipo de falsos profetas de organizações e estruturas mostra-0çhes outra fraqueza, pois, em havendo a destruição de tais estruturas, também eles desaparecem. Quando Jeú sobe ao trono, foi-lhe fácil destruir novamente os profetas de Baal, tendo, para tanto, apenas feito uso de sua autoridade política, convocando todos para um culto a Baal no templo de Baal (II Rs.10:18-28). Este tipo de profeta depende de uma estrutura pré-montada e, somente nestes casos, a alteração institucional representa o debelamento deste tipo de falso profeta, que é um verdadeiro “mendigo espiritual”, porque vive de “comer da mesa de Jezabel”. Não é por outro motivo que temos de impedir que Jezabéis se levantem no meio da igreja local, como ocorria em Tiatira (Ap.2:20,21). Sejamos vigilantes e não permitamos que este parasitismo invada a nossa igreja local!
III – OS FALSOS PROFETAS NO ANTIGO TESTAMENTO – OS “AUTOPROFETAS
- A segunda classe de falsos profetas são os que chamamos de “profetas oferecidos”, “sedizentes profetas” ou, ainda, “autoprofetas”. Estes profetas são mais perigosos que os anteriores, porque se dizem profetas do Senhor, sem que tenham sido chamados pelo Senhor e, por isso, podem levar ao engano pessoas que ainda não estão corrompidas, que servem a Deus mas que, por desaviso e falta de discernimento, podem vir a ser enganadas por este tipo de gente. Tais profetas, portanto, são corruptores, ainda que seu poder de corrupção não seja o maior de todos, visto que atinge tão somente aqueles que estão desavisados, espiritualmente enfraquecidos.
- Esta classe de profetas foi particularmente abundante nos dias de Jeremias, quando a apostasia já atingia os limites da longanimidade de Deus, tanto que Jeremias foi levantado por Deus precisamente para dar ao povo de Judá o “último aviso” antes da destruição do templo e da perda da Terra Prometida, a máxima pena prevista para o pecado do povo na lei (Dt.28:63-67), tanto que é, precisamente, da boca de Jeremias que vem a maior condenação a este tipo de gente nas Escrituras (Jr.23:9-40).
- Esta classe de profetas, embora seja corruptora, ao contrário da anterior, também tem seu lugar no meio do povo de Deus por causa da rebeldia do povo contra o Senhor, motivada pela soberba, pelo orgulho, pois o fato de alguém se intitular “profeta” sem que tenha sido chamado pelo Senhor é uma manifestação de soberba, pois se trata de grande atrevimento, de total insubmissão à soberania divina falar em nome de Deus sem que tenha sido autorizado a tanto (Dt.18:22). Por isso, houve a proliferação destes “autoprofetas” nos dias de Jeremias, caracterizados pela soberba de Judá e de Jerusalém (Jr.13:9).
- Assim, embora seja corruptora, esta classe de profetas é, também, fruto da corrupção do povo, visto que é produto de um solo fértil, de um ambiente propício às distorções espirituais, um ambiente em que reina o pecado, mais precisamente a recusa do povo em seguir o caminho do Senhor. Os falsos profetas surgem, deste modo, como um reflexo do desejo incontrolado de o povo traçar os seus próprios caminhos independentemente da vontade do Senhor (Jr.13:10).
- Jeremias, ao trazer uma mensagem divina a respeito destes “autoprofetas”, mostrou que eles eram exatamente o contrário do modelo instituído pelo Senhor, sendo em tudo similares aos “profetas idólatras”.
- Jeremias, que chama os “profetas idólatras” de “profetas de Samaria”, diz que aqueles profetas eram adúlteros, ou seja, infiéis ao Senhor, pois profetizavam da parte de Baal e faziam o povo de Israel errar, pois, em vez de trazerem mensagens vindas da parte do Senhor, em vez de viverem uma vida de santidade, pecavam e traziam mensagens permissivas, segundo as quais não fazia mal o pecado cometido pelo povo.
- Os “autoprofetas”, por sua vez, que Jeremias chama de “profetas de Jerusalém”, da mesma maneira, embora se dissessem “profetas do Senhor”, cometiam adultérios e andavam com falsidade, esforçavam as mãos dos malfeitores para que se não convertessem de seus maus caminhos, tornando o “povo santo” em “Sodoma e Gomorra” (Jr.23:10-14).
- Aqueles que deveriam comunicar ao povo a mensagem do Senhor, encaminhando-os para uma vida de santidade e de sinceridade diante de Deus eram os primeiros a estimular a prática do pecado e a levar o povo para “lugares escorregadios na escuridão”, para “pastos do deserto”, para uma “carreira má e uma força que não é reta”.
- Ao contrário, Jeremias se apresentava como alguém que, diante de tanta falsidade e pecado, tinha o coração quebrantado dentro dele, os seus ossos estremeciam, que se comportava como um homem embriagado, um homem vencido pelo vinho por causa do Senhor e por causa das palavras da Sua santidade (Jr.23:9).
- Como temos nos comportado diante de tanto pecado e tanto mundanismo entre os que cristãos se dizem ser? Estamos ainda tementes ao Senhor, a ponto de nos rendermos totalmente à Sua vontade, como o homem embriagado e vencido pelo vinho, prontos a fazer a vontade do Senhor, renunciando a nós mesmos para não mais vivermos mas Cristo viver em nós? Será que ainda nossos ossos estremecem ao contemplar a seriedade de uma vida santa? Ou já estamos como os falsos profetas dos dias de Jeremias, pouco se importando em viver uma vida hipócrita, uma vida religiosa de aparência, mas sem qualquer receio de pecar e até estimulando o pecado com falsos discursos? Pensemos nisto!
- O certo é que os profetas, que deveriam orientar o povo com a Palavra do Senhor, estavam a enganar o povo e a estimular a prática do pecado, tornando aquele que deveria ser “o povo santo” em uma “Sodoma e Gomorra”. Por acaso, não é visto que temos visto em muitas igrejas locais? Em vez de falarem a Palavra de Deus, a sã doutrina, estão a contar fábulas e amontoar sermões e discursos conforme às concupiscências dos ouvintes (II Tm.4:3,4). Por isso, proliferam as cantorias, os louvorzões, como também se diminui, cada vez mais, o tempo da Palavra em nossos reuniões, a “palavrinha”, como bem definiu o professor Aristóteles Torres de Alencar. Cuidado!
- Vivendo uma vida de pecados, tais profetas só poderiam mesmo ensinar vaidades e falar visões do seu coração, nada trazendo da boca do Senhor (Jr.23:16). Suas mensagens eram agradáveis aos ouvidos do povo, mensagens de paz e de certeza de que nenhum mal viria sobre Judá. Eram
mensagens que somente falavam de bênçãos e de vantagens, sem tocar na questão crucial do pecado que era cometido pelo povo (Jr.23:17). Alguma dúvida de que é isto que estamos a ouvir em quase todos os púlpitos?
- Os “autoprofetas”, como produto do orgulho e da soberba do povo, somente poderiam cumprir seu papel estimulando ainda mais a rebeldia que lhes havia feito nascer no meio do povo. Atrevidos e mentirosos, dizendo ter sido chamados por Deus sem o terem sido, agora estimulavam o ego do povo, procuravam ser simpáticos e agradáveis ao povo, pois eles próprios eram ególatras, fruto da adoração do próprio “eu”, a ponto de se dizerem “porta-vozes de Deus” por conta própria, sem que tivessem sido chamados a tanto. Por isso, suas mensagens sempre são agradáveis e benfazejas, não tocam no assunto do pecado e só vêm a dizer o que o povo quer ouvir. Tomemos cuidado com esta gente!
- Entretanto, embora o povo gostasse de ouvir o que aqueles profetas diziam, tudo isto era abominável ao Senhor. Tais falsas profecias geravam indignação ao Senhor, que mandaria a eles “uma tempestade”, uma “tempestade penosa que cairia cruelmente sobre a cabeça dos ímpios” (Jr.23:19).
- Os falsos profetas não eram mandados pelo Senhor, mas, por isso mesmo, eram oferecidos, vinham correndo trazer suas falsas mensagens (Jr.23:21). Desconfiemos, portanto, dos “profetas” que nunca deixam de ter mensagens, que se apressam em dizer o que estamos a sentir ou a querer. Cuidado, muito cuidado!
- Os falsos profetas trazem mensagens que não estão concordes com a voz do Senhor, em nossos dias, com as Escrituras. São pessoas que não estão no conselho do Senhor nem tampouco permitem que o povo ouça a voz do Senhor. Os falsos profetas “abafam” a voz do Senhor, não permitem que o povo ouça o Senhor, i.e., não querem que o povo aprenda a Palavra de Deus. Limitam-se a contar suas visões, revelações e fábulas, impedindo o acesso à verdade. Quando muito, cuidam de somente eles interpretarem as Escrituras e a exigir que todos sigam o seu entendimento sem qualquer questionamento. Não nos esqueçamos: onde há o Espírito Santo, aí há liberdade (II Co.3:17).
- Nos dias de Jeremias, os falsos profetas fiavam-se muito em seus sonhos. Diziam ter sonhos prognosticadores, sonhos que eram verdadeiras revelações. Não duvidamos de que Deus fala através de sonhos, inclusive ainda hoje, na dispensação da graça, mas devemos ter muito cuidado com os sonhos trazidos pelos “profetas”. Nos dias de Jeremias, estes sonhos eram mentirosos e apenas uma forma de levar o povo a agir conforme os outros povos, que usavam de adivinhos e agoureiros. Não são poucos os que cristãos se dizem ser, na atualidade, que estão a viver como se fossem espiritualistas ou seguidores de cultos afro-brasileiros. Tomemos cuidado, irmãos! Os sonhos devem ser conferidos com as Escrituras Sagradas. Se já era assim nos dias de Jeremias, quando a revelação das Escrituras não estava ainda completa, e Jeremias já informava o povo que o Senhor Deus considerava a Sua Palavra como o martelo que esmiúça a penha (Jr.23:29), que dirá agora quando nada mais se pode acrescentar ao que se encontra na Bíblia Sagrada(Jr.23:25-32). Vigiemos!
- Nosso ilustre comentarista, inclusive, ao tratar do tema desta lição, baseia seu comentário no embate entre Jeremias e Hananias, constante do capítulo 28 do livro de Jeremias, tema, aliás, que foi abordado recentemente na EBD, em lição do trimestre anterior. Aqui temos um belo contraponto entre o verdadeiro profeta e o “autoprofeta”.
- No quarto ano do reinado de Zedequias, quando ainda não havia se rebelado contra o rei de Babilônia (o que parece ter ocorrido entre o oitavo e nono anos de seu governo, à luz de Jr.39:1;
52:4 e II Rs.25:1), surgiu, no templo, o profeta Hananias, filho de Azur, profeta de Gibeão, cidade notabilizada pela presença do altar de cobre do tabernáculo antes da edificação do templo (I Rs.3:4; II Cr.1:3), com uma mensagem que foi proferida na casa do Senhor, perante os olhos dos sacerdotes e de todo o povo, a saber: “Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, dizendo: Eu quebrei o jugo do rei de Babilônia. Depois de passados dois anos completos, Eu tornarei a trazer a este lugar todos os vasos da casa do Senhor, que deste lugar tomou Nabucodonosor, rei de Babilônia, levando-os para Babilônia. Também a Jeconias, filho de Jeoiaquim, rei de Judá, e a todos do cativeiro de Judá, que entraram em Babilônia, Eu tornarei a trazer a este lugar, diz o Senhor: porque quebrarei o jugo do rei de Babilônia” (Jr.28:2-4).
- A mensagem de Hananias contrastava com as profecias que Jeremias e outros profetas de seu tempo (Habacuque, Sofonias e Urias) ou de antes deles (Isaías, Miqueias) estavam a proferir, motivo por que deveriam ser bem analisadas pelo povo, até porque não pode haver profecias contraditórias, pois Deus é o mesmo e Ele não muda. Ademais, ao menos no que respeita a Jeremias, os acontecimentos daqueles últimos anos confirmavam, segundo a lei de Moisés, que Jeremias era um verdadeiro homem de Deus.
- Cumpre observar, por primeiro, que Hananias surge do “nada”, não tinha qualquer história ou indicação de sua procedência. O texto sagrado limita-se a dizer que era filho de Azur e que vinha de Gibeão. Ora, Gibeão, como já dissemos, havia sido sede de parte do tabernáculo depois dos dias de Eli até a edificação do templo (I Cr.16:39; 21:29; I Rs.3:4,5 e II Cr.1:3-6), era uma cidade da tribo de Benjamim que havia sido entregue aos sacerdotes (Js.18:25; 21:17), situada a cerca de 9,5 km a nordeste de Jerusalém.
- Com a edificação do templo em Jerusalém, Gibeão prosseguiu sendo um lugar onde se faziam, indevidamente, sacrifícios e queimas de incenso, um dos mais importantes “altos” que se toleraram ao longo da história de Judá (II Rs.15:35), destruídos que tinham sido por Ezequias, mas restabelecidos por Manassés (II Rs.21:3) e novamente destruídos por Josias (II Cr.34:7).
- Vemos, pois, que Hananias, que também era de linhagem sacerdotal, já que natural de Gibeão, pertencia a uma comunidade que, ao contrário de Jeremias, havia se acostumado a viver em meio à desobediência à lei de Moisés e à idolatria, vez que estes “altos”, entre os quais os de Gibeão era um dos principais, sempre davam margem à idolatria, pois se tratava de uma prática que não tinha guarida na lei de Moisés e que, portanto, permitia que ali se fizesse tudo quanto se repetia entre os povos vizinhos em termos religiosos.
- Isto é elucidativo porque devemos sempre saber a procedência daquele que se diz profeta do Senhor, daquele que se diz mensageiro do Senhor. A verificação da procedência do profeta era primordial para a análise de sua mensagem, já que se tratava de um ofício que não estava legitimado pela sua linhagem. Assim, não bastava que Hananias fosse sacerdote, era preciso que demonstrasse sua procedência, sua educação, seu comportamento para que fosse qualificado como homem de Deus.
- Em nossos dias, não é diferente. Ainda que o ofício profético tenha cessado, no meio do povo de Deus temos, ainda, profetas, mas para o exercício do ministério profético (pregação, elucidação e aplicação da Palavra de Deus à igreja) e o dom espiritual de profecia (exortação, consolação e edificação do Espírito Santo à igreja por meio de mensagens diretas daqueles que receberam este dom por parte do Senhor). Torna-se, porém, indispensável, que tais profecias sejam devidamente julgadas pelo povo de Deus à luz das Escrituras, tendo-se em conta, por primeiro, a procedência do mensageiro (I Co.14:29-33), pois ninguém do imundo tira o puro (Jó 14:4).
- Hananias chegou à casa do Senhor sem que tivesse qualquer atestado de que se tratava de um genuíno e autêntico homem de Deus. Conquanto fosse sacerdote, vinha de lugar suspeito, Gibeão, o que já era suficiente para que fosse recebido com reservas. Entretanto, ao contrário do que se deveria esperar, foi muito bem recebido e trouxe sua mensagem sem qualquer juízo crítico por parte de seu auditório.
- Hananias fez questão de dar sua mensagem aos olhos dos sacerdotes e de todo o povo. Temos aqui uma característica que deve sempre constar de nossa análise daqueles que profetas se dizem ser em nossos dias: querem eles aparecer ou que o Senhor apareça? O maior de todos os profetas exceto o Senhor Jesus que, segundo o próprio Cristo, foi João Batista (Mt.11:11), mostra-nos qual é o comportamento e o espírito do verdadeiro profeta: “É necessário que Ele cresça e que eu diminua” (Jo.3:30).
- Hananias foi até a casa do Senhor porque queria plateia, prestígio e fama. Fez questão de profetizar de onde pudesse ser bem visto primeiramente pelos sacerdotes e, depois, por todo o povo. Hananias fez questão de falar na casa do Senhor, provavelmente no lugar santo ou próximo a ele (não nos esqueçamos de que era sacerdote e tinha acesso ao santuário), para que todos pudessem vê-lo e ouvi-lo, como também identificá-lo.
- Jeremias, muitas vezes, profetizou no templo, mas sua atitude, por primeiro, era decorrência de uma ordem divina e, no mais das vezes, mesmo sendo sacerdote, profetizava no átrio, ou seja, na parte externa do templo, onde todo o povo tinha acesso, a indicar que o seu objetivo era o de ser ouvido pelo povo, não o de aparecer, o de “brilhar”, o de se sobressair, como, infelizmente, ocorre, em nossos dias, com muitos “aparecidos e aparecidas de Jesus”.
- Os falsos profetas têm como que em seu DNA o desejo e a necessidade de autorreconhecimento, de autoglorificação, de exaltação. A soberba é uma característica que lhes é inerente e, por isso, tomam o lugar de Deus, tornando “mensagem de Deus” aquilo que é fruto de suas mentes (Dt.18:20,22). Daí porque termos, hoje em dia, tantos falsos profetas, pois é em nossos dias que se têm os tempos trabalhosos em que prolifera o amor de si mesmo, a soberba e o orgulho (II Tm.3:1-4).
- Hananias fez questão de precisar o tempo do cumprimento de sua profecia. Como produto de sua arrogância e soberba, os falsos profetas querem se mostrar extremamente precisos e objetivos, visto que falam da mente humana, não da parte do Senhor. Sendo verdadeiros instrumentos do inimigo, usam de expressões e artimanhas que impressionam a mente e o raciocínio humanos, pois o diabo é exímio conhecedor das coisas dos homens (Mt.16:23).
- Já as mensagens de Deus, porquanto provenientes de Quem têm pensamentos muito mais altos que os dos homens, como também cujos caminhos são muitos mais elevados que os dos homens (Is.55:8,9), não deixam de ser objetivos e apreensíveis, visto que o objetivo de Deus é o de nos comunicar algo, de nos revelar um segredo até então oculto, mas não deixam de ser enigmáticos, de terem um elemento imponderável, que o homem não consegue alcançar. Assim, por exemplo, ainda que Jeremias tivesse profetizado que o cativeiro duraria setenta anos (Jr.25:11,12; 29:10), o que, inclusive, permitiu que Daniel entendesse que estava a chegar o tempo predito (Dn.9:2), nem por isso tinha condições de saber como e de que maneira Deus o cumpriria (Dn.9:21,22).
- Hananias disse que, em dois anos completos, todos os cativos retornariam, os vasos que haviam sido levados de Babilônia também seriam devolvidos e a paz voltaria a reinar a Judá. Fez questão de precisar a data, “dois anos completos” e de não esquecer quaisquer dos envolvidos na ida ao cativeiro. Isto, certamente, impressionava o povo e os sacerdotes, vez que demonstrava convicção, certeza, credibilidade.
- É assim mesmo que procedem os falsos profetas de nossos dias. Precisam datas, períodos e acontecimentos que, quando não ocorrem, já estão devidamente esquecidos pelo povo, notadamente os que vivem o imediatismo e o corre-corre que caracteriza a nossa época. Muitos destes falsos profetas estão por aí inventando profecias e mais profecias que nunca se cumprem, e o povo, que se esquece ou não sabe o que falaram antes, dá a eles o mesmo crédito, esquecidos de tudo conferir com as Escrituras Sagradas. Tomemos cuidado, igreja!
OBS: Tomemos, por exemplo, o caso de Benny Hinn que, inadvertidamente, muitos salvos consideram ser um homem de Deus: “…No ano de 1989, Hinn afirmou que estava diante do trono de Deus (Deus falava através dele), e que lhe comunicou que iria destruir a comunidade homossexual com fogo entre 1994-95, e que uma doença originária da América do Sul chegaria aos EUA, porém nada disso aconteceu. No ano de 1990 afirmou que os EUA seriam assolados por terremotos e outros eventos destruidores. Afirmou, ainda, que um colapso econômico destruiria a economia dos EUA, porém, nada disso também aconteceu…” (O BEREANO. As heresias de Benny Hinn. Disponível em: http://obereano.blogspot.com/2008/06/as-heresias-de-benny-hinn.html Acesso em 06 abr. 2010).
- A mensagem de Hananias era extremamente agradável ao povo, que estava abalado com os eventos desconcertantes que haviam ocorrido. Ao dizer que o cativeiro cessaria e tudo e todos retornariam ao estado anterior, Hananias trazia uma mensagem que todos queriam ouvir. Eis mais uma característica dos falsos profetas: como perfeitos enganadores, eles falam exatamente o que o povo quer ouvir. Eles projetam o desejo e vontade das pessoas e as transformam em pseudomensagens divinas. Esta projeção incentiva e estimula a credulidade das pessoas e satisfaz o desejo do falso profeta de ser exaltado e obter vantagens com sua falsa mensagem.
- Como diz o ditado popular, “junta-se a fome com a vontade de comer”. O falso profeta está atrás de prestígio, poder e fama e, para tanto, agrada quem pode lhe fornecer isto. O auditório, por sua vez, por ouvir aquilo que está de acordo com seus sentimentos, desejos e vontades, aceita o que é dito irrefletidamente e confere ao seu portador o prestígio, o poder e a fama que ele está a procurar. Não é à toa que o apóstolo Pedro diz que tais homens têm prazer nos deleites cotidianos, deleitam-se em seus enganos e banqueteiam com os seus ouvintes, não cessando de engodar as almas inconstantes (II Pe.2:12-15).
- A mensagem dos falsos profetas tem sempre em mira o agrado do “eu”, o egoísmo do homem, a sua vaidade, o seu bem-estar em termos de satisfação de desejos, de exaltação de sua natureza carnal, pois são mensagens provenientes de quem é dominado pela carne e não pelo espírito, porque são pessoas que não têm o Espírito Santo (Rm.8:8,9).
- Hananias apenas disse aquilo que os sacerdotes e o povo queriam ouvir: que o Senhor, independentemente de qualquer atitude dos judaítas, faria cessar o cativeiro da Babilônia e “tudo voltaria a ser como dantes no quartel de Abrantes”. Era o que mais o povo de Judá queria ouvir.
- E aqui temos mais uma característica da mensagem dos falsos profetas: a total ausência de menção a pecado e a necessária conversão. Hananias disse que, em dois anos completos, o cativeiro cessaria e tudo retornaria ao estado anterior à invasão de Nabucodonosor. Mas, o que deveria o povo fazer para que isto acontecesse? Nada, absolutamente nada! E o pecado do povo? Nenhuma menção a respeito. Mas Deus não havia mandado o povo ao cativeiro por causa da desobediência? Nenhuma alusão a este fato. Por que Deus haveria de mudar a Sua determinação se não tinha ocorrido qualquer mudança de conduta para o povo? Não se falou sobre isto. Deus iria trazer tudo e todos de volta porque era a Sua vontade, independentemente de qualquer atitude por parte do povo.
- Ora, tal mensagem contraria tudo quanto Deus tinha falado por boca de Jeremias até então, mas isto não importava para o povo. O povo queria saber que seria abençoado, independentemente de estar no pecado. O povo queria saber que Deus “havia voltado atrás”, apesar dos pecados do povo. Judá tinha, enfim, encontrado um profeta que o dispensava de viver em santidade.
- É precisamente a situação em que vivemos em nossos dias. O povo está atrás de quem lhes traz mensagens segundo as suas próprias concupiscências (II Tm.4:3). Não estão interessados em santificação, em se separar do pecado, mas em ser abençoados, em ouvir promessas que estejam de acordo com seus desejos e “sonhos”, mas mensagens em que não se fala, em momento algum, sobre a necessidade de se arrepender dos pecados. Rejeitemos tais mensagens, pois são falsas. O Evangelho de Cristo nada mais é que pregar que “o tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc.1:15).
OBS: Ah, nunca se falou tanto em “sonhos” e em “projetos” nos púlpitos como em nossos dias, as páginas da história de José, aliás, são uma das mais gastas das Bíblias nos dias de hoje, Já existem até aqueles que puseram Deus para dormir a fim de que Ele também venha a sonhar. Acordemos, igreja, rejeitemos toda esta falsidade!
- A profecia tem como uma de suas principais funções precisamente a de impedir a corrupção do povo (Pv.29:18), a de trazer consolação, exortação e edificação (I Co.14:3). Assim, não há como escaparmos de mensagens que repreendam o pecado e reforcem a vigilância e a santificação do povo de Deus. Profecias que tão somente “alisam”, “agradam” e “enaltecem” devem ser vistas, no mínimo, com muita desconfiança, pois as Escrituras dizem que devemos nos negar a nós mesmos para seguir a Jesus e, sendo assim, em nada contribui a autoexaltação que certas “profetadas” trazem para o povo, até porque o poder de Deus Se manifesta para lembrarmos que somos meros homens (Sl.9:19,20), que Deus é verdadeiro e todo homem, mentiroso (Rm.3:4).
- Diante de tal profecia, que certamente alegrou a todo o povo, Jeremias, que se encontrava na casa do Senhor, impulsionado por Deus, dirigiu-se a Hananias, aos sacerdotes e ao povo (Jr.28:5). Notemos que o fato de ter falado naquele lugar se deu por força das circunstâncias, da própria escolha premeditada de Hananias, o que, de pronto, retira de Jeremias qualquer demonstração de soberba. Lembremos, também, que, por ordem do Senhor, Jeremias estava andando com um jugo de madeira no pescoço, simbolizando que o povo estaria sob o jugo do rei de Babilônia e deveria se manter submisso a Nabucodonosor (Jr.27:2), desde o início do reinado de Zedequias.
- Jeremias, ao se dirigir a Hananias, mostrou que seu desejo, também, era de que tudo quanto Hananias havia profetizado se realizasse (Jr.28:6). Jeremias era um judaíta como todos os demais, e, como tal, queria que o povo que havia sido cativo retornasse à sua terra e que tudo voltasse a ser como antes da invasão babilônica. Jeremias era um patriota e alguém que amava o seu povo. Entretanto, como profeta autêntico de Deus, Jeremias sabia que devia separar a sua vontade da vontade de Deus, os seus desejos e sonhos daquilo que o Senhor queria.
- É importante vermos nesta expressão do profeta uma sinceridade que tem de estar presente em todo aquele que serve a Deus. O fato de sermos servos do Senhor não nos retira a condição de seres humanos e, como tal, temos a nossa própria vontade. Deus criou-nos com vontade (que é uma das faculdades da alma) e esta vontade é independente da vontade de Deus. Uma das provas de que Jesus encarnou e Se fez homem é, precisamente, o fato de que possuía uma vontade independente da vontade divina, como nos mostra, claramente, o episódio do Getsêmane (Mt.26:39).
- A vontade de Jeremias era de que Deus confirmasse o que Hananias havia profetizado e tornasse a trazer os vasos da casa do Senhor e todos os cativos da Babilônia. Nesta expressão do profeta, porém, Jeremias já mostrava que Hananias não havia falado da parte do Senhor. Ao dizer que desejava a confirmação, Jeremias já estava a dizer que Hananias falara de si mesmo, não da parte do
Senhor. Sua vontade era a confirmação divina, mas, em momento algum, Jeremias, que tinha o Espírito Santo, por ser profeta, deixou-se iludir com a procedência da mensagem de Hananias. Hananias falara de si mesmo, da carne, não da parte de Deus.
- Hoje em dia não pode ser diferente. Nós, que servimos a Deus, devemos ter o devido discernimento para não sermos enganados pelos falsos profetas. Jeremias tinha intimidade com Deus, conhecia as Escrituras e tudo quanto Deus lhe havia falado ao longo daqueles anos (33 anos de ministério) e, por isso, bem sabia que a mensagem de Hananias era falsa, visto que contrariava a tudo quanto Deus lhe havia falado ao longo daqueles anos e do que estava na lei. Somente uma vida de comunhão com Deus, de santificação, meditação nas Escrituras e intimidade com o Senhor pode nos livrar do engano dos falsos profetas. Como está a nossa vida com Deus? Como está o nosso nível de discernimento espiritual?
- Muitos agem, na atualidade, como Hananias. Manifestam seu desejo, põe em ação os seus projetos para só depois pedir a confirmação do Senhor. Tal atitude é demonstração de soberba e de autossuficiência, condutas inadmissíveis na vida de quem se diz servo do Senhor. Se somos servos, não temos iniciativa própria; se somos servos, não mandamos, simplesmente obedecemos; se somos servos, devemos levar ao Senhor nossos desejos e vontades e submetê-los à vontade do Senhor.
- Jeremias, após mostrar que não queria o mal do povo, trouxe, então, a mensagem do Senhor; “Mas ouve agora esta palavra, que eu falo aos teus ouvidos e aos ouvidos de todo o povo: os profetas que houve antes de mim e antes de ti, desde a antiguidade, profetizaram contra muitas terras, e contra grandes reinos, guerra, e mal, e peste. O profeta que profetizar paz, quando se cumpra a palavra desse profeta, será conhecido por aquele a quem o Senhor na verdade enviou” (Jr.28:7-9).
- Em sua mensagem, Jeremias mostrava um contraponto com Hananias. Por primeiro, apesar de estar há 33 anos profetizando em Judá e de suas profecias terem tido cumprimento até então, Jeremias, em momento algum, sequer se menciona como um homem de Deus ou um parâmetro para verificação das profecias que fossem proferidas ao povo de Judá.
- Jeremias era avesso à vaidade e à autoexaltação, apesar de ter uma longa “folha de serviços prestados” ao Senhor e apesar de suas profecias se confirmarem durante todos aqueles anos. Jeremias não queria se mostrar grande nem qualquer louvor para si. Que exemplo para os salvos de nossos dias, muitos dos quais se firmam em seus anos de ministério e, em cima deles, exigem subserviência de todos os demais.
- Jeremias simplesmente mencionou que profetas anteriores a ele e a Hananias já haviam profetizado a respeito de guerra, mal e peste não só para Judá mas para as nações circunvizinhas, de modo que a profecia de Hananias estava a destoar de tudo quanto se havia profetizado até então. Certamente, Jeremias trazia à memória do povo o histórico destas profecias que, aliás, tinha sido o argumento que levara, 15 anos antes, Jeremias à absolvição por parte dos príncipes do povo, quando tentaram condená-lo à morte (Jr.26:16-20,24).
- Jeremias não humilhou Hananias, chamando-o diretamente de mentiroso ou soberbo, mas convidou aquele profeta a refletir sobre o teor de sua mensagem e o histórico de profecias que havia sobre Judá e as nações circunvizinhas, a fim de que ele pudesse retroceder e cessar aquela loucura, que era a de se fazer profeta do Senhor, proferindo palavras que o Senhor não mandara dizer, até porque o próprio Jeremias já havia profetizado com relação aos falsos profetas num período relativamente recente, não mais do que quatro anos antes deste episódio (Jr.23:14-26).
- A mensagem do verdadeiro profeta não humilha pessoa alguma, pois Deus fez o homem à Sua imagem conforme a Sua semelhança (Gn.1:27) e, portanto, dotou-o de dignidade que é ínsita a seu ser. Como afirma, de forma muito feliz, o Catecismo da Igreja Romana: “Criados à imagem do Deus único, dotados de uma mesma alma racional, todos os homens têm a mesma natureza e a mesma origem. Resgatados pelo sacrifício de Cristo, todos são convidados a participar na mesma felicidade divina; todos gozam, portanto, de igual dignidade (art.1934)”.
- Por isso, nenhuma mensagem divina avilta a dignidade da pessoa humana, e o exemplo que nos dá Jeremias é elucidativo. Sem ferir a dignidade de Hananias e sem se exaltar, Jeremias apresenta a reprovação da mensagem proferida por este falso profeta, convidando-o, simultaneamente, ao retrocesso, para que não viesse a sofrer as consequências de sua mentira.
- Outra característica da mensagem de Jeremias é a de que ela se firmava no que Deus já havia falado no tempo de antanho. Apesar de ser um profeta da antiga aliança e que, portanto, tinha mensagens de acréscimo à revelação divina, Jeremias fazia questão de mostrar que a mensagem verdadeira não mudava nem desmentia tudo quanto fora falado anteriormente da parte de Deus, porque Deus não muda (Ml.3:6), nEle não há mudança nem sombra de variação (Tg.1:17).
- Nos dias hodiernos, em que a revelação divina já se completou na pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Jo.15:15; Ap.22:18,19), cujo testemunho se encontra nas Escrituras (Jo.5:39), há pessoas que tentam trazer acréscimos à revelação divina, inclusive que desmente ou altera tudo quanto foi revelado pelos homens que escreveram inspirados pelo Espírito Santo (II Pe.2:21). Fujamos desta gente, pois ela é enganadora e mentirosa, pois a Palavra do Senhor é a verdade (Jo.17:17) e o que não está de acordo com a verdade nada mais é que mentira.
- Diante daquela palavra, que fez Hananias? Investiu contra a pessoa do profeta Jeremias, tomando o jugo do pescoço do profeta e o quebrando e trazendo mais uma profecia, aos olhos de todo o povo: “Assim diz o Senhor: assim quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei de Babilônia, depois de passados dois anos completos, de sobre o pescoço de todas as nações” (Jr.28:11).
- Com esta atitude, Hananias traz-nos outras características dos falsos profetas. A primeira delas é a dureza de cerviz. Além de soberbos e arrogantes, os falsos profetas não retrocedem nem dão ouvidos à voz do Senhor. São verdadeiros apóstatas, que não admitem a hipótese do arrependimento. Quem chega a ser um falso profeta está num estado espiritual terrível, de dificílima restauração. Apesar da oportunidade de retrocesso que a mensagem de Jeremias lhe dava, Hananias preferiu manter a sua posição, “não aceitar o desaforo”. Quantos não estão a proceder assim em nossos dias!
- Hananias, então, investiu contra a pessoa de Jeremias. Eis outra característica dos falsos profetas. Como ninguém pode se voltar contra a verdade (II Co.13:8), buscam atacar o mensageiro, querendo tirar-lhe a credibilidade, exponenciando a sua imperfeição (pois não há homem perfeito). Na retórica, temos um exemplo típico disto: o chamado argumento “ad personam” ou argumento “ad hominem”, que consiste em atacar a pessoa num determinado debate ou discussão, desviando o foco da mensagem para o mensageiro.
- Hananias sabia que Jeremias não era bem visto pelo povo, visto que sua mensagem o incomodava. Assim, investiu contra a pessoa do profeta, tomando-lhe o jugo que carregava pelo menos há uns três anos no pescoço, algo que devia incomodar o povo e lhe trazer desgosto e ressentimento.
- Assim procedem os falsos profetas atualmente: sem ter como se contrapor aos bíblicos ensinos dos pregoeiros da justiça e da verdade, atacam os pregadores e buscam desqualificá-los diante do povo.
Tomemos cuidado com os comunicadores hábeis de nossos dias, que dominam, como ninguém, a mídia e a chamada “comunicação de massa”. Muitas vezes estamos sendo levados a nos iludir pelos bonitos discursos, dotados de toda a tecnologia, que nos fazem errar, mudando o foco da mensagem, que é a Palavra de Deus, para os homens. Vigiemos!
- Hananias investiu contra o profeta e não se descuidou de fazê-lo diante dos olhos de todo o povo. Como um falso profeta modelar, não podia deixar de ter plateia e de querer aparecer. Hananias queria mostrar toda a sua “coragem” e “credibilidade”, fazendo o que muitos tinham vontade mas não se atreviam a fazer: quebrar aquele jugo do pescoço de Jeremias, símbolo do vitupério do povo de Judá.
- Jeremias não correu nem resistiu à investida de Hananias. Permaneceu inerte e calado, deixando Hananias fazer o seu “espetáculo”, que é outra característica dos falsos profetas. Ante o seu “estrelismo”, os falsos profetas gostam de “shows”, “espetáculos”, “frenesi”, pois, em tais ambientes, não há, mesmo, espaço para a reflexão e meditação, não havendo risco algum de alguém perceber que tudo ali não passa de engano e encenação. Temos nos submetido à condição de “macacas de auditório” dessa gente?
- De forma teatral, quebrando o jugo de madeira feito por Jeremias e que estava em seu pescoço, Hananias reafirmou a sua falsa profecia, dizendo que, em dois anos completos, o povo levado cativo e os vasos da casa do Senhor retornariam de Babilônia e, mais, disse que não só Judá mas todas as nações se livrariam de Nabucodonosor. Exatamente o que o povo queria ouvir, tudo conforme já se encontrava no coração de Zedequias que, não muito tempo depois, quebraria a sua submissão a Babilônia (Ez.17:12-24), apesar de isto ser uma quebra de juramento, algo que era expressamente vedado pela lei de Moisés (Dt.30:2).
- Hananias, como todo falso profeta, despertou a emoção do povo, fez uma bela encenação e, no meio daquilo tudo, proferiu uma mentira, contrariou expressamente o que Deus havia dito ao povo, seja através da lei, seja através das profecias. Certamente, neste momento, o povo se alegrou e Hananias alcançou a sua fama e prestígio que tanto buscava. E Jeremias? Simplesmente saiu dali, seguindo o seu caminho (Jr.28:11).
- Jeremias poderia ter levantado a voz, contrariado o povo, resistido à investida de Hananias. Entretanto, Deus não lhe mandou fazer coisa alguma e, por isso, já sem o jugo no pescoço, Jeremias não teve outra coisa a fazer senão seguir o seu caminho, pois, como homem de Deus, tinha de aguardar a direção e orientação do Senhor. Será que temos procedido assim ou “o sangue esquenta” e resolvemos tomar as nossas atitudes. Cuidado!
- Entretanto, não sabemos quanto tempo depois, o fato é que Deus mandou que Jeremias fosse até Hananias e lhe desse uma mensagem, a saber: “Assim diz o Senhor: jugos de madeira quebraste, mas em vez deles farás jugos de ferro. Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: jugo de ferro pus sobre o pescoço de todas estas nações, para servirem a Nabucodonosor, rei de Babilônia, e o servirão, e até os animais do campo lhe dei.(…). Ouve agora, Hananias: não te enviou o Senhor, mas tu fizeste que este povo confiasse em mentiras. Pelo que assim diz o Senhor: eis que te lançarei de sobre a face da Terra, este ano morrerás, porque falaste em rebeldia contra o Senhor” (Jr.28:14-16).
- Por primeiro, não está escrito onde Jeremias se encontrou com Hananias para lhe dar esta mensagem. O texto, porém, permite-nos deduzir que não foi “aos olhos dos sacerdotes e de todo o povo”. Deus não precisa de espetáculo, nem é de Sua natureza o aviltamento do ser humano, o desatendimento à dignidade da pessoa humana.
OBS: “…A pessoa humana há de ser sempre compreendida na sua irrepetível e ineliminável singularidade. O homem existe, com efeito, antes de tudo como subjetividade, como centro de consciência e de liberdade, cuja história única e não comparável com nenhuma outra, expressa a sua irredutibilidade a toda e qualquer tentativa de constrangê-lo dentro de esquemas de pensamento ou sistemas de poder, ideológicos ou não. Isto impõe, antes de tudo, a exigência não só do simples respeito por parte de todos, e especialmente, das instituições políticas e sociais e dos seus responsáveis nos cuidado para com cada homem desta terra, mas bem mais, isto comporta que o primeiro compromisso de cada em relação ao outro e sobretudo destas mesmas instituições, seja precisamente a promoção do desenvolvimento integral da pessoa.” (PONTIFÍCIO CONSELHO DE JUSTIÇA E PAZ. Compêndio da doutrina social da Igreja. nº 131, pp.82-3) (destaques originais)
- Por segundo, vemos que a falsa profecia não foi considerada um ataque a Jeremias, mas, sim, um ataque diretamente a Deus. O Senhor não Se referiu, em Sua mensagem a Hananias, em momento algum, ao profeta, mas ao jugo que Jeremias portava no pescoço por ordem de Deus. Não nos iludamos: quem ataca um servo do Senhor não ataca uma pessoa humana, mas ataca o próprio Deus. Lembremo-nos da expressão utilizada pelo Senhor Jesus a Saulo de Tarso: “Eu sou Jesus, a Quem tu persegues” (At.9:5). Não levemos os ataques que sofremos quando fazemos o que Deus manda para o lado pessoal, pois elas não se dirigem a nós, mas ao Senhor Jesus. “A peleja não é vossa, senão de Deus” (II Cr.20:15 “in fine”). Aleluia!
- Por terceiro, Deus confrontou a falsa profecia com a palavra que já havia sido proferida anteriormente. Ante a mentira, Deus sempre reafirma a verdade. Mostrou ao falso profeta Hananias que, em vez do jugo de madeira quebrado, viriam jugos de ferro e que todas as nações serviriam Nabucodonosor. A mensagem divina sempre evidencia a verdade, traz à memória aquilo que Deus já tem falado. A mensagem divina enaltece a verdade porque vem diretamente da Verdade (Jr.10:10). Toda mensagem vinda da parte de Deus jamais deixará de realçar a Palavra de Deus.
- Por quarto, Deus revelou a falsidade de Hananias. Sem aviltar ou humilhar o falso profeta, ante a sua dignidade como pessoa humana, Deus tornou público que Hananias não havia sido enviado para profetizar, que se tratava de um “oferecido”, não de um “chamado”. Deus não Se deixa escarnecer, irmãos, e tudo quanto está oculto há de ser revelado para que o povo de Deus não seja confundido (Mt.10:26). O objetivo de Deus é didático, Ele procura ensinar e orientar Seu povo, nunca humilhar ou aviltar o homem, ainda que seja um falso profeta.
- Por quinto, a mensagem vinda da parte de Deus nem sempre é agradável, é tão somente verdadeira. Como Hananias havia feito, com suas mentiras, aumentar o erro do povo, que, ante toda aquela encenação, crera na mentira proferida, o falso profeta seria punido com a morte. Dentro do prazo de um ano, Hananias morreria, para que o povo, desde já, soubesse que Hananias havia mentido.
- Alguém pode argumentar dizendo: mas onde estava a misericórdia de Deus? Por que Deus resolvera matar Hananias? Não é Ele um Deus de amor? Sem dúvida que Deus é um Deus de amor e, por isso, apesar de toda a falsidade e soberba do profeta, permitiu que ele retrocedesse quando Jeremias proferiu sua mensagem diante dos sacerdotes e do povo. Tivesse Hananias se humilhado ali, não sofreria qualquer pena. Entretanto, ao em vez de se humilhar, Hananias prosseguiu na sua mentira e, inclusive, mostrando dureza de cerviz, atacou o homem de Deus e destruiu o jugo que o Senhor havia mandado Jeremias colocar. À Soberba seguiu-se uma deliberada rebelião contra o Senhor, a ilustrar a rebelião que estava incentivando o povo de Judá a cometer ante as palavras do Senhor. Estávamos diante da figura do pecado voluntário, da rebeldia deliberada contra o Espírito de Deus, por parte de um sacerdote que se fizera profeta. Todos os limites da redenção haviam sido ultrapassados.
- Por sexto, ao contrário da precisão matemática da mentira de Hananias, a profecia de Jeremias mantinha-se um tanto quanto enigmática. Foi dado um período de um ano para a morte de Hananias. Não se estabeleceu data certa, precisamente porque a mensagem era mesmo de Deus e, como tal, não submetida ao raciocínio humano.
- Por sétimo, a profecia mostrou-se de Deus quando de seu cumprimento. Passados dois meses da falsa profecia, Hananias morreu (Jr.28:17). Havia feito o espetáculo no quinto mês, morreu no sétimo. Havia prometido livramento do cativeiro dentro de dois anos completos, morria dois meses completos depois. E, dois anos depois, confirmava-se a sua mentira, com o não acontecimento de coisa alguma do que profetizara. Tomemos cuidado para que não venhamos também, em nossa dureza de cerviz, perder a vida eterna.
III – OS FALSOS PROFETAS NO ANTIGO TESTAMENTO – OS “PROFETAS APÓSTATAS”
- A terceira classe de falsos profetas é a dos “profetas desviados”, ou seja, profetas genuínos do Senhor que, lamentavelmente, por causa da soberba, da vaidade, acabam perdendo a direção de Deus, contaminando as suas vestes espirituais e deixando de ser usados por Deus, tornando-se instrumentos do maligno para corromper e enganar o povo de Deus.
- Este é tipo mais perigoso de falso profeta, porque seu poder corruptor é bem maior, visto que tem um passado de verdade, uma “folha de autênticos serviços prestados ao Senhor”, que pode levar muitos servos do Senhor a ser enganados, se se fiarem tão somente na “memória”, deixando de lado o discernimento espiritual. Este, aliás, é o tipo mais presente nos últimos dias, como nos indica o apóstolo Pedro (II Pe.2:1).
- Já falamos a respeito desta gente ao analisarmos, em lição anterior, Balaão, que é o protótipo desta classe de profetas, um homem que, por causa do “prêmio da injustiça”(II Pe.2:15), foi reduzido de profeta à condição de simples adivinho (Js.13:22), atingido pela destruição e morte (Nm.31:8).
- Esta classe de profetas é formada por pessoas que foram chamadas pelo Senhor para serem profetas mas que, ao longo de seus ministérios, abandonam o Senhor, porque passam a amar as coisas desta vida, porque preferem viver em pecado, ter o gozo do pecado por um pouco de tempo, o que as diferencia diametralmente de Moisés, que, pelo contrário, se recusou a ter o gozo temporário do pecado, preferindo sofrer com o povo de Deus (Hb.11:24-27). Esta classe dos falsos profetas não resiste às coisas visíveis e abandona a “visão espiritual” pela “visão material”, troca o que não se vê, o que é revelado por Deus pelo que se pode ver e apalpar neste mundo.
- Esta mudança de postura é imperceptível aos olhos naturais do homem e aí se encontra o grande perigo que estes falsos profetas representam. Como disse o Senhor Jesus, são lobos vestidos de ovelhas, ou seja, na aparência, no aspecto exterior são ovelhas, não diferem em coisa alguma dos verdadeiros e genuínos servos do Senhor, mas, em seu interior, são lobos, ou seja, sua contaminação, seu desvio é espiritual, está no seu interior, no seu coração, que não é visto senão por Deus (I Sm.16:7).
- No Talmude, segundo livro sagrado do judaísmo, é dito que Balaão, que é chamado de “o perverso”, tinha três características: olho mau, temperamento altivo e espírito imodesto. Esta observação da tradição judaica em tudo é consonante com as Escrituras, pois revelam características internas do falso profeta, imperceptíveis aos olhos humanos, que somente podem ser aferidas pelo discernimento espiritual.
OBS: Reproduzimos aqui o texto do Talmude, no seu tratado “Pirke Avot”: “Quem tiver os três atributos seguintes é um discípulo de Abraão, nosso pai, mas (se ele tiver) as três outras características (que seguem) é um discípulo de Balaão, o perverso.(Se alguém tiver) um olho bom, um temperamento humilde e um espírito modesto (ele é) dos discípulos de Abraão, nosso pai; (se ele tiver) um olho mau, um temperamento altivo e um espírito imodesto (ele é) um dos discípulos de Balaão, o perverso. Que diferença há entre os discípulos de Abraão, nosso pai e aqueles de Balaão, o perverso? Os discípulos de Abraão, nosso pai, desfrutam deste mundo e herdam o mundo vindouro, pois foi dito: „Proverei uma boa herança aos que Me amam e tornarei substanciais os seus tesouros (Pv.8:21). Mas os discípulos de Balaão, o perverso, herdam o inferno e descem ao poço da perdição, como foi dito: „E Tu, ó Deus, os precipitarás ao poço da perdição, homens sanguinários e impostores não viverão a metade de seus dias, mas eu confiarei em Ti(Sl.55:24).” ( Pirke Avot 5:22. In: BUNIM, Irving M. A ética do Sinai, p.399) (transcrição com adaptações nossas).
- O “profeta apóstata” iniciou sua carreira como um homem chamado por Deus e nisto ele se diferencia das outras classes já mencionadas. Tendo sido chamado por Deus, efetivamente exerceu o ministério profético, tendo sido um instrumento genuíno e autêntico nas mãos do Senhor.
- Por causa disso, atendeu a todos os três critérios e testes exigidos pela lei para ser confirmado como profeta diante do povo. Apresentou ao povo, por primeiro, uma vida santa, um testemunho de vida diante da presença do Senhor. Balaão era reconhecido como um homem de Deus por várias nações, a ponto de Balaque ter mandado procurá-lo pois se sabia que, realmente, era um homem que tinha visões de Deus (Nm.24:4,15,16).
- Mas, além de um testemunho irretocável, o “profeta apóstata” também, no início de seu ministério, também satisfaz o teste do cumprimento de sua profecia. Tudo quanto diz acontece, tanto que Balaão foi procurado por Balaque, precisamente porque quem ele abençoava, era abençoado e quem ele amaldiçoava, era amaldiçoado (Nm.22:6), o que punha Balaão no mesmo patamar de Abraão (Gn.12:3), não por acaso chamado de profeta pelo próprio Deus (Gn.20:7), pronunciamento divino que se confirmou com o sarar proporcionado às mulheres do povo de Abimeleque após a oração intercessória do patriarca (Gn.20:17,18).
- Como se não bastasse isso, no início de seu ministério, o “profeta apóstata” também traz mensagens que são concordes à lei, que estão de acordo com a vontade do Senhor, que não a contrariam, tanto que Balaão faz questão de dizer aos emissários de Balaque que está pronto a obedecer a Deus (Nm.22:13).
- Se formos, pois, nos basear no passado, na “memória”, seremos facilmente enganados pelo “profeta apóstata”, pois ele era, na verdade, um profeta do Senhor, genuíno e autêntico até um determinado instante de sua vida, quando, lamentavelmente, “ama o prêmio da injustiça”. Neste determinado instante, por ter “o olho mau”, cai em densas trevas espirituais (Mt.6:22,23), tornando-se interiormente “um lobo devorador”.
- “…um „olho mau caracteriza alguém cuja alma é invejosa e avarenta, que privará alegremente os demais de sua boa fortuna. E Bilam [Balaão, observação nossa] certamente pertencia a esta categoria. Ele não conhecia os israelitas pessoalmente; nunca os visitara, tratara ou vivera com eles. E, mesmo assim, estava ansioso para amaldiçoá-los, desde que Balac lhe dera a oportunidade. O Todo-Poderoso lhe disse que não respondesse ao chamado de Balac para amaldiçoar os israelitas pois estes eram abençoados. Bilam esperou por uma segunda mensagem divina, caso Ele „mudasse de ideia. Dando-lhe suficiente corda para se enforcar, o Todo-Poderoso deixou-o ir, com o alerta de que ele só poderia dizer o que o Céu permitisse. Ainda assim, Bilam levantou-se pela manhã, selou sua jumenta (não aguentando esperar até que seus servos o fizessem) e foi-se aparentemente com a
esperança de que ainda houvesse alguma „brecha por onde ele conseguisse amaldiçoá-los. Seu olho era verdadeiramente malvado.… (BUNIM, Irving M. op.cit., p.401).
- O “profeta apóstata” tem o olho mau e, por isso, deixa de ter as visões de Deus, para ter as visões do seu bem-estar, do seu proveito próprio. Por isso, não raro, tais profetas se tornam escravos do dinheiro, servos de Mamom. Não é por acaso que, após falar do “olho mau”, o Senhor Jesus, no sermão do monte, fala precisamente da servidão ao dinheiro (Mt.6:24), como também tenha o profeta Miqueias aludido ao fato de os profetas de seu tempo adivinharem por dinheiro (Mq.3:11). A avareza tem sido o móvel que tem desviado muitos profetas dos caminhos do Senhor (II Pe.2:3).
- Por isso, aderimos à recente campanha lançada pelo pastor Geremias do Couto (http://geremiasdocouto.blogspot.com/2010/06/uma-campanha-para-mudar-igreja.html) e pelo irmão Judson Canto (http://judsoncanto.wordpress.com/2010/06/25/um-choque-de-humildade-quem-se-habilita/) em seus blogs, respectivamente Manhã com a Bíblia (http://geremiasdocouto.blogspot.com/) e O Balido (http://judsoncanto.wordpress.com/) que visa mudar as igrejas locais, o que para nós significa fazê-las tornar às “veredas antigas” (Jr.6:16), um dos pontos é, precisamente, banir do cotidiano de nossas igrejas os mercenários, “cantores” e “pregadores” profissionais, que têm todas as características dos “profetas apóstatas”, já que movidos são por dinheiro e nada mais. Tiremos este laço que só levará homens e mulheres ao engano e à perdição!
OBS: Como diz querido e amado irmão que conosco frequenta as reuniões dos professores e amigos da EBD na AD do Belenzinho, São Paulo/SP, a situação hoje é tão terrível que é como se, em um saquinho, estivessem o diabo e o dinheiro. Há momentos em que o diabo nem precisa sair do saquinho para perturbar a obra de Deus, o dinheiro, sozinho, já se encarrega de fazer o estrago…
- “O profeta apóstata”, entretanto, também tem o temperamento altivo, é orgulhoso, soberbo, como, aliás, é característica de todo falso profeta, como já vimos supra com relação ao “autoprofeta” ( e o “profeta idólatra” não é diferente, visto que a idolatria é resultado da soberba humana, como bem nos mostra o apóstolo Paulo em Rm.1:21-23). “…Seu temperamento [de Balaão, observação nossa] era de fato arrogante.(…) quando os primeiros emissários de Balac se apresentaram a Bilam nessa mesma noite, o Todo-Poderoso lhe negou permissão para amaldiçoar Israel e pela manhã Bilam ainda seguia sem poder admitir tal proibição, como uma criança em idade escolar. „Levantou-se, pois, Bilam pela manhã e disse aos príncipes de Balac: Ide a vossa terra, porque o Eterno recusa-me a permitir-me ir convosco (Nm.22:13), querendo dizer: „Deveria, então, ir com vocês? Só iria com homens mais importantes. Balac compreendeu as implicações „e Balac tornou a enviar outros príncipes a Bilam, em maior número e mais distintos que aqueles (Nm.22:15)…” (BUNIM, Irving M. op.cit., p.402).
- Em virtude de seu “olho mau”, o profeta passa a se idolatrar, a tudo fazer pensando unicamente em si e em seu bem-estar, motivo por que se apresenta orgulhoso, soberbo, sem qualquer amor em relação ao próximo. Ama (ou pensa amar) a si mesmo, querendo e buscando tão somente a satisfação da sua vaidade. Por isso, busca fama, posição social, riqueza e a autoexaltação. Nos dias em que vivemos, o falso profeta não pode deixar de ser “midiático”, uma “estrela”.
- Esta busca do estrelato faz com que o “profeta apóstata”, a exemplo do “autoprofeta”, passe a proferir mensagens simpáticas, agradáveis, que ajuntem multidões. Assim como os “autoprofetas”, a fim de se manter “na crista da onda”, o “profeta apóstata” abre mão do discurso contra o pecado, pois sua finalidade não é transmitir a voz de Deus, mas o que é agradável e apreciado pelo auditório.
- Balaão, embora estivesse a abençoar o povo de Israel, queria, de todo jeito, agradar a Balaque para ter acesso ao “prêmio da injustiça” e, por isso, aceita todas as artimanhas feitas pelo rei moabita para ver se, diante daqueles supostos “dribles”, pudesse impedir a ação divina abençoadora sobre Israel. Assim, após ter profetizado diante de todo o povo, abençoando-o, aceitou a oferta de Balaque de profetizar tendo à sua vista apenas a última parte de Israel (Nm.23:13) e, depois de, por segunda vez ter abençoado o povo, resolveu, por conta própria, profetizar de costas para o povo (Nm.24:1), o que também foi inócuo.
- Igual conduta encontramos no profeta velho (I Rs.13:11-32), outro exemplo bíblico de “profeta apóstata”, que, para se fazer agradável a Jeroboão, foi atrás do homem de Deus que profetizara contra o rei e contra seu altar, visando trazer alguma “vantagem” para si e para os seus às custas do jovem profeta. Para tanto, não temeu sequer mentir para o homem de Deus, dizendo que um “anjo” lhe havia dado uma contraordem daquilo que havia sido ordenado pelo Senhor. Quantos assim não procedem em nossos dias? 
 Por: Caramuru Afonso Francisco

Nenhum comentário:

Postar um comentário