Santarrão. Antes de Jesus me converter eu nunca tinha ouvido falar
dessa palavra. É um jargão da Igreja protestante usado para designar
pessoas que basicamente ostentam uma aparência de santidade externa
sendo pecadoras e que vivem pondo o dedo na cara dos outros por seus
pecados. Em linguagem bíblica, seria gente com trave no olho mas que
está sempre apontando o argueiro no olho dos outros.
Pois bem, eu gostaria de confessar publicamente que sou um santarrão.
Cheguei a essa conclusão depois de me analisar à luz da Bíblia. Mas
vamos por partes. Tomando por exemplo a definição acima de “santarrão”,
mostro aqui três constatações que me levaram a descobrir que sou um:
1. “Pessoas que basicamente ostentam uma aparência de santidade
externa sendo pecadoras” – Começando pelo final da frase, confesso: eu
sou um grande pecador. Sou pó, sou humano e carrego o pecado original.
Nasci de novo em Cristo quando Ele me estendeu sua graça, mas isso não
evita que todos os dias eu cometa uns 3 mil pecados. E isso antes de
levantar da cama pela manhã. 1 João 1.8ss me denuncia: “Se dissermos que
não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não
está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para
nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos
que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não
está em nós”. E, sendo eu um miserável pecador, confesso que apesar
disso procuro sempre mostrar aparência de santidade.
O que, aliás, é o que todo cristão faz, não? Ou você encontra seus
irmãos em Cristo e eles saem gritando pelos corredores os pecados que
cometeram? Usam camisas e bandanas onde se lê “Hoje eu menti” ou “Sou um
tremendo glutão”? Os adesivos que põem em seus carros dizem “Invejoso e
fofoqueiro a bordo”? Não. Porque nenhum cristão faz isso. Todos nós
procuramos nos apresentar com aparência de santidade, mesmo nos
conhecendo e sabendo do mal que em nós grita e viceja. Todos.
2. “Que vivem pondo o dedo na cara dos outros por seus pecados” –
Pensei bem e vi que também faço isso. Denuncio pastores hereges que
arrastam multidões para o erro, alerto sobre os teólogos que ensinam
doutrinas de demônios, chamo meus irmãos em Cristo para a
responsabilidade com aquilo que creem. Curiosamente, mais uma vez ao
fazer isso estou sendo bíblico: em 2 Timóteo 4.2 Paulo diz: “Prega a
palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta
com toda a longanimidade e doutrina”. Ele também fala em 1 Timóteo 5.1:
“Não repreendas ao homem idoso; antes, exorta-o como a pai; aos moços,
como a irmãos”.
Novamente repete a ordem em Tito 2.6: “Quanto aos moços, de igual
modo, exorta-os para que, em todas as coisas, sejam criteriosos”. No
mesmo Tito 2.15 prossegue: “Dize estas coisas; exorta e repreende também
com toda a autoridade. Ninguém te despreze”. E ainda poderíamos
concluir com mais palavras de Paulo em Romanos 12.8a: “o que exorta
faça-o com dedicação”. Então vejo bastante base bíblica para exortar,
admoestar. Ou, como disse, “pôr o dedo na cara”.
Aí você poderia dizer: “Ah, Zágari, mas quem falou tudo isso foi o
grande apóstolo Paulo, ele era um santo, tinha moral para isso. Que
moral você tem?”. Eu rio ao ouvir isso, pois é curioso que as pessoas
não percebem quão pecador Paulo era. Dou só três exemplos bíblicos. Em 2
Coríntios 12, o apóstolo conta que Deus o arrebatou ao Paraíso, onde
“ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir”. Só
que Deus sabia que Paulo era humano e que estava passível de sentir
soberba por aquilo, pecador que era. Então o que o Todo-Poderoso faz?
“E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me
posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a
fim de que não me exalte”. Para ajudar Paulo a combater o
autoengrandecimento, o Senhor põe o tal espinho na carne dele. Para
auxiliá-lo a não pecar pela soberba.
Segundo exemplo da pecaminosidade de Paulo: em Gálatas 2.11 ele
confessa: “Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe face a
face, porque se tornara repreensível”. Em outras palavras, Paulo teve um
belo de um bate-boca com Pedro. Parece que o apóstolo tinha lá seus
momentos de pega-pra-capar com os irmãos. E se essas duas provas não
bastam e parecem especulativas, vamos ao terceiro exemplo: Atos 15
revela que o cabeça-quente Paulo mais uma vez entrou em uma briga com um
irmão: “Alguns dias depois, disse Paulo a Barnabé: Voltemos, agora,
para visitar os irmãos por todas as cidades nas quais anunciamos a
palavra do Senhor, para ver como passam.
E Barnabé queria levar também a João, chamado Marcos. Mas Paulo não
achava justo levarem aquele que se afastara desde a Panfília, não os
acompanhando no trabalho. Houve entre eles tal desavença, que vieram a
separar-se”. Note que a expressão “tal desavença” mostra que não foi uma
simples discordância, mas uma divergência tão feia que fez a dupla de
irmãos missionários rachar. Sim, Paulo estava sujeito a soberba, a
brigas e desavenças com irmãos na fé: tudo pecado.
3. “Gente com trave no olho mas que está sempre apontando o argueiro
no olho dos outros” – Já disse: sou um tremendo pecador. Se eu cruzasse
comigo na rua provavelmente atravessaria para a calçada do outro lado.
Sei o mal que há em mim. No meu olho há uma trave maior do que a do
Maracanã. E sim, como eu disse, estou sempre apontando o erro dos
outros, dizendo qual é o cantor gospel cuja letra é mundana, falando que
o sacerdote x ou y ensina teologias demoníacas e anticristãs – como a
da Prosperidade, a Relacional, a da Confissão Positiva, a Liberal e
outros pensamentos que por fora se mostram belos, mas interiormente
estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia.
Eu faço isso, basta ler meus posts aqui no blog APENAS. No meu livro
“A Verdadeira Vitória do Cristão”, então, sai de baixo, denuncio o
triunfalismo mentiroso dos pregadores hereges e manipuladores da
primeira à última página – com provas bíblicas e históricas. Como amo
Cristo e a Igreja, vivo apontando o argueiro nos olhos dos enganadores
do povo de Deus, dos que usam dinheiro sagrado em benefício próprio, das
celebridades gospel arrogantes, dos pastores vaidosos, dos lobos em
pelo de cordeiro. Confesso: sim, eu faço isso.
Portanto, cumpro todos os requisitos para ser chamado de santarrão:
peco, busco ter aparência de santidade, denuncio o pecado alheio. Taí,
inegável, sou mesmo um santarrão. Porém…
…essa constatação nos leva a uma ponderação: como sou um santarrão
devo me calar? Fechar o APENAS? Deixar de escrever livros? Deixar de
proclamar o Evangelho? Isso faz de mim alguém indigno de anunciar as
verdades do Reino e a salvação por Cristo? Eis o ponto.
Independentemente de eu ser um santarrão, Deus continua sendo Deus,
Jesus continua sendo o caminho, o pecado continua sendo pecado. Um
aspecto interessantíssimo que 1 Pedro 1.12 nos revela é que os anjos
pediram a Deus o privilégio de anunciar o Evangelho.
Faria sentido: seres sem pecado pregarem contra o pecado. Mas, veja
você, quem é que o Altíssimo comissiona para proclamar as boas-novas de
salvação, a santidade, o mau cheiro do pecado? Marcos 16 e Mateus 28
deixam claro que essa grande comissão foi delegada aos homens pecadores.
Extraordinário. Pecadores necessitados de arrependimento denunciando o
pecado de pecadores e os chamando ao arrependimento. Isso é hipocrisia?
Se for, meu irmão, minha irmã, eu e você que anunciamos – sendo
pecadores – que o pecador necessita se arrepender dos pecados e se
voltar para Cristo somos gigantescos hipócritas.
E, sabendo que todo homem peca, todo cristão busca a aparência de
santidade e que todo salvo para proclamar o plano de salvação teria de
pôr o dedo na cara do pecador, sendo ele próprio pecador, e dizer
“arrependa-se dos seus pecados”, é justamente a todo homem manchado pelo
pecado que Deus ordena que proclame a salvação por meio do Cordeiro sem
mácula. Não é fascinante?
Em 2 mil anos de História da Igreja houve milhões e milhões de
cristãos que proclamaram o Evangelho. Que chamaram pecadores ao
arrependimento em Cristo. E absolutamente todos eles eram tremendos
pecadores. Paulo: pecador, soberbo, brigão, mas é esse o homem que
escreve sobre o amor em 1 Coríntios 13. Pedro: impulsivo, cortou a
orelha de Malco, negou Cristo três vezes, e é esse que escreve na
Bíblia: “segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também
vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede
santos, porque eu sou santo”. Tremendos santarrões.
Mas vamos além: Agostinho, o grande teólogo dos primeiros mil anos de
Igreja, era um conhecido rabo de saia. Lutero, o grande Reformador,
vivia bêbado. Calvino, o teólogo da Reforma, ajudou a condenar um homem à
pena de morte. Consta que John Wesley viajava tanto para pregar porque
vivia às turras com a esposa e viajar era um alívio. Charles Spurgeon
(conhecido como “o príncipe dos pregadores”) era um fumante convicto e
pufava montes de charutos por dia, a ponto de ter defendido esse hábito
de púlpito e dito que “fumava para a glória de Deus”.
Dietrich Bonhoeffer, mártir da Igreja no século 20, arquitetou planos
para assassinar Hitler. Mauricio Zágari, escritor de alguns livros
cristãos, tem tantos pecados que não caberiam num post. E você, será que
se enxerga no meio de tão grande nuvem de testemunhas… pecadoras? Todos
chamados por Deus para de alguma forma proclamar o Evangelho, a Cruz, a
santidade, o arrependimento de pecados, Jesus Cristo. Todos poços de
pecados. Logo, todos santarrões.
Sim, eu peco. Sim, procuro manter a aparência de santidade mesmo
pecando. Sim, eu denuncio os erros dos outros tendo eu muitos erros.
Sim, eu sou um santarrão. Mas Deus é Deus, independente de mim, e eu amo
a mensagem da Cruz. E até morrer eu a vou proclamar.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Fonte: Apenas
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