Bíblia em Foco
quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
quinta-feira, 13 de dezembro de 2018
SUICÍDIO OU ASSASSINATO MORAL?
O governo da Escócia acaba de revelar pesquisa na qual 
se chegou à seguinte conclusão acerca do suicídio.
Os adolescentes são o maior grupo de risco. Todavia, 
entre tais suicidas juvenis se descobriu que a maioria é gay, 
e que dentre tais gays os cristãos respondem por 90% dos 
riscos de cometimento de suicídio. 
Ou seja: um adolescente cristão e gay, tem 90% mais 
chance de cometer suicídio que um não-cristão, 
heterossexual ou não, de qualquer outra religião.
O que isto quer dizer?
1. Que a religião cristã não oferece Graça à alma que 
esteja fora dos padrões da moral cristã.
2. Que outras religiões pesam menos neuroticamente 
sobre as almas humanas que a religião cristã.
3. Que é inconcebível que os que dizem ser o Povo 
que recebeu Graça no Sangue de Jesus não consiga 
oferecer pouso e paz para aqueles que existem em 
condições distintas ao padrão da igreja.
4. Que a igreja precisa botar menos culpa no Diabo por tais resultados 
suicidas, e assumir a responsabilidade, ela própria, 
por criar um “ambiente moral” que significa, psicologicamente, um “prato
 feito” para aquele que vem apenas para matar, 
roubar e destruir.
5. Que a religião cristã é mais da Culpa que do Perdão e da 
Misericórdia.
Obviamente digo isto considerando a incidência estatística de tais 
ocorrências na igreja na Escócia. No entanto, o mesmo padrão hoje em dia
 é encontrado também em outros paises de moral cristã na Europa, bem 
como nos Estados Unidos.
No Brasil vejo também um crescente número de rapazes e moças me dizendo e
 escrevendo acerca de sua vontade de por fim a vida em razão da mesma 
questão.
Irmão, se eu estiver enganado, perdoe-me, mas não consigo achar que 
estou, e digo isto na presença de Deus. 
Não é concebível que justamente entre aqueles que dizem crer em Graça 
reine a Culpa e o Medo.
Também é impensável que um adolescente prefira a morte que ter que 
enfrentar a Moral da igreja e da família.
As gargalhadas do Diabo são dadas não a quem se matou, mas sim 
oferecidas em infernicidade grata à religião, pela manutenção do 
espírito do medo e da culpa que por ela é mantido, promovido e servido 
com devoção.
Há muito sangue inocente sendo derramado em razão das perversidades da 
religião, e isto desde sempre.
Que Deus nos salve do homicídio moral, e nos livre do mal que habita a 
tentação de nossas diabólicas virtudes.
Que o Evangelho de Jesus nos salve do espírito da religião, seja ela 
qual for, inclusive quando se diz “cristã”, pois é quando tal espírito 
se torna mais insidioso, e mata muito mais.
Infelizmente temos que admitir que no mundo de hoje a pior versão global
 do Diabo é cristã. E na Moral, na Política e na Economia tais 
manifestações cristãs do Diabo têm se mostrado as mais devastadoras da 
Terra.
Quando o Filho do Homem voltar, porventura encontrará fé na Terra?
Caio
13/08/04 
  
 
quinta-feira, 15 de novembro de 2018
ECOQUEDA E ECOGRAÇA
Este
 mundo é caído, porém, mesmo em sua queda, ele é organizado. Aliás, a 
Queda desconstruiu o sistema do amor natural e instituiu a ordem do 
poder e do controle. Daí, logo depois da narrativa da Queda em Gêneses, 
segue-se a descrição do surgimento das armas, dos instrumentos 
cortantes, dos aparatos de encanto e sedução e, sobretudo, a informação 
sobre o inicio da construção de cidades dedicadas aos nomes de seus 
fundadores, todos ansiosos de estabelecerem suas marcas como referencias
 de imortalidade histórica. 
Poder e Controle!
A História humana é o resultado dessa compulsão que se instalou no lugar do amor natural. O amor passou a ser um milagre, uma virtude, um desejo bom para habitar apenas os corações dos despretensiosos servos ou, na melhor das hipóteses, aquilo que se faz convergir na direção do igual-agradável e não ameaçador.
Em Mateus 17: 24 a 27 essa ordem do poder aparece em profundas sutilezas. César dominava o mundo. E o mundo pagava impostos a Roma. César era compulsivo e sua imortalidade precisava ser marcada pelas obras de seu poder. Então, a ordem é estabelecida e segue seu curso, que vai do Grande Megalomaníaco—César—ao drama do pequeno cidadão—Pedro!
No meio dessa cadeia está Herodes e estão os sacerdotes do Templo. O imposto das duas dracmas era devido ao Templo. No entanto, como já dizia Salomão no Eclesiastes, acima de todo explorador há um outro que o explora também. Assim, os desejos de César se vestem de muitas caras, algumas até mesmo religiosas em suas justificativas de cobrança. Trata-se de um poder que vai descendo numa escala de explorações que chega a Cafarnaum. César deseja lá longe. Pedro, no entanto, tem que pagar a conta ao entrar em casa.
Num mundo caído não só os desejos se diluem na cadeia das explorações e interesses, mas também à toda perda corresponde um lucro, muitas vezes impessoal. Assim também é que “alguém” perdera duas dracmas e que veio a ser engolida por um peixinho do mar de Tiberíades.
“Não paga o vosso mestre o imposto das duas dracmas?”—foi a questão dos fiscais de renda.
“Claro”—foi a resposta do culpado e endividado Pedro!
Aflição por um culpa que fora produzida por uma cadeia de caprichos que se lhe tornaram “legais”.
César está em Roma. Herodes está na Palestina. Os sacerdotes estão no Templo. Os ficais e coletores, nas cidades. Pedro está chegando em casa e é parado do lado de fora. Jesus está dentro da casa, sem desejos, sem caprichos, sem impostos a pagar ou a cobrar!
“Simão, de quem cobram os reis da terra impostos: dos filhos ou dos escravos?”—indagou o Senhor!
“Dos escravos, Mestre”—disse o cidadão Pedro.
“Logos estão isentos os filhos”—acrescentou o Senhor. “Mas para que não os escandalizemos, vai ao mar e lança o teu anzol, tira o primeiro peixe que for fisgado, abre-o e acharás o suficiente para pagares por mim e por ti”.
Caprichos, ambições, legalidades, desculpas autoritárias, megalomanias e abusos—ficam por conta dos que cobram!
Medo, culpa, endividamento, inquietação e sentimento de pertencer ao grupo dos que vivem para pagar—fica por conta de quem chega em casa para descansar e só tem contas a pagar!
Uma moeda de valor—as duas dracmas— foi perdida por um alguém, que foi para casa com a sensação de ter deixado em algum lugar o que teria que estar no bolso.
Um peixinho brincalhão engole o que não sabe o que é!
Jesus, todavia, é o único que conhece o sistema toda da EcoQueda. Ele vê o todo. Sabe que os caprichos de uns viram leis, as perdas de outros viram ganhos, o entalamento de um peixe se torna em deposito bancário, a angustia de Pedro se transformará em fé singela que um dia derrubará os caprichos megalomaníacos de César e a exploração religiosa dos sacerdotes.
Há um livro imenso para ser escrito à partir daqui. Mas eu aqui fico, apenas para dizer o obvio:
Neste mundo caído à todo mal corresponde um bem; à toda perda, um ganho; à toda fraqueza, uma possibilidade de fé!
Por isto é que todas as coisas cooperam, conjuntamente, para o bem dos amam a Deus. Por trás da EcoQueda, age a EcoGraça!
Nós não somos dos que cobram para César e muito menos dos que se sentem culpados pelos desejos do megalomaníaco, mas dos que recebem o provimento de Jesus e descansam em Sua Graça. Enquanto isto, fazemos coisas apenas por causa da consciência “deles”, mas não que isto tenha qualquer coisa a ver conosco!
Caio Fábio
Poder e Controle!
A História humana é o resultado dessa compulsão que se instalou no lugar do amor natural. O amor passou a ser um milagre, uma virtude, um desejo bom para habitar apenas os corações dos despretensiosos servos ou, na melhor das hipóteses, aquilo que se faz convergir na direção do igual-agradável e não ameaçador.
Em Mateus 17: 24 a 27 essa ordem do poder aparece em profundas sutilezas. César dominava o mundo. E o mundo pagava impostos a Roma. César era compulsivo e sua imortalidade precisava ser marcada pelas obras de seu poder. Então, a ordem é estabelecida e segue seu curso, que vai do Grande Megalomaníaco—César—ao drama do pequeno cidadão—Pedro!
No meio dessa cadeia está Herodes e estão os sacerdotes do Templo. O imposto das duas dracmas era devido ao Templo. No entanto, como já dizia Salomão no Eclesiastes, acima de todo explorador há um outro que o explora também. Assim, os desejos de César se vestem de muitas caras, algumas até mesmo religiosas em suas justificativas de cobrança. Trata-se de um poder que vai descendo numa escala de explorações que chega a Cafarnaum. César deseja lá longe. Pedro, no entanto, tem que pagar a conta ao entrar em casa.
Num mundo caído não só os desejos se diluem na cadeia das explorações e interesses, mas também à toda perda corresponde um lucro, muitas vezes impessoal. Assim também é que “alguém” perdera duas dracmas e que veio a ser engolida por um peixinho do mar de Tiberíades.
“Não paga o vosso mestre o imposto das duas dracmas?”—foi a questão dos fiscais de renda.
“Claro”—foi a resposta do culpado e endividado Pedro!
Aflição por um culpa que fora produzida por uma cadeia de caprichos que se lhe tornaram “legais”.
César está em Roma. Herodes está na Palestina. Os sacerdotes estão no Templo. Os ficais e coletores, nas cidades. Pedro está chegando em casa e é parado do lado de fora. Jesus está dentro da casa, sem desejos, sem caprichos, sem impostos a pagar ou a cobrar!
“Simão, de quem cobram os reis da terra impostos: dos filhos ou dos escravos?”—indagou o Senhor!
“Dos escravos, Mestre”—disse o cidadão Pedro.
“Logos estão isentos os filhos”—acrescentou o Senhor. “Mas para que não os escandalizemos, vai ao mar e lança o teu anzol, tira o primeiro peixe que for fisgado, abre-o e acharás o suficiente para pagares por mim e por ti”.
Caprichos, ambições, legalidades, desculpas autoritárias, megalomanias e abusos—ficam por conta dos que cobram!
Medo, culpa, endividamento, inquietação e sentimento de pertencer ao grupo dos que vivem para pagar—fica por conta de quem chega em casa para descansar e só tem contas a pagar!
Uma moeda de valor—as duas dracmas— foi perdida por um alguém, que foi para casa com a sensação de ter deixado em algum lugar o que teria que estar no bolso.
Um peixinho brincalhão engole o que não sabe o que é!
Jesus, todavia, é o único que conhece o sistema toda da EcoQueda. Ele vê o todo. Sabe que os caprichos de uns viram leis, as perdas de outros viram ganhos, o entalamento de um peixe se torna em deposito bancário, a angustia de Pedro se transformará em fé singela que um dia derrubará os caprichos megalomaníacos de César e a exploração religiosa dos sacerdotes.
Há um livro imenso para ser escrito à partir daqui. Mas eu aqui fico, apenas para dizer o obvio:
Neste mundo caído à todo mal corresponde um bem; à toda perda, um ganho; à toda fraqueza, uma possibilidade de fé!
Por isto é que todas as coisas cooperam, conjuntamente, para o bem dos amam a Deus. Por trás da EcoQueda, age a EcoGraça!
Nós não somos dos que cobram para César e muito menos dos que se sentem culpados pelos desejos do megalomaníaco, mas dos que recebem o provimento de Jesus e descansam em Sua Graça. Enquanto isto, fazemos coisas apenas por causa da consciência “deles”, mas não que isto tenha qualquer coisa a ver conosco!
Caio Fábio
quinta-feira, 4 de outubro de 2018
AQUELE QUE EM MIM FALA É PODEROSO!
A Revelação de Deus aos homens tem muitas formas e a Voz de Deus se faz ouvir em toda a terra de modos os mais diversos.
Ele fala em tudo, por meio de tudo, pois Ele está em tudo!
Mas
 Deus falou outrora aos nossos pais na fé pelos profetas da fé e, na 
plenitude dos tempos — qualquer tempo em que Deus se Encarnasse, aquele 
tempo seria o da Plenitude —, falou-nos por Seu Filho, o qual fez 
herdeiro de todas as coisas, pois deu-lhe o Nome que está sobre todo 
nome, ante cuja Verdade curvam-se ou curvar-se-ão todos os que Dele 
procedem, sendo que sem Ele nada do que foi feito se fez.
Quando
 Deus derramou Seu Espírito sobre homens santos do passado — nenhum 
deles santos em razão de qualquer uniformidade moral ou de comportamento
 que entre eles houvesse, mas pela sua consciência de conhecerem o mesmo
 Deus em fé e pela fé — sempre o fez dentro de suas próprias condições 
humanas, ou seja: “...eles eram semelhantes a nós — todos nós — sujeitos
 aos mesmos sentimentos e fraquezas”.
Dessa
 forma a Revelação vinha toda eivada de suas próprias vidas, em toda a 
sua complexidade. Por isso é que cada livro da Bíblia tem um estilo e 
cada estilo corresponde a uma pessoa-personalidade humana, que, por seu 
turno, estava imersa num mundo, num tempo e numa época, vivendo a 
história possível.
Eles,
 portanto, viam o futuro com os sentimentos do seu presente e eram 
iluminados nos olhos do coração, porém, viam com seus próprios olhos.
Por
 isso, na minha opinião, para se discernir a Escritura é preciso também 
lê-la vendo gente sendo atravessada pela Voz de Deus entre os ruídos, 
clamores e silêncios da Terra.
Não
 consigo ler a Bíblia sem essa visão da uniformidade crescente da fé e 
no conhecimento de Deus ir acontecendo mediante a mutabilidade de tempos
 e circunstâncias, onde os instrumentos de Deus foram sempre gente em 
pleno estado de gente.
Leio
 Paulo, por exemplo, e não consigo deixar de ver sua humanidade 
transpirante em cada coisa que escreveu — mesmo aquelas que estavam para
 além de ele poder encarnar de modo absoluto em plenitude ainda na 
terra! 
Ele é o relativo possuído pela certeza absoluta de ter sido atingido pela revelação.
Mas
 ele escreve cartas e nelas fala de si, de outros, de dores, medos, 
perdas, afrontas — além de revelar seus sentimentos em relação a cada 
coisa.
Não discernir isso pode nos fazer ver Deus como a emoção ou a carência humana do autor.  
O
 maravilhoso é poder ouvir a Voz de Deus irrompendo pela boca de um 
homem que poderia ter acabado de comer tâmaras e bebido vinho, e que 
ouve Tércio dizer: “Irmão Paulo, estou pronto para continuar a escrever.
 É só falar”. 
E
 lá vem Paulo, com tudo o que Paulo é no momento, e dita uma epístola 
que não foi narrada como uma obra psicografada, mas como um pensamento 
livre nas asas da verdade, e que teve suas pausas para meditação e até 
eventuais correções na seqüência da narrativa.
Talvez também por isto Paulo estivesse tão convicto de que a letra mata!
Até
 mesmo as citações de textos do Velho Testamento que ele faz escrevendo,
 por exemplo, aos Romanos, são na maioria das vezes, livres, ou mesmo 
sínteses de contextos muito maiores em sua literalidade no texto bíblico
 onde sua referência pode ser encontrada.
Ou
 seja: Paulo estava tão certo de que aquilo que ele escrevia era a 
Palavra — sem se preocupar com o ditado como se fosse “ditado” — que 
tinha apenas de oferecer a Deus seu entendimento sobre o Evangelho de 
Cristo e sobre as circunstâncias humanas para as quais ele dirigia a sua
 carta.
O mais era um trabalho de Deus muito maior do que Paulo mesmo poderia ter imaginado!
Como
 é que todas aquelas famílias de amigos e todos aqueles aos quais ele 
menciona pelo nome no P.S. de suas cartas iriam imaginar estar hoje 
incluídos em nossas leituras inspiradas?
Assim,
 com o próprio modo da “produção” do texto da epistola aprendemos que o 
revelado pelo Espírito tem que estar no homem como entendimento em fé, a
 fim de que o homem possa andar na revelação como certeza de fé.
Paulo
 poderia interromper, levantar, lavar a louça ou tecer a lateral de uma 
tenda, voltar, procurar Tércio, recomeçar a ditar o inspirado não como 
forma, mas como conteúdo — a forma era a dele; o conteúdo, com certeza 
não!
E
 isto sendo gentemente gente boa de Deus, em toda a plenitude de sua 
própria relatividade e, ainda assim, dizendo: "Aquele que em mim fala é 
poderoso!"
Caio Fábio
quinta-feira, 2 de agosto de 2018
ANTES QUE SEJA MODA FALAR EM GRAÇA
Escrito em 2003 e atualizado em 11 de novembro de 2003
Depois
 que o www.caiofabio.com estava no ar há quase 1 ano, percebi que havia o
 risco de que os até então judiciosos e legalistas, porém disfarçados de
 intelectuais, não resistiriam a verdade indisfarçável da Palavra da 
Graça, a qual andava em silêncio entre os ‘evangélicos’, posto que o que
 estava reinado era a apatia, a melancolia, a impotência frente os 
Neo-Pentecostais, e meras e cansativas repetições de suas inativas 
amarguras.
Sempre
 soube que os “lobos” não estariam “nem aí”, mas que os mais pensantes 
não resistiriam à verdade inapelável da mensagem. Para mim estava mais 
do que claro que logo, termos como ‘graça’, ‘misericórdia’, etc., 
estariam sendo adotados sem que os que vissem tais expressões tivessem 
de fato, espiritual, emocional, afetiva e existencialmente algo que lhes
 virasse as vísceras.
Hoje
 vejo com clareza que aquilo que disse que aconteceria está acontecendo.
 E não fosse pelo fato de que sei que até agora trata-se apenas de uma 
‘re-atualização’ de vocabulário, e não uma conversão radical, com as 
rupturas inevitáveis que a fé no Evangelho gera, porém, tão-somente como
 adaptação de termos aos velhos conteúdos.
O
 que escrevi em 2003 esteve aqui no site todo esse tempo, e muitos o 
leram. Aqui o repito, e por uma só razão: desejo que todos entendam a 
Palavra da Graça, mas me insurgirei contra os modismos que adotam as 
expressões como verniz e fachada, mas não mudam o sentir da pessoa; ao 
contrário, apenas colocam-na numa situação ainda pior, visto que 
confessa com a boca o que não deixou entrar no coração. E pior ainda: 
não deixam que a mensagem se encarne na vida.
O
 texto de 2003 é muito simples, e aqui segue transcrito. Assim, eu disse
 sobre o perigo da Graça virar "graça", ou seja, mais um 'mover' que 
apenas impede a verdade de se instalar, pois fica condicionada pelas 
exterioridades sem relação com a vida interior.
1. Saiba que você não está falando de uma doutrina, mas da essência de tudo o que é e existe.
2. Saiba que você está crendo naquilo que faz você crer no que você não é.
3. Saiba que você está confessando que todo o bem que é em você não é seu; assim como você não nasceu de si mesmo.
4.
 Saiba que você está se entregando ao projeto mais radical da 
existência, pois não há meia-Graça, só há Graça. Graça é plenitude, pois
 é dela que se originam todas as coisas: do Cordeiro imolado antes que 
houvesse mundo.
5.
 Saiba que você está se entregando à Soberania de Deus, e que na Graça 
cessam todas as discussões; afinal, não há o que discutir, pois tudo 
provém de Deus.
6.
 Saiba que você está abrindo mão de discursos e mergulhando em algo que 
só se valida como bem, se tiver acontecido em você como demonstração de 
misericórdia e acolhimento para com o próximo.
7.
 Saiba que você está assumindo a total vulnerabilidade, e o caminho no 
qual as coisas que são, são aquelas que não são; e a vereda na qual o 
poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza.
8.
 Saiba que sua vida não poderá falsificar essa mensagem, pois mais cedo o
 mais tarde as pessoas verão se a Graça na sua boca é doutrina ou se ela
 é vida que expressa amor.
9.
 Saiba que você está desistindo de toda perfeição, mas está se 
comprometendo com toda sinceridade e com a perseverança de conquistar 
aquilo para o que você já foi conquistado por Cristo Jesus.
10.
 Saiba que haverá muitos usando a palavra Graça—e que ela também corre o
 risco de virar a moda mais recente—, e que a fim de não corrompê-la 
como verdade, não poderemos admitir que ela não de comporte como amor e 
misericórdia.
A
 Graça e a Verdade se beijaram em Jesus, e Ele é a Encarnação do Deus de
 toda Graça. Nele somos salvos; Nele temos também nosso único Modelo de 
Graça a ser buscado sem neurose e sem ufania.
Na Graça não já jactância, mas tão somente Gratidão!
Caio
______________________________________________
Ora, em 2003 foi isso que aqui escrevi, e hoje tal advertência está mais atual do que nunca antes.
NEle, que não é moda, mais modo de Ser,
Caio
terça-feira, 3 de julho de 2018
Defendendo princípios pentecostais: a questão do movimento do reteté
Apresento ao querido leitor do Gospel Prime algumas considerações que
 levei à 11ª Escola Bíblica de Obreiros (EBO) da Convenção Fraternal de 
Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Estado da Bahia,
 convenção esta que se reuniu entre os dias 29 de junho e 1 de julho em 
nossa capital. O tema da convenção era “Princípios: defendendo a nossa 
fé”, e planejei, como tema de minha preleção, o que consta agora como 
título deste artigo.
Os textos que nos serviram como ponto de partida foram os de I Co 13.11; 14.20-33, 39,40 e Cl 1.26,27, cuja leitura recomendo – os de I Co referem-se ao exercício dos dons espirituais no culto, e os de Cl aludem ao “mistério”.
Sendo membro e ministro filiado a uma igreja pentecostal histórica (Assembleia de Deus), preocupo-me com algumas crenças associadas, na prática, ao Movimento Pentecostal, entre as quais se acha o denominado “reteté” (ou “repleplé”), o qual, embora estranho ao pentecostalismo histórico ou clássico, parece ser visto por muitos como a própria essência do pentecostalismo.
O reteté – uma praga surgida no seio das igrejas pentecostais na década de 1990 – caracteriza-se por comportamentos esquisitos durante o culto, erroneamente atribuídos ao exercício de dons espirituais num contexto de suposto derramamento do poder do Espírito.
Tais comportamentos anormais incluem cair ou dançar “no Espírito”, ficar estalelado no chão com os braços para cima, gritar (de alegria ou de angústia), urrar (como animais), deitar-se ou rolar no chão, sacudir-se, tremer compulsivamente, ficar em transe, sair correndo pelo salão da igreja, ropopiar, pular, movimentar o corpo para baixo e para cima, marchar, rir descontroladamente, espalmar as mãos e mover os braços de forma circular, entre outros. Algumas dessas atitudes lembram práticas de outras religiões, e já existem aqueles que, em reuniões da igreja, acham que precisam vestir roupa branca ou tirar os calçados dos pés quando assumem o púlpito.
Quando eu era criança, ouvia o termo “meninice” como forma de os assembleianos se referirem ao que hoje conhecemos por “reteté”. “Meninice” é vocábulo derivado do texto em que o apóstolo Paulo diz, tratando dos dons espirituais, que se comportava como menino na época em que era menino, vindo a agir como homem ao chegar à idade adulta (cf. I Co 13.11). Uma outra expressão utilizada pelos meus irmãos assembleianos para aludir a tal tendência era (e é) a mui eloquente (e bíblica) “fogo estranho” (cf. Lv 10.1-3).
A partir de textos como estes, os crentes e líderes assembleianos, de modo simples, mas arguto, reconheciam no reteté um fenômeno divorciado da fé pentecostal e próprio de crentes imaturos.
O termo “reteté” parece consistir numa onomatopeia derivada do som de pés batendo no chão, algo que se verifica frequentemente na atitude de adeptos desse movimento. Criou-se também, nesse meio, um dialeto próprio, que envolve termos como “canela de fogo”, “sapatinho de fogo”, “manto”, “fogo puro”, “terra”, “nébias”, num glossário utilizado tanto pelos praticantes do movimento como por alguns pentecostais clássicos, que o fazem comumente de maneira jocosa.
É importante reconhecer as razões pelas quais o reteté encontrou espaço no ambiente pentecostal, e talvez algumas dessas razões tenham cunho social, cultural e existencial: como as igrejas pentecostais são formadas principalmente por pessoas menos favorecidas, a pregação formal e a liturgia solene das igrejas históricas pode ter ensejado certo distanciamento entre a liderança e o povo, enquanto nas igrejas pentecostais há grande espaço para os leigos, que se manifestam pela oralidade e, no reteté, também pela “corporalidade”*, o que oferece uma sensação de pertencimento e de poder.
Diga-se, aliás, que um dos efeitos do reteté é o empoderamento de figuras aparentemente cheias do Espírito, não raro mulheres, ao lado das quais se veem pastores submissos, ao mesmo tempo encantados com tamanho “poder” e ávidos por auferir os benefícios de um público ampliado. Assim, mesmo igrejas que não ordenam mulheres ao pastorado acabam sendo, na prática, pastoreadas por algumas delas, sendo comum pessoas irem àquela igreja somente quando a irmã está ali “para revelar”.
Outro aspecto digno de nota é o abismo que existe entre três níveis de teologia pentecostal, como explicado pelo pastor e teólogo assembleiano Claudionor Correa de Andrade**: o nível oficial, o nível acadêmico e o nível místico.
Pensemos aqui no campo assembleiano, até porque se trata da maior igreja pentecostal (e evangélica) do Brasil, de onde surgiram tantas dissidências: enquanto o nível teológico oficial é aquele vertido nos livros editados pela CPAD (Casa Publicadora das Assembleias de Deus) e chancelados pelo Conselho de Doutrina da CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil), o nível místico é o popular, que nasce na vivência do povo; já o nível acadêmico tenta explicar o que acontece no mundo pentecostal, mas frequentemente de maneira pouco acessível ao público comum.
De toda maneira, uma simples pesquisa histórica é capaz de demonstrar que a Assembleia de Deus, tanto em sua teologia oficial como na prédica de seus pioneiros, não endossou o “fogo estranho”, assim como, em nossos dias, não o ratifica.
É certo que o pioneiro Gunnar Vingren passou por experiência incomum de riso (alguns chamam de “riso santo”), mas como reação emotiva à obra de Deus, e não como dom espiritual, marca do pentecostalismo ou experiência que deva ser normativa para o cristão.
Neste passo, chamemos à baila um depoimento do próprio missionário Gunnar Vingren sobre algo que testemunhou em Criciúma-SC***:
Primeiro cantaram um hino. Depois todos tiraram os sapatos e se deitaram no chão num círculo. Depois que todos haviam orado, começaram a pular e a dançar durante mais ou menos meia hora. Depois se puseram de joelhos outra vez e oraram. Eu os exortei a que deixassem essa coisa de dançar, pois isso não está escrito no Novo Testamento, e era uma bobagem que eles deviam abandonar. [Mensageiro da Paz, Ano 79, Número 1.494 – Novembro de 2009].
A Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil (publicada em abril de 2017) em nenhum momento aprova ou anuncia como marca do pentecostalismo aquilo que configura a essência do reteté. Não há no seu cap. XX (dedicado à doutrina do Espírito Santo) uma linha sequer defendendo tal conceito.
Há na internet pronunciamentos de diversos pastores assembleianos brasileiros contra o reteté: Antonio Gilberto, Claudionor Correa de Andrade, Elienai Cabral, Elinaldo Renovato de Lima, Daniel Nunes da Silva. De maneira muito clara e contundente, esses doutos pastores expressam a teologia oficial de nossa denominação. Semelhantemente, o célebre pastor pentecostal David Wilkerson criticou duramente esses cultos extravagantes.
Na história dos avivamentos, houve episódios caracterizados por comportamentos fortemente emocionais, o que não é exclusivo ao mundo pentecostal. Todavia, com o tempo as manifestações tendem a ser explicadas à luz da Bíblia ou controladas sob a supervisão da liderança pastoral, não podendo ser o centro das atenções no culto, nem descambar para o exagero.
Como explica o teólogo pentecostal Paulo Romeiro, movimentos religiosos passam por fases de entusiasmo, organização, educação e estagnação. Podemos afirmar que o reteté seria uma forma de ampliar exagerada e artificialmente a fase do entusiasmo, desconsiderando os bons frutos da educação teológica – é claro que não queremos ser vencidos pela fase da estagnação, mas para isso precisamos de verdadeiro avivamento, e não de “fogo estranho”.
O movimento do reteté parece muito com a “Benção de Toronto”, movimento surgido no início da década de 1990 no seio da Comunidade Vineyard (Videira) do Aeroporto de Toronto, igreja dirigida pelo pastor John Arnott e sua esposa Carol. A matriz da Comunidade Vineyard, pastoreada à época pelo americano John Wimber, é uma igreja da chamada “Terceira Onda”, muito diferente das igrejas pentecostais históricas, classificadas como sendo da “Primeira Onda”.
Em seu livro “Quando o Espírito vem com poder” (publicado pela ABU Editora), John White trata das manifestações espirituais com uma abordagem bíblica, histórica e psiquiátrica. Tendo conhecimento do Movimento de Vineyard, White busca discernir comportamentos biblicamente fundamentados daqueles que são meramente psicológicos ou até demoníacos.
Quanto à maneira de aferir se determinadas manifestações procedem de Deus, White sugere que se observem os “frutos” e também o “pomar”: os frutos são os efeitos que surgem a partir dali: se se produzem ou não mais evangelização, mais fervor, mais santidade, mais ética, mais desejo de conhecer a Bíblia; o pomar é o cenário em que ocorrem as manifestações, se caracterizado pela pregação da Palavra de Deus ou se condicionado por sugestões psicológicas, teatro ou palavras de incentivo a comportamentos bizarros.
Temos de deixar algo muito claro: não há na Bíblia nenhuma recomendação a que as igrejas pratiquem o reteté. E mais: não há personagens bíblicos que promovam o reteté em nome de Deus.
Pelo contrário, as recomendações do apóstolo Paulo quanto ao exercício dos dons espirituais falam de “ordem e decência”, da finalidade dos dons (edificação), da sujeição do espírito do homem ao próprio homem, da necessidade de ordenar e julgar as profecias, da necessidade de interpretar línguas quando estas venham a ser proferidas como discurso. Não há incentivo à desordem, à bizarrice, ao ridículo.
Houve, sim, eventos bíblicos extraordinários que produziram efeitos corporais: quando da dedicação do Templo em Jerusalém, a glória do SENHOR tomou a Casa de tal forma que os sacerdotes não conseguiam se pôr de pé (I Rs 8.10,11); Ezequiel caiu sobre o seu próprio rosto ao contemplar a glória do SENHOR (Ez 1.28; 3.23); Daniel desfaleceu em virtude das visões celestiais recebidas (Dn 10.7-21); Pedro, Tiago e João caíram diante da Transfiguração (Mt 17.12-6); João caiu “como morto” aos pés de Cristo glorificado (Ap 1.17). No entanto, trata-se de eventos especiais, que não podem servir de prescrição para a Igreja, segundo a regra hermenêutica de que “não se deve doutrinar a partir de narrativas”, ressalvando-se os momentos em que a própria narrativa se constrói com propósito doutrinário (caso de Lucas-Atos, em linhas gerais).
Desde, pelo menos, a década de 1990 o pentecostalismo brasileiro tem absorvido influências de igrejas da Terceira Onda como se fossem experiências essencialmente pentecostais, e igrejas chamadas “neopentecostais” têm influenciado a Assembleia de Deus (deveríamos ser mais neotestamentários e nunca “neopentecostais”, tendo em conta o que se acha debaixo do imenso guarda-chuva “neopentecostal”).
Além disso, e para nossa imensa tristeza, o pentecostalismo brasileiro tem sido minado também a partir de algumas igrejas e entidades assembleianas, como certos congressos de última hora, onde pregadores supostamente pentecostais deitam ideias amalucadas e promovem performances destrambelhadas, que nada têm que ver com a fé pentecostal, de modo que as novas gerações acabam imitando péssimos exemplos.
Por tudo o que ora se registra, deixo aos leitores as mesmas conclusões que pontuei aos irmãos presentes à referida EBO, com uma proposta ao final, que, da mesma forma, dirigi ao público presente. Vejamos:
1 – Se realmente consideramos que a Bíblia é nossa regra de fé e conduta, sendo autoritativa e suficiente, devemos rejeitar o ensino de que manifestações do Espírito não precisam ter fundamento bíblico.
2 – A hermenêutica pentecostal precisa estar firme em sua posição de hermenêutica cristã ortodoxa, sem se pautar pela experiência individual ou coletiva, mas por regras aceitáveis e pelo método histórico-gramatical, consagrado pela Reforma Protestante e referido pela Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil.
3 – Precisamos encurtar a distância entre a teologia oficial e a teologia popular, o que passa pelo controle do púlpito e pelo respeito aos elementos componentes do culto neotestamentário.
4 – Não podemos proibir as manifestações genuinamente espirituais nem desprezar as emoções em si ou os fatores sociais envolvidos, mas atuar de forma pastoral, com base numa boa teologia, para mostrar o que de fato é pentecostalismo, distinguindo-o do que não é.
5 – Precisamos incentivar a busca do dom de discernimento de espíritos, pouco popular em nosso meio.
6 – Não devemos cair no Espírito – o Espírito é que biblicamente cai nos crentes em Jesus.
Por fim, a proposta do autor é que o reteté seja explicitamente reconhecido como movimento herético, alheio ao pentecostalismo; que líderes adeptos do reteté sejam aconselhados a abandonar as práticas do movimento ou assumir a possibilidade de uma disciplina ética; e que os vocacionados ao diaconato e ao episcopado sejam orientados à ortodoxia pentecostal, sob pena de não serem ordenados a tais ofícios eclesiásticos.
*Para uma reflexão sobre oralidade e corporalidade no campo pentecostal, sugiro a leitura do artigo acadêmico “Pentecostalidade e pentecostalismo: fatores de crescimento associados à oralidade”, escrito pelo teólogo assembleiano Claiton Ivan Pommerening e publicado na Azusa – Revista de Estudos Pentecostais, no seguinte endereço: http://azusa.faculdaderefidim.edu.br/index.php/azusa/article/view/8/7
**Declarações presentes em vídeo disponível no Youtube, assim como nos casos das citações aos pastores Antonio Gilberto, Elienai Cabral, Elinaldo Renovato de Lima, Daniel Nunes da Silva, David Wilkerson e Paulo Romeiro (todos pentecostais, é bom lembrar).
***A citação do missionário e pioneiro pentecostal Gunnar Vingren foi extraída do artigo “Gunnar Vingren incentivou ‘cultos’ extravagantes?”, da lavra de Gutierres Fernandes Siqueira e disponibilizado no blog Teologia Pentecostal, no seguinte endereço: ttps://teologiapentecostal.blog/2015/10/31/gunnar-vingren-incentivou-cultos-extravagantes/
Fonte: Gospel Prime
Os textos que nos serviram como ponto de partida foram os de I Co 13.11; 14.20-33, 39,40 e Cl 1.26,27, cuja leitura recomendo – os de I Co referem-se ao exercício dos dons espirituais no culto, e os de Cl aludem ao “mistério”.
Sendo membro e ministro filiado a uma igreja pentecostal histórica (Assembleia de Deus), preocupo-me com algumas crenças associadas, na prática, ao Movimento Pentecostal, entre as quais se acha o denominado “reteté” (ou “repleplé”), o qual, embora estranho ao pentecostalismo histórico ou clássico, parece ser visto por muitos como a própria essência do pentecostalismo.
O reteté – uma praga surgida no seio das igrejas pentecostais na década de 1990 – caracteriza-se por comportamentos esquisitos durante o culto, erroneamente atribuídos ao exercício de dons espirituais num contexto de suposto derramamento do poder do Espírito.
Tais comportamentos anormais incluem cair ou dançar “no Espírito”, ficar estalelado no chão com os braços para cima, gritar (de alegria ou de angústia), urrar (como animais), deitar-se ou rolar no chão, sacudir-se, tremer compulsivamente, ficar em transe, sair correndo pelo salão da igreja, ropopiar, pular, movimentar o corpo para baixo e para cima, marchar, rir descontroladamente, espalmar as mãos e mover os braços de forma circular, entre outros. Algumas dessas atitudes lembram práticas de outras religiões, e já existem aqueles que, em reuniões da igreja, acham que precisam vestir roupa branca ou tirar os calçados dos pés quando assumem o púlpito.
Quando eu era criança, ouvia o termo “meninice” como forma de os assembleianos se referirem ao que hoje conhecemos por “reteté”. “Meninice” é vocábulo derivado do texto em que o apóstolo Paulo diz, tratando dos dons espirituais, que se comportava como menino na época em que era menino, vindo a agir como homem ao chegar à idade adulta (cf. I Co 13.11). Uma outra expressão utilizada pelos meus irmãos assembleianos para aludir a tal tendência era (e é) a mui eloquente (e bíblica) “fogo estranho” (cf. Lv 10.1-3).
A partir de textos como estes, os crentes e líderes assembleianos, de modo simples, mas arguto, reconheciam no reteté um fenômeno divorciado da fé pentecostal e próprio de crentes imaturos.
O termo “reteté” parece consistir numa onomatopeia derivada do som de pés batendo no chão, algo que se verifica frequentemente na atitude de adeptos desse movimento. Criou-se também, nesse meio, um dialeto próprio, que envolve termos como “canela de fogo”, “sapatinho de fogo”, “manto”, “fogo puro”, “terra”, “nébias”, num glossário utilizado tanto pelos praticantes do movimento como por alguns pentecostais clássicos, que o fazem comumente de maneira jocosa.
É importante reconhecer as razões pelas quais o reteté encontrou espaço no ambiente pentecostal, e talvez algumas dessas razões tenham cunho social, cultural e existencial: como as igrejas pentecostais são formadas principalmente por pessoas menos favorecidas, a pregação formal e a liturgia solene das igrejas históricas pode ter ensejado certo distanciamento entre a liderança e o povo, enquanto nas igrejas pentecostais há grande espaço para os leigos, que se manifestam pela oralidade e, no reteté, também pela “corporalidade”*, o que oferece uma sensação de pertencimento e de poder.
Diga-se, aliás, que um dos efeitos do reteté é o empoderamento de figuras aparentemente cheias do Espírito, não raro mulheres, ao lado das quais se veem pastores submissos, ao mesmo tempo encantados com tamanho “poder” e ávidos por auferir os benefícios de um público ampliado. Assim, mesmo igrejas que não ordenam mulheres ao pastorado acabam sendo, na prática, pastoreadas por algumas delas, sendo comum pessoas irem àquela igreja somente quando a irmã está ali “para revelar”.
Outro aspecto digno de nota é o abismo que existe entre três níveis de teologia pentecostal, como explicado pelo pastor e teólogo assembleiano Claudionor Correa de Andrade**: o nível oficial, o nível acadêmico e o nível místico.
Pensemos aqui no campo assembleiano, até porque se trata da maior igreja pentecostal (e evangélica) do Brasil, de onde surgiram tantas dissidências: enquanto o nível teológico oficial é aquele vertido nos livros editados pela CPAD (Casa Publicadora das Assembleias de Deus) e chancelados pelo Conselho de Doutrina da CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil), o nível místico é o popular, que nasce na vivência do povo; já o nível acadêmico tenta explicar o que acontece no mundo pentecostal, mas frequentemente de maneira pouco acessível ao público comum.
De toda maneira, uma simples pesquisa histórica é capaz de demonstrar que a Assembleia de Deus, tanto em sua teologia oficial como na prédica de seus pioneiros, não endossou o “fogo estranho”, assim como, em nossos dias, não o ratifica.
É certo que o pioneiro Gunnar Vingren passou por experiência incomum de riso (alguns chamam de “riso santo”), mas como reação emotiva à obra de Deus, e não como dom espiritual, marca do pentecostalismo ou experiência que deva ser normativa para o cristão.
Neste passo, chamemos à baila um depoimento do próprio missionário Gunnar Vingren sobre algo que testemunhou em Criciúma-SC***:
Primeiro cantaram um hino. Depois todos tiraram os sapatos e se deitaram no chão num círculo. Depois que todos haviam orado, começaram a pular e a dançar durante mais ou menos meia hora. Depois se puseram de joelhos outra vez e oraram. Eu os exortei a que deixassem essa coisa de dançar, pois isso não está escrito no Novo Testamento, e era uma bobagem que eles deviam abandonar. [Mensageiro da Paz, Ano 79, Número 1.494 – Novembro de 2009].
A Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil (publicada em abril de 2017) em nenhum momento aprova ou anuncia como marca do pentecostalismo aquilo que configura a essência do reteté. Não há no seu cap. XX (dedicado à doutrina do Espírito Santo) uma linha sequer defendendo tal conceito.
Há na internet pronunciamentos de diversos pastores assembleianos brasileiros contra o reteté: Antonio Gilberto, Claudionor Correa de Andrade, Elienai Cabral, Elinaldo Renovato de Lima, Daniel Nunes da Silva. De maneira muito clara e contundente, esses doutos pastores expressam a teologia oficial de nossa denominação. Semelhantemente, o célebre pastor pentecostal David Wilkerson criticou duramente esses cultos extravagantes.
Na história dos avivamentos, houve episódios caracterizados por comportamentos fortemente emocionais, o que não é exclusivo ao mundo pentecostal. Todavia, com o tempo as manifestações tendem a ser explicadas à luz da Bíblia ou controladas sob a supervisão da liderança pastoral, não podendo ser o centro das atenções no culto, nem descambar para o exagero.
Como explica o teólogo pentecostal Paulo Romeiro, movimentos religiosos passam por fases de entusiasmo, organização, educação e estagnação. Podemos afirmar que o reteté seria uma forma de ampliar exagerada e artificialmente a fase do entusiasmo, desconsiderando os bons frutos da educação teológica – é claro que não queremos ser vencidos pela fase da estagnação, mas para isso precisamos de verdadeiro avivamento, e não de “fogo estranho”.
O movimento do reteté parece muito com a “Benção de Toronto”, movimento surgido no início da década de 1990 no seio da Comunidade Vineyard (Videira) do Aeroporto de Toronto, igreja dirigida pelo pastor John Arnott e sua esposa Carol. A matriz da Comunidade Vineyard, pastoreada à época pelo americano John Wimber, é uma igreja da chamada “Terceira Onda”, muito diferente das igrejas pentecostais históricas, classificadas como sendo da “Primeira Onda”.
Em seu livro “Quando o Espírito vem com poder” (publicado pela ABU Editora), John White trata das manifestações espirituais com uma abordagem bíblica, histórica e psiquiátrica. Tendo conhecimento do Movimento de Vineyard, White busca discernir comportamentos biblicamente fundamentados daqueles que são meramente psicológicos ou até demoníacos.
Quanto à maneira de aferir se determinadas manifestações procedem de Deus, White sugere que se observem os “frutos” e também o “pomar”: os frutos são os efeitos que surgem a partir dali: se se produzem ou não mais evangelização, mais fervor, mais santidade, mais ética, mais desejo de conhecer a Bíblia; o pomar é o cenário em que ocorrem as manifestações, se caracterizado pela pregação da Palavra de Deus ou se condicionado por sugestões psicológicas, teatro ou palavras de incentivo a comportamentos bizarros.
Temos de deixar algo muito claro: não há na Bíblia nenhuma recomendação a que as igrejas pratiquem o reteté. E mais: não há personagens bíblicos que promovam o reteté em nome de Deus.
Pelo contrário, as recomendações do apóstolo Paulo quanto ao exercício dos dons espirituais falam de “ordem e decência”, da finalidade dos dons (edificação), da sujeição do espírito do homem ao próprio homem, da necessidade de ordenar e julgar as profecias, da necessidade de interpretar línguas quando estas venham a ser proferidas como discurso. Não há incentivo à desordem, à bizarrice, ao ridículo.
Houve, sim, eventos bíblicos extraordinários que produziram efeitos corporais: quando da dedicação do Templo em Jerusalém, a glória do SENHOR tomou a Casa de tal forma que os sacerdotes não conseguiam se pôr de pé (I Rs 8.10,11); Ezequiel caiu sobre o seu próprio rosto ao contemplar a glória do SENHOR (Ez 1.28; 3.23); Daniel desfaleceu em virtude das visões celestiais recebidas (Dn 10.7-21); Pedro, Tiago e João caíram diante da Transfiguração (Mt 17.12-6); João caiu “como morto” aos pés de Cristo glorificado (Ap 1.17). No entanto, trata-se de eventos especiais, que não podem servir de prescrição para a Igreja, segundo a regra hermenêutica de que “não se deve doutrinar a partir de narrativas”, ressalvando-se os momentos em que a própria narrativa se constrói com propósito doutrinário (caso de Lucas-Atos, em linhas gerais).
Desde, pelo menos, a década de 1990 o pentecostalismo brasileiro tem absorvido influências de igrejas da Terceira Onda como se fossem experiências essencialmente pentecostais, e igrejas chamadas “neopentecostais” têm influenciado a Assembleia de Deus (deveríamos ser mais neotestamentários e nunca “neopentecostais”, tendo em conta o que se acha debaixo do imenso guarda-chuva “neopentecostal”).
Além disso, e para nossa imensa tristeza, o pentecostalismo brasileiro tem sido minado também a partir de algumas igrejas e entidades assembleianas, como certos congressos de última hora, onde pregadores supostamente pentecostais deitam ideias amalucadas e promovem performances destrambelhadas, que nada têm que ver com a fé pentecostal, de modo que as novas gerações acabam imitando péssimos exemplos.
Por tudo o que ora se registra, deixo aos leitores as mesmas conclusões que pontuei aos irmãos presentes à referida EBO, com uma proposta ao final, que, da mesma forma, dirigi ao público presente. Vejamos:
1 – Se realmente consideramos que a Bíblia é nossa regra de fé e conduta, sendo autoritativa e suficiente, devemos rejeitar o ensino de que manifestações do Espírito não precisam ter fundamento bíblico.
2 – A hermenêutica pentecostal precisa estar firme em sua posição de hermenêutica cristã ortodoxa, sem se pautar pela experiência individual ou coletiva, mas por regras aceitáveis e pelo método histórico-gramatical, consagrado pela Reforma Protestante e referido pela Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil.
3 – Precisamos encurtar a distância entre a teologia oficial e a teologia popular, o que passa pelo controle do púlpito e pelo respeito aos elementos componentes do culto neotestamentário.
4 – Não podemos proibir as manifestações genuinamente espirituais nem desprezar as emoções em si ou os fatores sociais envolvidos, mas atuar de forma pastoral, com base numa boa teologia, para mostrar o que de fato é pentecostalismo, distinguindo-o do que não é.
5 – Precisamos incentivar a busca do dom de discernimento de espíritos, pouco popular em nosso meio.
6 – Não devemos cair no Espírito – o Espírito é que biblicamente cai nos crentes em Jesus.
Por fim, a proposta do autor é que o reteté seja explicitamente reconhecido como movimento herético, alheio ao pentecostalismo; que líderes adeptos do reteté sejam aconselhados a abandonar as práticas do movimento ou assumir a possibilidade de uma disciplina ética; e que os vocacionados ao diaconato e ao episcopado sejam orientados à ortodoxia pentecostal, sob pena de não serem ordenados a tais ofícios eclesiásticos.
*Para uma reflexão sobre oralidade e corporalidade no campo pentecostal, sugiro a leitura do artigo acadêmico “Pentecostalidade e pentecostalismo: fatores de crescimento associados à oralidade”, escrito pelo teólogo assembleiano Claiton Ivan Pommerening e publicado na Azusa – Revista de Estudos Pentecostais, no seguinte endereço: http://azusa.faculdaderefidim.edu.br/index.php/azusa/article/view/8/7
**Declarações presentes em vídeo disponível no Youtube, assim como nos casos das citações aos pastores Antonio Gilberto, Elienai Cabral, Elinaldo Renovato de Lima, Daniel Nunes da Silva, David Wilkerson e Paulo Romeiro (todos pentecostais, é bom lembrar).
***A citação do missionário e pioneiro pentecostal Gunnar Vingren foi extraída do artigo “Gunnar Vingren incentivou ‘cultos’ extravagantes?”, da lavra de Gutierres Fernandes Siqueira e disponibilizado no blog Teologia Pentecostal, no seguinte endereço: ttps://teologiapentecostal.blog/2015/10/31/gunnar-vingren-incentivou-cultos-extravagantes/
Fonte: Gospel Prime
terça-feira, 19 de junho de 2018
Estrada e Caminho
INTRODUÇÃO 
Esse é o salmo do peregrino. É o salmo que inspirou 
muitas gerações de pessoas na terra de Israel que reuniam-se uma vez no 
ano para irem ao templo adorar a Deus. Esse era o salmo do caminhante, 
era o salmo da jornada, o salmo da estrada. A medida em que eles iam se 
aproximando do templo, as alegrias do coração se manifestavam e o salmo 
era falado como uma jornada do caminho, como uma confissão da estrada de
 quem queria chegar num lugar da adoração. Nós não somos hoje pessoas do
 templo, o templo somos nós, não temos nenhuma devoção por pedras, 
colunas... Somos santuário de Deus, somos habitação de Deus no Espírito.
 Portanto, a leitura desse salmo já não nos serve como uma inspiração 
para quem está indo a um lugar de culto; seria de uma pobreza primitiva 
enorme a gente pensar assim. Mas, é sobretudo uma viagem existencial 
para esse lugar aonde Deus tem o seu pouso em nós e aonde nós temos o 
nosso pouso em Deus, aonde a gente se aninha em Deus no caminho. 
"Quão amáveis são teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos! 
A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo! 
O pardal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si, onde acolha os seus filhotes; 
eu, os teus altares, Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu! 
Bem-aventurados os que habitam em tua casa; louvam-te perpetuamente. 
Bem-aventurado o homem cuja 
força está em ti, em cujo coração se encontram os caminhos aplanados, o 
qual, passando pelo vale árido, faz dele um manancial; de bênçãos o 
cobre a primeira chuva. 
Vão indo de força em força; 
cada um deles aparece diante de Deus em Sião. Senhor, Deus dos 
Exércitos, escuta-me a oração; presta ouvidos, ó Deus de Jacó! Olha, ó 
Deus, escudo nosso, e contempla o rosto do teu ungido. 
Pois um dia nos teus átrios 
vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a 
permanecer nas tendas da perversidade. Porque o Senhor Deus é sol e 
escudo; o Senhor dá graça e glória; nenhum bem sonega aos que andam 
retamente. 
Ó Senhor dos Exércitos, feliz o homem que em ti confia." 
A GRANDE QUESTÃO DO CAMINHO, É COMO VOCÊ ANDA NO CAMINHO. 
A gente costuma associar a vida a uma estrada... Há 
aqueles jargões cansativos que toda hora nos acomete do tipo: na estrada
 da vida. E é, sem dúvida alguma, algo útil para nós, pensar que a vida é
 alguma coisa que se assemelha a uma estrada. A imagem da estrada é útil
 para entendermos a idéia do caminho. É útil porque aponta numa direção,
 numa via, e é útil porque há um caminho na estrada, mas não há uma 
estrada no caminho. Ou seja, a imagem da estrada me remete para o fato 
de que estou andando na direção de algum lugar, isso me é útil porque na
 vida não existe essa opção de não se estar andando. Não existe essa 
chance de não ser e de não ir. De outro lado, essa imagem da estrada é 
útil para nós porque nos mostra isso. 
No caminho de Deus que a gente anda, não existe uma 
estrada fixa, de modo algum. Na mente da gente, na maioria das vezes, 
quando se pensa em andar com Deus, o que se apresenta é uma idéia de uma
 estrada fixa. Aí alguém chega e diz assim: "Jesus é o caminho". Aí o 
sujeito imagina Jesus como sendo a BR-1 de Deus, um caminho fixo. Aí 
você diz: "Como é esse caminho?". Então a pessoa te apresenta o manual 
de doutrinas, e você aprende aquelas doutrinas. Chega até o ponto de 
pensar que Deus não te ouviu, se você não mencionar a Trindade na 
oração: "Pai eu te peço em nome do teu Filho, no poder do Espírito 
Santo". Se não usar as três nomenclaturas, Deus ficou chateado. Já vi 
gente ser interrompida ou, após uma oração, receber admoestação de 
alguém que disse: "Escuta, você não falou em nome de Jesus". Porque se 
você não completar o pacote da estrada com todas as sinalizações dela, 
parece que você não está indo a lugar nenhum. 
Nesse sentido, a imagem da estrada não nos ajuda, 
porque nós não estamos caminhando num caminho fixo. Ele disse: "Eu sou o
 Caminho, a Verdade e a Vida". Não há fixidez, o que há é movimento na 
Verdade que conduz a gente na direção da Vida sempre. A estrada física 
conforme eu lhes disse é fixa. O caminho espiritual, por seu turno, é 
vivo e não é fixo. No caminho espiritual não existe fixidez da estrada, 
ou seja, o modo de caminhar e ver a estrada espiritualmente muda o 
caminhante e muda a estrada. Numa estrada física, fixa, não interessa 
como o caminhante caminha, a estrada é a mesma. Ele pode caminhar de 
maneira apressada, ou lenta, agitada, angustiada, calma, contemplativa, 
olhando em volta ou de maneira completamente alienada, a estrada é a 
mesma... Ele pode botar no automático e deixar ir. No mundo espiritual, 
no entanto, não é assim, não existe absolutamente nenhum chão fixo, por 
isso é que o justo vive pela fé, pisa no chão da fé e sabe sobretudo 
isto: o modo de caminhar e ver a estrada espiritualmente, muda o 
caminhante e muda a estrada. A estrada, acerca da qual a gente está 
falando hoje, é a existência de cada um de nós. Cada um de nós está numa
 estrada. 
COMO É QUE A GENTE ESTÁ CAMINHANDO NESSA ESTRADA? 
A estrada é chamada à existência, conforme o caminho do caminhante. 
Isso que é extraordinário, porque a minha estrada não
 existe por si só, ela é chamada à existência conforme o meu caminhar. A
 estrada é conforme ela é andada, essa que é a verdade! Nesse sentido, a
 estrada física-fixa fica pobre para ilustrar o caminho espiritual. A 
estrada física não muda com os caminhantes, ela permanece a mesma. Mas a
 estrada espiritual é feita pelo andar do caminhante, é produzida pelos 
teus pés. Por isso não se pode apenas dizer para alguém: "Olha só, vê 
ali, Jesus é o caminho, anda nele". Porque isso não vai significar 
absolutamente nada para pessoa, a menos que a pessoa ande e experimente.
 Nós, cristãos, temos uma mentalidade religiosa que nos faz pensar em 
Jesus como Caminho relacionado a alguma coisa que se assemelha a uma 
estrada física e fixa. Mas não é. E aí é que está o engano, e é aí que 
as coisas vão ficando pedradas dentro de nós. Por que a gente fica 
pensando que pela entrada na igreja, pela via do batismo, pelo 
aprendizado dos nossos jargões, dos nossos chavões, pela capacidade que a
 gente tem de papagaiar e repetir coisas que a gente ouve, ou 
simplesmente, porque nós fomos batizados e temos o nome arrolado num rol
 de membros de uma igreja ou participamos de determinadas formas de 
culto com certa regularidade e nos dizemos cristãos, nós somos de Jesus.
 E não é. Não existe fixidez no caminho de Cristo a menos que você ande 
nele. Não é possível você simplesmente dizer: eu sou de Jesus; se você 
não anda no Caminho. 
Essa mentalidade religiosa é que pensa no caminho de 
Jesus como se fosse uma estrada e que a gente pode botar o pé nela e 
andar do jeito que quiser. No caso da estrada, se a gente for andando, 
dado o tempo e o espaço, a gente chega lá. Todavia, o caminho espiritual
 não é assim. Você pode ter tido todas as informações que lhe façam 
pensar que Jesus é o Caminho, mas se você não andar conforme o Caminho, 
você não está no Caminho. E é aí que o bicho pega dentro de nós. O 
interessante é que a estrada física, como eu disse, não muda com os 
caminhantes, mas a estrada espiritual é feita pelo caminhante. 
E aí eu queria que você pensasse comigo no seguinte: 
Lembra da parábola do bom samaritano? Ela ilustra perfeitamente o que 
estou querendo dizer, antes de chegar no salmo. O que a gente tem ali é 
um caminho, uma estrada, que ia de Jerusalém para Jericó... mesma 
estrada... está fixa lá até hoje. Você pode fazer o caminho romano 
antigo dos dias de Jesus até os dias de hoje, ela esta lá, com pedras 
daquele tempo, com cenários que não mudaram, uma estrada. Aí Jesus disse
 que, naquela estrada aconteceu uma coisa que envolveu cinco pessoas. 
Uma mesma estrada, cinco caminhos diferentes, uma mesma estrada que foi 
alterada pelo caminhar dos caminhantes. Um mesmo chão que virou chão 
diferente de acordo com a diferença da caminhada de cada um. O primeiro 
indivíduo que a gente encontra naquela estrada é um homem honesto, que 
saiu de casa e foi trabalhar. E no caminho para levantar o sustento para
 a vida, uma tragédia o acometeu. E ele foi deixado - largado, caído, 
assaltado, ferido, roubado, depravado e privado dos seus bens e do que 
tinha - ali abandonado. Caminho de um homem honesto roubado e largado na
 estrada. Tem um segundo homem nessa história, nessa estrada, é aquele 
que encontra o honesto que vem andando, querendo levantar o sustento 
para levar para casa e o assalta. Mesma estrada, um segundo caminho, 
caminho de violência, de expropriação, de covardia, de aproveitamento, 
de roubo, de engano. Mesma estrada, um homem honesto caído, um 
assaltante que se aproveitou da vida dele, e fez o seu próprio caminho. 
Aí passa uma terceira figura, um sacerdote, mesma estrada um terceiro 
caminho. O sacerdote vem e olha o homem, passa de largo, segue o seu 
caminho, caminho da indiferença, o caminho da incapacidade de se 
solidarizar, o caminho daquele que tem a sua agenda tão definida, que 
não tem espaço para qualquer parada. Esse é, sobretudo, o indivíduo que 
achava que a finalidade de cultuar a Deus num lugar sagrado, cumprindo 
uma liturgia, lhe era mais importante do que a parada para exercer a 
misericórdia com aquele que estava ali deitado. Uma mesma estrada, um 
outro caminho. Aí tem um quarto indivíduo que passa na mesma estrada, um
 levita. Ele viu o sacerdote passar e não fazer nada, e não fez nada 
também. Assumiu o caminho da omissão homicida, largou o indivíduo, fez 
que não viu, alienou-se, ligou o botão do auto-engano e se foi, 
insensível e impermeável. Aí vem um quinto indivíduo. Mesma estrada, um 
quinto caminho. Era um samaritano considerado herege pelos judeus, 
abominado pelo sacerdote e pelo levita. Mas ele passa e ele olha, e ele 
vê e ele se abaixa, ele socorre, ele cuida, ele pensa as feridas, trata 
delas, derrama sobre elas óleo e vinho. Cuida do indivíduo e o leva e o 
coloca numa estalagem e diz para o estalajadeiro: "Eu estou deixando 
aqui dinheiro, e se não for o suficiente, bota tudo na minha conta, 
porque quando eu passar de volta eu vou quitar tudo". A estrada para o 
primeiro homem era um meio de vida e ele caiu nela. Para o segundo homem
 era um meio de se aproveitar dos recursos do outro, era o caminho do 
aproveitamento e do engano. Para o terceiro homem, o sacerdote, era 
apenas uma estrada banal, aonde o que quer que acontecesse não lhe dizia
 respeito, porque ele era um desses indivíduos que se deslocava de um 
ponto para o outro e o que acontece no meio para ele não existe, ele é 
indiferente à vida. O outro é omisso, ele sempre olha para quem ele acha
 que lhe é superior na hierarquia, e diz: "Se ele não fez, porque que eu
 tenho que fazer". E há um aqui, para quem o caminho é o lugar de 
misericórdia, é o lugar onde a graça pode se manifestar e aonde o amor 
de Deus pode ser encarnado. Uma única estrada com caminhos diferentes. 
Isso nos ajuda entender e a discernir uma coisa fundamental para nós 
hoje: O caminho é chamado à existência pelo modo como eu ando. 
Nós estamos todos aqui reunidos em Brasília, no Hotel
 Fenícia, cada um veio de casa, e eu não sei o que vocês deixaram em 
casa. Mas eu sei uma coisa, que ainda que a vida seja completamente 
idêntica para nós, nós todos temos diferentes caminhos de vida. Você 
olha em volta e você vê pessoas tendo as mesmas oportunidades, 
respondendo a elas de modo completamente distinto, e vê pessoas não 
tendo oportunidades e respondendo a essas não-oportunidades de modo 
também completamente distinto. Anteontem, eu recebi uma carta quando eu 
ia chegando aqui. Um rapaz extremamente discreto me deu essa cartinha e 
falou: "Por favor leia, mas leia, leia mesmo". Eu já estava atrasado, 
entrando, e só dei um sorriso para ele e botei a carta no bolso. E a 
carta dele está aqui. Olha só como uma estrada que podia ser miserável 
se transforma num caminho de vida, por causa do pé de quem pisa, de como
 pisa, de como vê, de como enxerga, de como interpreta e de como chama 
coisa a existência para sua própria vida. "Estou lhe escrevendo essa 
breve carta a fim de externar o quanto sou grato a Deus pela sua vida, 
gostaria muito de um dia poder compartilhar com você de maneira mais 
detalhada minha caminhada. Pude saber quem era o meu pai biológico e 
conhecê-lo, foi uma experiência libertadora quanto a rejeição que tenho 
por parte do meu verdadeiro pai humano. Meu pai tem, o primeiro deles, a
 saúde regular apesar da doença e minha mãe nunca pegou uma gripe sequer
 por causa do HIV, isso é motivo de alegria. Deus tem feito muito em mim
 e o sonho que tenho como oração diante Dele é que eu me veja 
pacificado, fazendo de minha própria vida uma mensagem, mesmo que doa, 
assim como doeu aos profetas do Antigo Testamento. E assim como sei que 
tem doído em você. Mais uma vez muito obrigado Caio". 
Agora, pense em você. Eu faço atendimento de pessoas,
 e às vezes, a vontade que me dá é dar uma surra no cara. Tem pai em 
casa, mãe em casa, tudo bem, tudo certo, tudo legal, trabalho, emprego, 
saúde... Aí, há complexo para tudo que é lado, quanto mais a vida vai 
melhorando, mais complexificadas as pessoas vão ficando, mais cheias de 
manias. Lá na minha terra no Amazonas, nas barrancas dos rios, não 
existe depressão, o cara tem que cuidar de comer o pão, ralar mandioca, 
pescar de sol a sol, não tem tempo para se deprimir. Ou ele sai para 
trabalhar ou ele não come. Mas entre nós é diferente. A vida vai ficando
 mais complexa, a luxúria começa a habitar a alma, se instala no 
espírito como insatisfação crônica, e aí não interessa o que o indivíduo
 tem na estrada, a estrada pode ser a favor dele, pode ser ladeira 
abaixo, pode ser pastos verdejantes, pode ser como for. Aonde, ele puser
 o pé a estrada vai mudar, porque ele chama a existência o seu próprio 
caminho. Agora, você tem aqui, um cara com tudo para não estar se 
sentindo grato, para estar pedindo aconselhamento. Mas, ele chamou a 
existência um outro caminho, apesar da estrada ter sido perversa. A 
estrada foi horrível, mas o caminho está sendo lindo. A mesma estrada, a
 mesma vida, o mesmo chão, a mesma existência sob o mesmo sol, cercados 
pelas mesmas circunstâncias, caminhos diferentes. Porque o caminho está 
dentro de mim, o caminho está dentro de você. Isso foi só uma introdução
 para a gente chegar no salmo (risos). Só que eu prometo que eu serei 
mais rápido do que nunca. 
****
Quando a gente olha para o Salmo 84, vê que ele nos 
dá esse referencial, de como é que a gente - andando na estrada, 
qualquer estrada, na estrada comum, na estrada de todos - pode ir 
tecendo nosso próprio caminho. 
COMO FAZER NOSSO CAMINHO NA ESTRADA? 
1- Em primeiro lugar, ele diz que isso acontece 
quando eu carrego meu ser enternecido Ter um ser enternecido é a 
primeira coisa. Gente amargurada, vai pisar em chão de amargura, 
qualquer que seja o caminho. O salmo fala de um coração enternecido. 
"Quão amáveis são teus tabernáculos, a minha alma suspira e desfalece", 
ele está apaixonado, "o meu coração e minha carne exultam pelo Deus 
vivo". O que você tem aqui, existencialmente falando, é um ser 
enternecido por Deus. 
2- E, em segundo lugar, o salmo ensina que qualquer 
que seja a estrada pode virar caminho bom e caminho de Deus, se eu ando 
com a segurança de quem, se sabe, sendo capaz de encontrar pouso, 
refúgio, agasalho, apenas em Deus. Essa carta, que eu li hoje aqui, é de
 um indivíduo, que com doze anos disse que foi visitado por uma 
plenitude que ele não sabia nem qual era. Depois falou em línguas, ele 
disse: "O menor dos dons, e eu não achava que nem era crente o 
suficiente para receber aquilo, por causa da mentalidade de causa e 
efeito, de legalismo". Mas Deus violou o legalismo da criança, e 
derramou a graça dele sobre ela, razão pela qual hoje aos 24 anos de 
idade, a estrada é perversa, mas o caminho dele é bom. Olha só o que diz
 o verso 
3: "O pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para
 si, eu encontrei os teus altares Senhor dos Exércitos". Essa segurança 
de quem pousa no ninho de Deus, Deus é meu pouso. Boa parte da razão 
pelo qual a estrada se torna insuportável, é porque a gente vive 
fantasiando, e criando e projetando, e imaginando e elocubrando coisas e
 cenários e situações que não são reais. E a gente faz sempre isso para o
 lado de fora, a vida só nos é boa se ela for pintada com um cenário 
exterior que nos agrade. E quando isso acontece na maioria das vezes, a 
gente vem a descobrir que o mundo pode estar pintado de paraísos, se 
você não carregar no peito o caminho da vida, tudo vai perecer e 
desvanecer diante de você. O coração encontra significado no caminho 
quando ele diz para si mesmo:"Eu não tenho bem nenhum senão a Ti Senhor.
 Tu és meu pouso". Quando Deus é meu pouso, quando Nele eu tenho meu 
tesouro, o meu refugio, o meu ninho, o meu agasalho, aí nada me faltará.
 Quando eu acho que as coisas que me faltam, me precisam ser dadas para 
que eu me sinta satisfeito, eu posso ter todas as coisas e jamais 
estarei satisfeito. No entanto, no dia em que meu coração estiver 
enternecido por Deus e que todo meu sentido de segurança, de agasalho, 
de carinho, de conforto, de aconchego estiver Nele, não importa qual 
seja a estrada, vai virar um caminho de vida. 
4 - Mais do que isso, o salmo diz que a estrada se 
transforma num caminho de vida quando eu carrego dentro de mim um louvor
 existencial na casa do meu ser. Olha só que diz o verso 4: 
"Bem-aventurado Senhor os que habitam em tua casa, louvam-te 
perpetuamente". Lá no Velho Testamento, eu disse que era um caminho na 
direção do templo, hoje o templo está aqui. E é um chamado para um 
caminhar existencial de contentamento, aonde a gente olha a vida com 
outros olhos e aí qualquer estrada vai virar caminho de vida. 
5 - E além disso, qualquer estrada vira caminho de 
vida, quando eu levo em mim a atitude de quem transforma vales áridos em
 mananciais. Olha os versos 5 e 6: "Bem-aventurado o homem cuja força 
está em ti, em cujo coração se encontram os caminhos aplanados, o qual 
passando pelo vale árido faz dele um manancial, de bençãos o cobre a 
primeira chuva". Esse vale árido, lá no texto hebraico é chamado de vale
 de Baca, uma das alusões a ele está lá no livro de Juízes, quando se 
diz que o povo chorou em Boquim, depois que tinham pecado contra Deus e o
 anjo do Senhor veio e falou com eles face a face e eles choraram muito e
 chamaram aquele lugar de Boquim. É daí que vem a derivação para o Baca.
 Ele diz que bem-aventurado é aquele que passando pelo vale de Baca faz 
dele um manancial. ‘Vale de Baca’ era o vale de lágrimas, é o lugar 
aonde os chorões cresciam e crescem. Até hoje das imediações de 
Jerusalém, quando você chega no vale de Efraim, você ainda vê uma 
quantidade enorme de salgueiros e de chorões e também de árvores que 
derramam uma resina, daí o nome ter sido vale das lágrimas também, tanto
 por causa da ocorrência no livro de Juízes, como também por causa desse
 significado vegetal de um lugar aonde as plantas choram. O caminho para
 o templo passa por ali, que é também vale dos gigantes, vale de Efraim.
 E se diz: Bem-aventurado é homem que passando pelo vale de Baca, o vale
 árido, faz dele um manancial, de bençãos o cobre as primeiras chuvas. 
Mesma estrada, mas o caminho pode ser diferente. Estou dizendo isto 
porque eu fico chocado com o fato de que todos os dias eu ouço gente 
dizendo que é de Jesus e que está no caminho, mas você olha para vida do
 indivíduo... E isso não tem nada haver com ter, com possuir, com 
adquirir, com crescer do ponto de vista material. Tudo isso é ‘bobajada’
 que vem sendo ensinada por nós e para nós nas ultimas décadas. Todo 
essas coisas tem o seu lugar mínimo e Jesus disse que se nós nos 
atrelarmos muito a elas, corremos o risco de perder a alma e o coração. 
Elas estão ao nosso serviço e não nós serviço delas, e muito menos 
tendo-as como bens do nosso ser. Fazer isso é caminho de destruição, mas
 eu fico vendo as pessoas dizendo: eu tenho Jesus, eu sou alguém que crê
 nele. Mas como alguém disse hoje de manhã na hora do almoço: mas a 
gente não vê os resultados, não aparece nenhum resultado. Andar no 
caminho tem que produzir resultado. Se eu não puder ser de Jesus e na 
hora de passar no vale árido, no vale de Baca, no vale de lágrimas, 
transforma-lo num manancial, que fé é essa que me anima? Que caminho é 
este? Se eu não puder enfrentar a dor, a perda, a lágrima, com um 
bálsamo da Graça de Deus. Se eu não puder ter dentro do coração: a 
visão, a imagem, a fé, a certeza, a esperança de que eu posso cavar 
poços no deserto, porque Deus na sua Graça vai enchê-los, vai chover 
sobre eles, a minha estrada vai ser sempre uma estrada de morte, de 
amargura, de frustração, de decepção, de perda, nunca será caminho de 
vida, jamais. 
6 - A estrada vira caminho de vida também, quando eu 
levo em mim a consciência da mutualidade como mandamento da jornada. Ou 
seja, eu não estou andando só, eu preciso de você, e você de mim, é 
nessa troca que a gente vai. Subitamente o texto passa a ser plural no 
verso 7, e diz: "Vão indo de força em força, cada um deles aparece 
diante de Deus em Sião". É um ajudando o outro. Nesse caminho, 
infelizmente, o que a gente mais encontra é um passando a perna no 
outro, julgando o outro, medindo o outro, avaliando o outro, por isso 
que não é caminho, é só estrada. O que a gente precisa admitir é que a 
maioria de nós não está no caminho, a gente está na estrada da religião,
 e na estrada da religião é assim olho aberto. Conforme Jesus disse: 
símplices como as pombas e prudentes como as serpentes, porque tem 
fariseu na reta. Religião não te oferece um caminho, te oferece uma 
estrada e é bom você ser esperto. Agora nós estamos falando de caminho, e
 no caminho “um ao outro ajudou e ao seu próximo disse: Sê forte!” No 
caminho um levanta o outro. No caminho a gente não quer saber quem é o 
indivíduo caído, a gente só quer saber que ele está caído. No caminho o 
samaritano é o herói da história do amor fraternal. E ele não faz 
perguntas. No caminho não existe discussão religiosa, no caminho ninguém
 diz: "Você aceita Jesus antes de eu lhe fazer este bem?". No caminho 
ninguém diz: "Os assaltantes o assaltaram porque você não estava com o 
anjo do Senhor acampado ao seu redor". No caminho ninguém diz: "Olha se 
você fizesse a confissão positiva e dissesse: Eu declaro bandido, tu 
estás amarrado. Ele não teria te assaltado". No caminho a gente levanta,
 a gente se dobra, a gente cuida, a gente não faz perguntas, a gente 
carrega, a gente leva. No caminho não tem proselitismo, não tem prosa, 
não tem conversa fiada, tem ação, tem amor, tem misericórdia, tem graça,
 tem vida, tem gesto. A maioria de nós está na estrada da religião 
cristã, poucos de nós estamos andando no caminho de Jesus, e é só quando
 nos dermos conta disso que temos alguma chance de ser salvo da estrada,
 para poder, no chão da vida, ver o caminho mudar debaixo de nossos pés.
 Porque é o caminho da fé que chama o próprio caminho da vida à 
existência para nós. 
7 - E ainda, a estrada vira caminho, quando a gente 
leva consigo a certeza, de que há o Deus de poder na nossa vida e de 
graça nesse caminho. Os versos 8 e 9 fazem essa evocação dessas duas 
realidades de Deus: Senhor Deus dos Exércitos, dos Exércitos, do poder, 
escuta minha oração, presta ouvidos, ó Deus de Jacó - do cara ambíguo, o
 Deus do ‘vermezinho’, o Deus do homem que tem luz e que tem sombras, o 
indivíduo que carrega todas as dualidades da vida. No caminho, eu sei 
que eu conto com essa assistência: há poder e há graça. Isso não é 
retórica, isso é fato. E bem-aventurado é aquele que crê nisso e toma 
posse disso. 
8 - E a estrada seja ela qual for, vira caminho de 
vida, se eu ando com a consciência de que o que vale na vida não é 
quantidade, mas é qualidade. Eu achei tão bonitinho quando ele disse: 
"Passei aqui no concurso público e agora eu posso manter a mim mesmo". 
“Manter a mim mesmo!” Nós estamos tão empedernidos que a gente não 
consegue mais nem ter a sensibilidade de discernir a benção que 
significa manter a si mesmo. Comer o pão com dignidade, beber com 
dignidade. A gente acha que se for de Deus uma mansão nos aguarda no 
lago. Se você tiver aleluia! Convide os irmãos, me chame para ir lá eu 
vou com muita alegria. Mas pelo amor de Deus, não faça disso seu sonho 
de consumo. Paulo disse: "Tendo com que comer e beber, e vestir, e viver
 com dignidade, sejamos gratos". Bela essa singeleza: Deus me deu os 
meios de poder manter a mim mesmo. Essa gratidão muda todo o cenário no 
caminho. Quem não consegue olhar para vida com contentamento, jamais vai
 se contentar com coisa alguma na vida. "Eu aprendi a viver contente em 
toda e qualquer situação, tanto sei estar humilhado como ser honrado, 
tenho experiência de tudo, tanto de abundância quanto de escassez. Tudo 
posso Naquele que me fortalece". O que este cara está dizendo, é que 
tanto faz a cara da estrada, ele faz o caminho com contentamento no 
coração. O verso 10 nos diz isso: "Pois um dia nos teus átrios, vale 
mais do que mil". Qualidade vale mais do que quantidade. Prefiro estar a
 porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade. 
9 - E por último, a estrada se transforma no bom 
caminho quando eu ando com a certeza de que Deus é a luz do meu caminho,
 é o escudo, é a proteção da minha jornada. E que Nele eu posso confiar 
sem duvidar, porque Ele não sonega sua graça a mim, nem a ninguém. E a 
provisão de Deus para mim é sempre: bem. Olha só os versos 11 e 12: 
"Porque o Senhor Deus é sol". Sol, o Senhor Deus é sol. Você vai andar 
nesse caminho seja qual for a estrada, pode ter certeza alguns vão 
dizer: não estou vendo nada. Mas se você estiver andando no caminho 
conforme aquele que faz o seu caminho pisando no chão da graça e da 
misericórdia, esse vai dizer: "O Senhor Deus é sol e escudo, o Senhor dá
 graça e glória, nenhum bem sonega aos que andam retamente. Ó Senhor dos
 Exércitos, feliz o homem que em Ti confia". 
CONCLUSÃO 
Eu falei tudo isso apenas para falar o que vou dizer 
agora, e se você não ouvir o que eu vou dizer agora, não interessa o 
quanto você ouviu do que eu disse antes. O que eu quero te dizer com o meu coração mais amigo, mais irmão, é que a maioria de nós, apenas existe na estrada da religião.
 Para maioria de nós, Jesus é o líder da religião cristã. Por isso a 
gente não devia nem ficar chateado quando ele é colocado naquela lista 
dos 100 mais. Eu vejo os crentes chateados: botaram Jesus na lista dos 
100 mais, das 100 maiores personalidades da civilização humana. Eu digo:
 bem feito, vocês é que fizeram dele o líder do cristianismo. Então ele é
 colega de Maomé, de Buda, de Confúcio, de Zoroastro, de Kardec, ou de 
qualquer outro líder que apareça por aí. Esse é o Jesus da estrada, esse
 é o Jesus que a gente oferece num catecismo, que a gente dá num 
livrinho de discipulado. (Acho engraçado essa história de discipulado. O
 que que você está fazendo? "Discipulado". O que é isso? "Eu me reúno de
 segunda, quarta e sexta, com uma irmãzinha que abre aquele manual que o
 pastor escreveu, mal escrito. Na maioria das vezes, ele não sabe nem o 
que está acontecendo, ele copiou de algum americano, que é mestre em 
fazer receita. Porque os Estados Unidos foram os que desenvolveram essa 
fé de liquidificador, de manual eletrônico: quatros passos para 
salvação, doze para prosperidade, sete para pacificação, é tudo assim. É
 a fé da estrada. "Curva perigosa". "Chão derrapante". "Posto de 
gasolina a 30 km": é o congresso para qual o indivíduo vai. "Fast-food" é
 o culto. "Shopping a direita": são algumas igrejas que só vendem 
fetiche. Aí o cara fica pensando que isso é andar com Jesus. 
Discipulado... Onde é que se já viu discipulado ser 12 lições, 24, 320. 
Jesus disse “segue-me pela vida”, gente. Discipulado é aprendendo, 
quebrando a cara, arrebentando dente, levantando, socorrendo o caído que
 não tem nome, sendo socorrido na hora que você não esperou que ia cair.
 É aprendendo...) O Caminho gera Verdade, e a Verdade acontece na Vida. 
Não é nenhum outro manual. O caminho de Jesus é na vida. Discípulos de 
Jesus são formados não em cursos, mas no curso da existência. 
A maioria de nós ainda está na estrada da religião. O
 convite de Jesus é para você vir para o caminho da vida. E aí você vai 
descobrir que a estrada é mesma, que a vida é perversa, que a existência
 é absurda, que há todas as razões para ser nauseante e insuportável; 
que não há justiça mesmo, que as injustiças grassam, que o trabalhador 
pode sair para trabalhar e ser assaltado, o assaltante pode estar o 
tempo todo de olho simplesmente para ver a melhor hora de te tomar tudo.
 É o caminho dele, na estrada que é tua. O sacerdote pode passar e 
dizer: ‘Esse aí já não tem mais o que dar, se ele estivesse pelo menos 
rico, eu iria ajudar para ver se ele dava uma oferta lá na sinagoga.’ Aí
 vem o levita, "Eu sou discípulo do sacerdote", ele diz. "O sacerdote 
não fez nada, eu não vou fazer nada também, esse aqui não é o meu 
caminho". Ele pode até espiritualizar: "Não é a minha vocação". Está 
tudo tão esquizofrenizado, que o cara diz: "Não, o Senhor me chamou para
 interceder, eu vou andando pelo caminho, intercedendo por ele, que o 
Senhor mande alguém que cuide dele". Ai a gente fica achando, que nós 
somos os bons desta vida. E Deus ironicamente, Jesus de maneira irônica e
 caustica, elegeu para ser o herói do caminho, o anti-herói da nossa 
estrada. O samaritano, o herege, é o anti-herói da estrada da religião, e
 é o herói do caminho da vida. Hoje o que eu queria é que você fizesse 
uma decisão: se você quer continuar a ser um cara da estrada ou se você 
quer ser do caminho. Não há nenhuma promessa de que o mundo vai mudar, 
Jesus disse: "No mundo tereis aflições". A profecia está feita. "Mas 
tende bom ânimo, eu venci mundo". 
O milagre é que a estrada pode ser a mesma, mas o 
caminho será diferente. Porque você vai chamar o caminho à existência, 
conforme você pisa no chão da vida. Acaba aqui também a lamúria, o 
queixume. "Ai meu Deus porque que a vida foi tão madrasta para mim, 
quanta injustiça que eu sofro, logo eu que sou essa mulher devota, e 
santificada, que me preservo para o Senhor e só encontro canalha". 
Minha querida na estrada está cheio de canalha. Por 
que você não chama a existência o seu caminho, pisando de outra forma, 
olhando de outro modo, discernindo por outra perspectiva, entendo a si 
mesmo e aquilo que significa valor para você de outra forma? Hoje eu 
queria em nome do Senhor Jesus, convidar você a dizer: "Senhor, a 
estrada é comum para todos nós, ajuda-me a fazer o caminha da vida. E eu
 não quero ser um indivíduo da estrada religião que é física e é fixa. 
Eu quero caminhar no caminho da vida e da verdade em Jesus". Porque o 
caminho muda, conforme eu mudo no caminho, e o meu caminho vai mudar, 
conforme eu olho o caminho mudado. Bem-aventurado é o homem que passa 
vale árido e faz dele um manancial. Ele carrega no coração os caminhos 
aplanados. O caminho só muda do lado de fora, quando ele muda do lado de
 dentro. Não existe nenhum caminho do lado de fora que vai lhe ser bom, a
 menos que você carregue um bom caminho no coração. 
Esqueça a Jesus como estrada doutrinária e fixa. Ande
 no caminho vivo, onde o que vale é o seu modo de caminhar. Como é que 
você tem caminhado? O que vale é o seu modo de caminhar. É só o que 
vale, meu querido, é o seu modo de caminhar. 
A gente fica pensando que o que faz diferença é o QI.
 Nós somos muito bobos. Os seres mais maravilhosos que eu conheço chegam
 a ser quase estúpidos do ponto de vista do QI. São os Forrest Gump que 
estão por aí, que podem simplesmente dizer: olha, eu não sei muita 
coisa, mas eu sei o que é amar. O que importa é o seu modo de caminhar. A
 gente fica invejando o caminho dos perversos, dos malfeitores, fica com
 dor de cotovelo porque o cara é ladrão. "Ó Senhor porque Tu não me 
visita com a prosperidade do fulano". Você sabe quem é o fulano? Ele é o
 assaltante da estrada, meu amigo. Nessa estrada se você não tiver 
opção, se você não puder ser o bom Samaritano, peça a Deus para ser o 
roubado. Sério! Se você não puder ser o bom Samaritano, só não seja o 
bom Samaritano se você for o roubado. Porque ainda está em mil vezes 
melhor situação do que o sacerdote, o levita e o ladrão. Mas tem gente 
pedindo a Deus a benção de ser o ladrão. Quando eu fico vendo, de quem 
que as pessoas tem inveja, elas tem inveja do ladrão, do ladrão 
religioso, do ladrão político, do ladrão em vários lugares, em várias 
situações da vida. Ladrão existencial. Porque o modo do caminho que você
 ambiciona é o modo da morte. Tem gente que ambiciona o caminho do 
sacerdote, é aquele cara tão imponente. O sonho de consumo de alguns 
pastores é andarem cercados de 5 seguranças. "Olha que maravilha, tenho 
um carro blindado". Você pode imaginar um negócio desse, um homem de 
Deus que sonha em ter um carro blindado. O que eu já vi e ouvi de 
pastores dizendo assim: "O Senhor tem nos abençoado muito, a nossa 
igreja cresceu muito, cresceu tanto que inclusive eu tive que contratar 5
 seguranças". O sonho dessa cara é ser o sacerdote. Que caminho é esse? 
Ou o do levita, o egoísta, só pensa na sobrevivência e na alto 
preservação, o negócio dele é: não me tocou tá bom, to nem aí, to nem 
aí, to nem aí. 
Nessa estrada só tem dois caminhos de vida, ou do 
cara que quase foi morto porque estava andando no caminho da dignidade, 
ou do outro que não teve medo de ser morto porque estava andando no 
caminho da misericórdia. Isso muda tudo, altera tudo gente, você passar a
 olhar a vida assim. Teu pai não vai mudar, nem a tua mãe 
necessariamente, nem os vizinhos, nem a escola, nem o trabalho, mas você
 vai mudar, e o seu caminho vai mudar de maneira assustadora. 
Eu passei por muita coisa difícil nos últimos 7 anos,
 eu podia ter ficado completamente amargo, ter adoecido, 
irrecuperavelmente triste. Mas eu encontrei os teus altares Senhor dos 
Exércitos, Rei meu e Deus meu. 
Faz 3 meses que eu perdi um filho... amado! Estou 
morrendo de saudade dele... estou aqui com perfume dele... esse 
cheirinho aqui é dele... do perfume dele. 
Mas a vida tá bonita! 
Porque o caminho não é a estrada que faz, você é que 
faz. Na estrada pode acontecer tudo, mas tudo que aconteça não será 
nada, se não acontecer contigo, ou se você processar como vida, e não 
como morte. 
O caminho de Deus é caminho de graça, de 
misericórdia, quem olha a vida com graça e com misericórdia, jamais 
ficará amargo. Sempre vai entender que por trás de qualquer tranco, tem 
bondade, tem um bem guardado, tem um tesouro oculto, tem no mínimo uma 
palavra que diz: "o que eu faço tu não sabes agora, compreendê-lo-ás 
depois". 
Aí você começa a descobrir que seu coração vai 
melhorando, que a sua visão vai ficando mais clara, que o que tem valor 
salta, que o que não tem valor fenece. Aí você começa a descobrir que 
você não precisa de nada além de um ninho, e que esse ninho está em 
Deus. Suas inseguranças vão diminuindo, os lugares estranhos vão ficando
 diferentes. Até aquilo que você abomina, na hora que o caminho muda 
dentro de você, a estrada fica diferente fora de você. Até aquilo que 
antes lhe parecia completamente intolerável e insuportável, perde o 
significado de intolerabilidade. Quando o caminho mudou em ti e você 
pela fé pisou com atitude de gratidão e de contentamento no chão para 
ver que o caminho esta sendo feito pela gratidão e nem a estrada ruim 
resiste a chegada desse novo caminho. Agora isto acontece com Jesus 
enquanto a gente vive. Para que isso aconteça, você não pode ter medo de
 viver, você vai ter que viver! E viver pela fé, e viver 
desassombradamente e viver como quem contabiliza todas as coisas como 
lucro. Lucro. Tudo é lucro no caminho, meu querido. 
Se você ouviu e entendeu, e se o Espírito Santo falou
 com você e você hoje diz para si mesmo: "Ó Deus, me perdoa! A vida está
 tão feia, porque meus olhos são feios. A estrada está tão maligna, 
porque meus olhos estão impregnados de treva. Mas, eu aprendi hoje que o
 importante não é a estrada, o importante é como eu caminho. Ajuda-me a 
caminhar no caminho da vida, da gratidão, do contentamento, da fé, da 
misericórdia, da graça, e não deixe que eu fique impressionado com 
nenhuma estrada. Por que o importante é o modo como a gente caminha". 
Daqui a uns anos a gente vai olhar para trás, e o que
 vai ficar não é a inteligência, nem a burrice, não é a riqueza e nem a 
pobreza, não é afluência e nem a escassez; a única coisa que vai ficar é
 o modo como você caminhou. João Batista teve a sua cabeça cortada e 
oferecida num banquete num prato para satisfazer a volúpia provocada por
 uma dança. Aparentemente um trágico fim, mas o modo do caminho dele, 
fez Jesus dizer: “Em verdade vos digo que dos nascidos de mulher ninguém
 foi como João”. 
O que importa, meu querido, não é o que te façam; o 
que importa é o que você faz de você mesmo na presença de Deus. É o modo
 como você caminha. E se você hoje, recebeu o chamado do Espírito de 
Deus no fundo do seu ser, para não ficar mais impressionado com a 
estrada, vai fazer um compromisso de um caminhar diferente, pela fé, 
sabendo que o que importa é o modo do caminhar. E que se a gente 
caminha, conforme o caminho, cada passo chama a existência uma coisa 
nova e boa. Não importa qual seja a estrada, o caminho será de vida. 
Se você ficou convencido disso e quer hoje, fazer a 
oração daqueles que pedem a Deus para desintoxicá-los da estrada, das 
exterioridades, da religião, das comparações, das invejas, das ambições 
malignas, das frustrações que projetam o tempo todo para nós alvos 
inalcançáveis, enquanto o individuo deixa de aproveitar o pão nosso de 
cada dia, e a alegria de hoje, e a celebração de Deus hoje. Sabendo que 
grande não foi Nabucodonozor, maior do que ele foi João Batista, que 
comia gafanhoto, bebia mel silvestre e vestia roupa de camelo. 
Você tem que decidir se você quer uma estrada 
pavimentada, uma highway para os homens ou se você quer andar no caminho
 de Deus, onde a alma anda sempre rica não importa o que aconteça. Se 
você tomou essa decisão, isso vai revolucionar sua vida, vai mexer com 
todo sua existência. Se você olhar assim, apreciar assim, contemplar 
assim e souber que a vida vai em cada passo, está no modo, está no 
"como" da caminhada, aí bem-aventurado você será! 
Caio Fábio 
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