A GRANDE QUESTÃO DO CAMINHO É “COMO” VOCÊ CAMINHA
Meu
amigo Sören Kierkegaard disse que o importante no caminho é sempre o
“como”. E quando disse isto ele estava pensando na vida como algo que
geralmente é metaforizado por um caminho, uma vereda, uma estrada.
Mesmo
reconhecendo que é muitas vezes útil comparar a vida com uma estrada,
todavia também deve-se considerar que há não apenas semelhanças, mas
também muitas dessemelhanças nesta ilustração.
Sim,
em muitos aspectos a vida é diferente de uma estrada. Isso porque do
ponto de vista físico, a estrada é sempre a estrada, não importando como
alguém ande nela: se de modo calmo, apressado, atento ou distraído. A
estrada física não muda de acordo com o modo, com o como do andar do
viajante.
Entretanto,
se tomarmos a metáfora da estrada numa perspectiva espiritual, então
tudo muda, e a estrada já não nos serve de metáfora exata. Isso porque
no caminho espiritual não existe fixidez na estrada, posto que ela muda
conforme o como do caminhante.
Ou seja: o modo de caminhar e ver a estrada muda espiritualmente o indivíduo e muda a estrada.
E
não somente isso; a estrada é chamada à existência conforme o caminho
do caminhante. Assim, a estrada é conforme ela é trilhada.
Ora,
desse modo a metáfora da estrada física como ilustração para o caminho
espiritual fica subitamente pobre. Isso porque a jornada espiritual
acontece numa estrada que é feita pelos pés do caminhante. E ninguém
pode fazê-la por ele.
A estrada é o indivíduo e o indivíduo é a sua própria estrada.
No mundo físico, a estrada é a mesma para todos. Mas na dimensão do espírito, a estrada é de acordo com aquele que nela caminha.
Não
se pode chamar alguém, dizer-lhe "Veja, esta é a estrada da verdade e
da vida!" e esperar que isso seja suficiente. Só será verdade se a
pessoa experimentar e andar conforme a verdade e a vida no caminho.
Declarar o caminho não o torna caminho para ninguém, a menos que o indivíduo descubra como.
A
única coisa que se pode dizer é como se anda na verdade, mas não se
pode indicar um caminho fixo. Portanto, mesmo que se diga como é o
caminho da verdade, o indivíduo jamais andará nele a menos que nele
ande.
Digo
isso porque a mentalidade religiosa sofre do engano de pensar que o
caminho espiritual é como o caminho numa das estradas desta terra. E não
é.
Saber que “Jesus é o Caminho” não significa nada, posto que nenhum corpo fixo de doutrinas nos poderá fazer andar no Caminho.
O Caminho de Jesus não é como uma estrada física, na qual quem quer que ponha o pé anda e segue. Não, com Jesus não é assim.
Você
pode mostrar o Caminho e o indivíduo pode aceitar as informações dadas
sobre a estrada, porém se não andar como se anda no Caminho, de fato ele
não está indo a lugar algum.
A
história parabólica descrita por Lucas no capítulo 10, acerca do “Bom
Samaritano”, bem ilustra como a estrada física pode significar caminhos
diferentes para diferentes pessoas, dependendo de como se anda...
Primeiro
aparece um viajante sem nome, que anda na estrada de modo tranqüilo e
em busca de uma vida honesta. Ele anda no caminho da simplicidade do
trabalhador.
Em
seguida aparece andando, na mesma estrada, um outro homem, um
salteador. É a mesma estrada, mas é um outro modo de andar nela. O homem
andava no caminho da violência e da covardia.
Então,
na mesma estrada, aparece um sacerdote. Ele viu o homem caído e
roubado. Mas seguiu o caminho da indiferença. Seguiu seu próprio caminho
na mesma estrada.
Na
mesma estrada, apareceu um levita. Ele também viu o homem caído, mas
preferiu andar no caminho da frieza e do egoísmo que apenas visa a
autopreservação. Assim, seguiu no caminho da omissão homicida.
Por
último aparece um herege do ponto de vista dos judeus. Era um
samaritano. Ele também anda na mesma estrada de todos os anteriores. Mas
o seu caminho é diferente. Ele encontra o homem numa estrada que para
ele tinha o sentido de misericórdia e graça solidária. Assim, esse
samaritano nos ensina que a estrada não é a mesma para todos, posto que
ela tem em si o significado dado pelos pés que a pisam. Para o
samaritano aquela era a estrada da misericórdia.
Jesus,
usando esta história, diz a quem perguntou a Ele quem era o seu
“próximo” exatamente o que acabei de expor acima, porém de modo
metafórico. A mensagem, todavia, é a mesma.
Ora, Ele faz isso com uma pergunta: “Quem te pareceu ser o próximo do homem caído?”
A resposta foi: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”.
Então Jesus concluiu: “Vai tu e faze o mesmo”.
Assim, cinco homens andavam na mesma estrada, porém cada um fez o seu próprio caminho na mesma estrada.
De fato, o que faz toda a diferença é como cada um anda no caminho!
Você pode até dizer que sabe quem é o Caminho. A questão de Jesus, todavia, é como você anda no caminho.
Pense nisso!
Caio
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