Caio, tenho uma dúvida.
Deus perdoou todos (tudinho mesmo!) os meus pecados em Cristo; isto eu afirmo pelo que eu entendo; logo, a minha dúvida é:
Eu preciso pedir perdão pelos meus pecados? Ou seja, “pequei, peço perdão”?
Já faz algum tempo que não faço a confissão de pecados.
Na liturgia do culto, acho estranho o apelo à confissão de pecados.
É isso.
Se você tiver tempo e me responder, agradeço.
Caso não responda, eu também agradeço.
Espero que não trabalhe demais, seja feliz, viva bem e tenha uma vida
longa e produtiva (saúde mental, física, emocional e espiritual).
Quanto mais você viver e escrever sobre a GRAÇA, será melhor para mim.
Tenho crescido e vivido de forma diferente (antes era LEI) e isso para a Glória de Deus; abençoada por suas palavras.
Em Cristo, em quem o mel é doce, e a esperança da vida eterna é certa porque Ele não pode mentir.
Resposta:
Querido amigo Luciano: Graça e Paz!
Novos instrumentos sempre precisam de afinações. Assim é também quando
novas compreensões nos chegam ao coração. Sempre há necessidade de fazer
uma sintonia fina de vez em quando. Isto porque as novas alegrias
muitas vezes nos impedem de fazer uma síntese mais equilibrada das
coisas por um tempo. E a prova disso é que Hoje você me faz esta
pergunta. Sinal de que há uma nova reflexão sendo feita. O que é muito
bom!
Respondendo sua pergunta, proponho-lhe uma figura.
Eu tive a bênção de ter um pai de quem jamais duvidei do amor. Eu sempre
soube que ele me perdoaria de qualquer coisa, embora eu também sempre
tenha sabido que qualquer coisa indigna que eu viesse a fazer, e ele a
saber, seu coração se entristeceria bastante, talvez até profundamente.
Assim, eu sempre soube que ele me perdoaria porque ele me ama, mas nunca deixei de pedir perdão a ele apenas por saber disso.
Ora, se é assim com meu pai terreno, como seria com meu Pai que está nos céus?
Ao meu pai eu peço perdão porque ele precisa saber que minha consciência
está viva e sadia. E também porque o respeito e desejo honrá-lo até nos
meus erros.
Já em relação ao meu Pai que está nos céus, peço perdão por mim mesmo,
para o meu próprio bem, como reconhecimento de que minha consciência
está viva, e, sobretudo, porque minha vida é um flagrante permanente
diante Dele.
Assim, embora de antemão perdoado, peço perdão; posto que meu pedido de
perdão é a confissão de minha boca de que minha consciência continua
cativa da verdade de Deus; e isto é importante para mim, visto que Deus
sabe.
Eu, porém, sou ensinado a orar dizendo: “Perdoa as minhas dívidas assim como eu perdôo os meus devedores”.
Desse modo há duas dimensões aqui envolvidas:
1. A primeira ensina que perdão é perdão. Ou seja: porque perdôo, sou
perdoado; isto porque já estou perdoado; portanto, não tendo mais o
direito de não perdoar. Desse modo, não perdoar equivale e dizer que não
se acredita em perdão, ficando-se, assim, postos por nós mesmos, na
posição de não-perdoados outra vez.
2. A segunda tem a ver com Deus, que de antemão me perdoou, mas que
espera que meu coração reconheça o perdão com seriedade, a fim de que a
minha consciência não fique sem exercício. Portanto, quando peço perdão,
confesso que ainda estou vivo e grato; e mais: confesso meu desejo de
deixar coisas e partir para outras melhores.
Arrependimento, diz o Novo Testamento, é Graça de Deus. É Deus quem
concede o arrependimento, e quem conduz ao arrependimento. Portanto
experimentar arrependimento já é fruto da Graça do Perdão divino.
Assim, eu diria: somente perdoados se arrependem!
Prova disso é Davi, que, uma vez confrontado pelo profeta Natã, disse:
“Pequei contra o Senhor!”— e ouviu o profeta dizer: “Também o Senhor já
perdoou o teu pecado!”
Assim é que é bem-aventurado o homem a quem o Senhor não “imputa
iniqüidade”. Como também é bem-aventurado todo aquele que “não se
condena nas coisas que aprova”.
Desse modo, a Graça de Deus nos dá toda segurança, mas demanda de nós
que vivamos buscando não pecar, não porque o pecado “tire pedaços de
Deus”, mas sim porque tira os pedaços da gente.
Na revelação há sempre duas dimensões: uma eterna e outra temporal.
Assim, pela revelação sabemos o que é eterno, e, portanto, já é, e
ninguém mudará. Ao mesmo tempo em que há advertências temporais, as
quais têm dimensões de natureza, eu diria, psicológicas; isto porque
concernem à alma humana e à continuidade da existência na Terra.
Por isto, eu sei que em Cristo tudo já é e já está Consumado; mas sei
também que em mim mesmo, nada está acabado e concluído, pois vivo na
carne, no corpo, no tempo, no espaço, e no que ainda é em parte.
Portanto, eu lhe digo: Os perdoados sempre pedem perdão; e, além disso, sempre perdoam!
Quando há o momento da “contrição” na hora de um culto, eu sempre
aproveito para o meu bem. Mas meu confessionário é no caminho, enquanto
vou, e à medida que minha consciência fala comigo.
Receba meu carinho!
Um beijão!
Nele, em Quem já sou tudo a fim de poder ser,
Caio
12 de julho de 2005
DF
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